A Covid-19 silenciou o toque das campainhas em boa parte das bolsas de valores em todo o mundo, incluindo a brasileira B3. O avanço do vírus trouxe, em contrapartida e, naturalmente, a redução do apetite dos mercados para as aberturas de capital.

Nos próximos dias, no entanto, esse cenário deve dar seus primeiros sinais de reaquecimento. Ao menos nos Estados Unidos, onde oito ofertas públicas iniciais (IPO) estão programadas para essa semana.

A agenda inclui as biofarmacêuticas Applied Molecular Transport, Pliant Therapeutics, Legend Biotech e Calliditas Therapeutics, a chinesa Dada Nexus, plataforma de delivery, e a Shift4 Payments, processadora de pagamentos. Os grandes destaques, porém, são a Warner Music e a ZoomInfo, empresa de dados usados em marketing.

Juntas, as duas companhias estimam captar US$ 2,5 bilhões em seus IPOs, programados, respectivamente, para quarta e quinta-feira, na Nasdaq.

Levando-se em conta todos os processos, a expectativa é de uma captação de cerca de US$ 3,6 bilhões, o que configuraria a melhor semana do ano para as ofertas públicas no mercado de capitais dos Estados Unidos, de acordo com a consultoria Dealogic.

O calendário tem ainda o reforço do IPO da NetEase, empresa chinesa de internet. Programada para sexta-feira na Bolsa de Hong Kong, a oferta tem a expectativa de levantar US$ 2,8 bilhões.

Com o plano de vender 70 milhões de ações na faixa de preço de US$ 23 a US$ 26, a Warner busca uma avaliação entre US$ 11,7 bilhões e US$ 13,3 bilhões no processo liderado pelo Morgan Stanley, Credit Suisse e Goldman Sachs. Já a ZoomInfo irá vender 44,5 milhões de papéis, entre US$ 16 e US$ 18.

Sob a ótica de Wall Street, o sucesso desses IPOs pode abrir caminho para que outras empresas decidam retomar o roteiro para o mercado de capitais nos próximos meses.

Segundo reportagem do The Wall Street Journal, conversas mantidas pela Warner e a ZoomInfo com potenciais investidores, antes da crise, deram mais segurança para dar sequência a esses processos.

Com a chegada da pandemia, as duas empresas realizaram roadshows virtuais, por meio de videoconferências, buscando convencer os investidores a comprarem suas ações.

Juntas, Warner Music e ZoomInfo estimam captar US$ 2,5 bilhões em suas aberturas de capital

A Warner negocia com a gigante chinesa Tencent para ser um de seus investidores-âncora na oferta. Já os fundos BlackRock, Dragoneer e Fidelity devem cumprir esse papel no caso da ZoomInfo.

Em seus prospectos, as duas empresas deram sinais de que estão resistindo aos impactos da Covid-19. Apesar de afirmar que espera um crescimento lento ou mesmo uma queda na entrada de novos clientes em sua plataforma, a ZoomInfo destacou que o valor dos contratos de novos clientes teve um crescimento de 87% em abril, na comparação com igual período de 2019.

Já a Warner reportou um crescimento de 12% em sua receita de streaming, em abril. O grupo, que tem em seu catálogo artistas como Bruno Mars, Ed Sheeran e Katy Perry, apurou uma receita de US$ 4,48 bilhões em seu último ano fiscal. No período, o lucro foi de US$ 259 milhões.

No Brasil

No mercado brasileiro de capitais, o silêncio instaurado desde a chegada da Covid-19 foi interrompido em 15 de maio, com a abertura de capital da Allpark, dona da rede de estacionamentos Estapar. A companhia captou R$ 345 milhões em sua oferta, que precificou sua ação em R$ 10,50. Na segunda-feira, 1⁰ de junho, os papéis da empresa encerraram o pregão na B3 negociados a R$ 9,80.

Antes da pandemia, 2020 prometia uma movimentação recorde de IPOs no País. Entre janeiro e meados de fevereiro, quatro empresas já haviam testado o apetite dos investidores: Locaweb, de tecnologia; Priner, de serviços industriais; e as incorporadoras Mitre Realty e Moura Dubeux. Somadas, as quatro ofertas captaram cerca de R$ 3,63 bilhões.

No mercado brasileiro, o silêncio instaurado desde a chegada da Covid-19 foi interrompido em 15 de maio, com o IPO da Allpark, dona da rede de estacionamentos Estapar

Além dessas companhias, ao menos 26 empresas estavam na fila para seguir o mesmo caminho. Construtoras e incorporadoras como Cury, Pacaembu Construtora e You Inc.; varejistas como Petz e Quero Quero; e nomes como Caixa Seguridade, BV e Vamos, de locação de máquinas e equipamentos, já haviam protocolado seus registros.

Boa parte dessas empresas suspendeu esses processos até uma reavaliação, com prazos entre o fim de 2020 e o início de 2021.

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