Ao longo de quase quatro anos, Julia Figueiredo abriu portas para o Silicon Valley Bank, o banco que financia as principais startups do Vale do Silício e passou a atuar em regiões e em cidades onde não estava presente.

Primeiro, com o lançamento de um fundo de venture debt de US$ 30 milhões para a América Latina. E, depois, estreando o escritório do banco em Miami, cidade que está se tornando um importante hub de empreendedorismo nos Estados Unidos.

Agora, Figueiredo vai abrir mais uma porta, mas em outra empresa. Ela está deixando o Silicon Valley Bank e assumindo uma nova função no Partners for Growth (PFG), uma gestora com US$ 750 milhões em ativos sob gestão que vai criar uma equipe para investir em dívida para startups na América Latina.

“Vou ficar na ponta aérea Miami e São Paulo, mas passando mais tempo no Brasil, onde devemos montar uma equipe”, diz Figueiredo, com exclusividade ao NeoFeed.

O PFG atua em venture debt e tem uma carteira de mais de 200 clientes. A gestora já captou seis fundos, sendo o mais recente de US$ 325 milhões, com mandato para investir em todas as regiões do planeta. É dele que sairá os recursos que serão usados para fazer investimentos na região latino-americana.

Com sede em Tiburon, cidade que fica 20 minutos ao norte de São Francisco, o coração do Vale do Silício, o PFG era parceiro do Silicon Valley Bank e já coinvestia com o banco das startups na América Latina.

Foram, até agora, dois investimentos na região latino-americana. O primeiro deles na Tribal Credit, uma fintech mexicana que recebeu US$ 40 milhões e tinha o Softbank e o Endeavor Catalyst como investidores. O segundo foi na chilena Suma SaaS, que desenvolve uma plataforma financeira para pequenas e médias empresas, faz parte do portfólio do Riverwood Capital e levantou US$ 10 milhões em dívida.

“Estou impressionado com a qualidade dos empreendedores e das companhias que encontramos na região”, afirma Andrew Kahn, cofundador e CEO do PFG, em nota. “Acredito que temos uma enorme oportunidade na América Latina.”

Agora, o PFG terá uma atuação mais direta. A meta é emprestar dinheiro para até 10 empresas no período de 12 meses. O tamanho do cheque pode variar. Para empresas de tecnologia, o valor vai de US$ 2 milhões a US$ 25 milhões. Em fintechs, ele aumenta e fica entre US$ 10 milhões e US$ 50 milhões.

O alvo serão empresas de growth, que tenham receitas recorrentes e uma boa base de acionistas. Figueiredo diz que negocia com duas empresas na América Latina – uma na Colômbia e outra no Brasil – as primeiras operações de dívida da PFG nesta nova fase.

O PFG surgiu em 2004, mas tem suas origens em meados da década de 1980. Na época, os sócios fundadores da gestora, Kahn e Don Campbell, administravam a prática de empréstimo de risco do banco de investimento em tecnologia Hambrecht & Quist, baseado em São Francisco, que foi adquirido pelo J.P. Morgan, em 1999.

Atualmente, o PFG tem operações no Canadá, Reino Unido, Israel, Cingapura, Coreia do Sul, Austrália e Nova Zelândia. Agora, coloca os dois pés na América Latina, uma das regiões que mais crescem no mundo no quesito investimentos de risco.

No ano passado, as startups da região captaram US$ 19,5 bilhões em aportes de venture capital, o triplo de 2020, segundo dados do Crunchbase. Mais: a América Latina ultrapassou o sudeste asiático como destino de investimento para startups no primeiro semestre de 2021, segundo dados da Global Private Capital Association.

Essa “enxurrada” de capital fez com que os negócios ficassem mais sofisticados. E modalidades pouco conhecidas de financiamento começaram a ganhar espaço no cardápio das startups da região.

Entre elas, o venture debt, uma forma de levantar recursos sem a necessidade de os empreendedores serem diluídos, como acontece em uma rodada tradicional de venture capital. Na prática, é uma dívida que precisa ser paga em algum momento – em uma nova rodada, em um evento de liquidez ou com a geração de caixa da startup.

O mercado brasileiro está a cada dia ganhando mais competidores nessa arena. A gestora pioneira Brasil Venture Debt, que já emprestou dinheiro para 11 startups, como Ambar, SoluBio, Digibee e Dr. Jones, está captando um novo fundo que pode chegar até R$ 300 milhões.

“Será um fundo mais abrangente”, disse Gabriela Gonçalves, sócia da Brasil Venture Debt, em entrevista ao NeoFeed, em janeiro deste ano. “Estamos enxergando que o universo de crédito para startups é mais amplo.”

A Galapagos Capital, gestora fundada por Carlos Fonseca, ex-sócio do C6 Bank e do BTG Pactual, atua também com venture debt. E os grandes bancos de investimentos começaram a enxergar a dívida como um produto cada vez mais importante para as startups, tentando emular a estratégia do Silicon Valley Bank no Brasil.

Um exemplo é o BTG Pactual, que está desde 2019 atuando nessa área. Outro é o Itaú BBA, que também passou a emprestar às startups na modalidade de venture debt. Ambos querem ser “amigos” das startups antes dela se tornarem empresas grandes. A chegada do PFG torna essa disputa ainda mais acirrada.