Quando a pandemia do coronavírus começou a se espalhar pelo Brasil e, aos poucos, o comércio em todo o País foi sendo fechado, o empresário Freddy Rabbat entrou em estado de alerta diante dos efeitos da medida.

Country manager da marca de relógios TAG Heuer no Brasil e presidente da Associação Brasileira das Empresas de Luxo (Abrael), ele imaginou que aquela poderia ser a última estaca no coração do já combalido setor.

A análise não era exagerada. Nos últimos quatro anos, mais de 50 empresas de luxo deixaram o Brasil. Afinal, por conta dos preços estratosféricos de seus produtos em comparação com os praticados no exterior, suas operações não eram competitivas.

Os impostos fazem com que os produtos cheguem aqui por quase o dobro do preço praticado lá fora. O fechamento das lojas seria mais um ingrediente nesse cenário devastador que já tinha feito com que grifes como Longines, Frederique Constant, Tissot, Swatch, Vacheron Constantin, entre outras, tivessem saído do País.

“Há muito tempo a gente vem alertando o governo que estamos perdendo mercado, deixando de gerar empregos aqui, por conta da elevada carga tributária”, diz Rabbat, que comanda uma entidade que representa 60 marcas.

Agora, com as lojas novamente abertas, Rabbat celebra um aumento das vendas, algo inimaginável antes do coronavírus. “No caso da TAG Heuer, vamos vender 60% a mais de peças do que vendemos no ano passado”, diz ao NeoFeed.

O salto no faturamento, por sua vez, vai dobrar neste ano e o responsável por isso é um outro tipo de fechamento: o dos aeroportos americanos para viajantes brasileiros e as muitas restrições dos destinos europeus.

“O Brasil é o maior exportador de consumidores do mundo”, diz Rabbat. “Para cada relógio vendido aqui no País, 15 relógios são vendidos para brasileiros lá fora. É muita coisa.”

Freddy Rabbat é country manager da TAG Heuer no Brasil e presidente da Abrael

Como as viagens internacionais foram interrompidas, os brasileiros se voltaram ao mercado nacional. “A pandemia deixou claro que existe, de fato, um mercado sendo perdido para o exterior”, diz ele.

A empresa, que conta com duas butiques e distribui para outras 60 joalherias, vende relógios que partem de R$ 9 mil e vão até R$ 300 mil. E, neste ano, o tíquete médio subiu 30%.

Rabbat explica que o aumento se deu pelo fato de que antes os consumidores compravam para dar de presente e agora os consumidores estão comprando para eles mesmos. “Antes da pandemia, esse cliente esperava viajar para comprar”, diz ele.

Mas o fenômeno que o empresário tem acompanhado é a chegada de clientes que nunca tinham comprado aqui no Brasil. “É esse que está trazendo o crescimento para a gente”, diz Rabbat.

Por aqui, diz o empresário, marcas como Rolex e a própria TAG, conseguem praticar preços iguais aos do exterior, porque as empresas perceberam a importância de subsidiar as operações para se manterem no País. “E muitos consumidores não sabiam disso”, afirma ele.

Mas, o efeito dos últimos anos, perdendo clientes para o mercado externo, é devastador. “O melhor ano do Brasil foi em 2008”, diz César Rovel, especialista em relógios e fundador do site Relógios & Relógios. Naquele ano, de acordo com dados da Federação da Indústria de Relógios Suíços, o Brasil importou 62 milhões de francos suíços em relógios. No ano passado, foram 30,6 milhões de francos suíços.

Neste ano, o mercado encolheu ainda mais. Considerando janeiro a setembro, a queda é de 37,4%. A queda acontece também porque muitas marcas deixaram o Brasil neste ano. Foram grifes como Panerai, IWC e Jaeger LeCoultre. O Brasil, é verdade, regrediu, mas sempre há oportunidade de resgatar o tempo perdido.

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