Ao viver o sonho americano, Chris Hughes descobriu seu pior pesadelo. Cofundador do Facebook, ele esteve nos bastidores da ascensão da rede social que ajudou a criar, ao lado de Mark Zuckerberg.

Mas mudou de lado quando entendeu que a empresa tomava proporções perigosas – para a sociedade e para a economia. Desde 2012, quando se desligou definitivamente da gigante, Hughes vem investindo tempo em criticar o acúmulo de poder no Vale do Silício.

Agora, além de tempo, Hughes resolveu investir também dinheiro. Na última quinta-feira, 17 de outubro, o empresário anunciou o lançamento do Economic Security Project, um fundo antimonopólio de US$ 10 milhões.

A iniciativa conta com o apoio de filantropos liberais, como o homem por trás da Open Society Foundations, George Soros, e da Omidyar Network, instituição fundada pelo criador do eBay, que financia o site The Intercept.

Para estimular a competição e um ambiente comercial mais sadio nos EUA, o Economic Security Project vai financiar, até 2021, pesquisas, políticas e organizações que combatam o monopólio – não só no setor de tecnologia.

"Nos últimos 20 anos, mais de 75% das indústrias americanas, de milho às farmacêuticas, experimentaram um aumento de concentração, com o tamanho médio das empresas públicas triplicando", diz o site do projeto.

Sobre isso, Hughes declarou em comunicado oficial que "interesses corporativos estão no controle do sistema político e econômico há muito tempo", e diz ainda que "esta é a hora e a oportunidade de mudar essa realidade".

O lançamento do projeto acontece cinco meses após Hughes publicar um longo texto opinativo no jornal The New York Times, em que defendeu a "quebra" e a regulamentação do Facebook.

Mark Zuckerberg, CEO e fundador do Facebook

Para ele, seu ex-companheiro de Harvard, Mark Zuckerberg, tem nas mãos mais poder e influência que qualquer outra pessoa no setor privado ou governamental, o que sufoca a inovação e prejudica os consumidores. 

A influência do Facebook, na visão de Hughes, alcançou uma dimensão assombrosa, muito além da que possui qualquer outra empresa no setor privado ou público, pois “controla três plataformas essenciais da comunicação (Facebook, Instagram e WhatsApp) que bilhões de pessoas usam todos os dias”.

Afiado, o discurso de Hughes encontra eco em camadas importantes do atual governo americano, que tem conduzido uma série de investigação contra as principais companhias do Vale do Silício.

Há poucos meses, o próprio Facebook foi condenado a pagar uma multa recorde de US$ 5 bilhões por violação de privacidade. Ainda no centro de inquéritos que apuram questões de segurança e monopólio, a rede social de Zuckerberg divide a berlinda com Amazon, Apple e Google. 

Não à toa, a discussão tomou as plataformas dos possíveis candidatos à presidência americana. Elizabeth Warren, que lidera a corrida no lado dos democratas, é quem mais levanta a bandeira da "quebra" das big tech.

Como Hughes, ela também defende que o Facebook seja separado do Instagram e do WhatsApp, além de querer proibir a Amazon de comercializar os próprios produtos no marketplace que opera.

Experiências fora do Facebook

Formado em história e literatura por Harvard, Chris Hughes trabalhou no Facebook de 2004 a 2008, deixando a rede social para dirigir a estratégia online da campanha presidencial de Barack Obama.

Em 2010, o executivo consolidou suas diferentes experiências em um projeto só, o Jumo, a primeira rede social para conectar organizações sem fins lucrativos e doadores.

A influência do Facebook, na visão de Hughes, alcançou uma dimensão assombrosa, muito além da que possui qualquer outra empresa no setor privado ou público

Na época, Hughes dizia que o objetivo era tornar a plataforma uma espécie de Yelp da caridade, onde os usuários pudessem avaliar as instituições com as quais colaboram. 

Hoje, a plataforma está desativada e o usuário é redirecionado para o site da Global Giving, uma comunidade de financiamento coletivo. O nome de Hughes não é mencionado em nenhuma área desta organização.

Para estimular sua veia empresarial, Hughes apostou alto na compra do The New Republic, uma revista de tendência liberal, em 2012. Em diversas ocasiões, ele falou de seu fracasso à frente à publicação, assumindo que investiu muito e de maneira precipitada. Ele anunciou a venda do veículo no começo de 2016.

Fracassos e sucessos de tão grandes proporções deram a Hughes pontos de vistas diferentes do mercado e da sociedade americana, tornando-o um palestrante requisitado e um conselheiro respeitado – daí sua participação no conselho da plataforma de conteúdo Upworthy.

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