Tormento no mundo inteiro, a inflação ganhou peso político nos EUA e poderá ajudar o presidente Joe Biden a driblar sua baixa popularidade, a manter o controle do Congresso nas eleições de meio de mandato previstas para 8 de novembro e levar adiante o maior programa climático da história dos EUA.

No domingo, 7 de agosto, o Senado aprovou a “Lei de Redução da Inflação”, um pacote de medidas de US$ 430 bilhões destinados a combater mudanças climáticas, a reduzir preços de medicamentos e a elevar impostos pagos por empresas.

A “Lei de Redução da Inflação”, que o governo Biden acredita mobilizará eleitores a favor dos democratas nas eleições legislativas, parte de um princípio: o governo economizará recursos, arrecadará mais, reduzirá seu déficit e o resultado será um freio na demanda que ajudará a baixar os preços de bens e serviços.

O projeto, que segue para a Câmara, preconiza que cerca de US$ 430 bilhões serão gastos em novos investimentos, viabilizando a redução do déficit orçamentário do governo americano.

O governo deverá investir em programas que visem a acelerar a transição para energia limpa, aumentar a produção doméstica de energia e reduzir as emissões de carbono em 40% até 2030. Consumidores de veículos elétricos também devem ser beneficiados.

O texto prevê que o seguro saúde dos norte-americanos mais idosos (Medicare) poderá negociar diretamente preços de medicamentos com a indústria farmacêutica para alguns de seus remédios mais caros. E estabelece um limite de US$ 2 mil por ano para despesas com medicamentos prescritos.

A arrecadação que ajudará a reduzir o déficit orçamentário deve vir da cobrança de novos impostos: alíquota mínima de 15% sobre grandes corporações e um imposto de 1% sobre recompras de ações.

Em avaliação há meses, o projeto da “Lei de Redução da Inflação” ganhou um trâmite acelerado nas últimas semanas, ante a proximidade das eleições de meio de mandato.

Esse pleito é realizado dois anos após cada eleição presidencial nos EUA e prevê a troca de todos os 435 deputados que compõem a Câmara e 34 de 100 vagas do Senado. Simultaneamente, 36 estados elegem governadores.

Essa eleição importa porque se os democratas perderem a hegemonia parlamentar que têm hoje, um Congresso mais republicano, com políticos considerados mais conservadores, pode dificultar a vida de Biden que tem uma pedra no sapato – a maior inflação em 40 anos – e mais dois anos de governo.

O órgão tecnicamente equipado com instrumentos para combater a inflação é o Fed, o banco central dos EUA. Mas se for leniente com a inflação – crítica que recebe há mais de um ano por ter demorado a iniciar o aperto monetário em meio à inflação escaldante – Biden terá sua imagem ainda mais desgastada com a perda do poder de compra dos americanos.

Se o Fed subir demais o juro, no entanto, poderá empurrar a economia para a recessão. E não só a americana. E a conta também pesará para Biden. A aprovação da “Lei de Redução da Inflação” no Senado dá pontos a Biden que conseguiu uma saída para fortalecer sua imagem.

Se vai dar certo ou não, são outros quinhentos. Negociar com a indústria farmacêutica não é simples. Cobrar mais imposto de corporações também não.