Braço direito de Warren Buffett na Berkshire Hathaway, Charlie Munger morreu nesta terça-feira, 28 de novembro, aos 99 anos, informou, em comunicado, a gestora americana.
Munger começou sua carreira no mercado de investimentos em 1962 e, 16 anos depois, ingressou na Berkshire Hathaway, onde assumiu o posto de diretor. Já em 1993, ele foi nomeado vice-presidente da empresa, cargo que ocupou desde então.
No posto, o investidor americano conquistou a confiança de Buffett e notoriedade como seu fiel escudeiro, ao mesmo tempo em que se acostumou a fazer um bom contraponto à figura do megainvestidor, mais afeito aos holofotes.
Essa relação começou a ser construída, porém, bem antes deles dividirem as teses de investimento na gestora. Os dois se conheceram em 1959, durante um jantar em Omaha, cidade do estado de Nebraska e terra natal da dupla.
Munger veio ao mundo seis anos antes que o sócio e amigo, em 1º de janeiro de 1924. E, num sinal da parceria que se estabeleceria décadas depois, ainda menino, ele chegou a trabalhar na mercearia do avô de Buffett.
Formado em matemática pela Universidade de Michigan e em direito, em Harvard, Munger deixou uma boa impressão em Buffett já no primeiro contato que travaram. E a recíproca, ao que tudo indica, é verdadeira. Ao menos essa é a percepção de Susan Buffett, esposa do megainvestidor.
“Acho que Warren sentiu que Charlie era a pessoa mais inteligente que ele já conheceu. E acho que Charlie sentiu que Warren era a pessoa mais inteligente que ele já havia conhecido”, afirmou Susan, em uma entrevista concedida em 1998.
Essa sintonia foi reforçada anos depois na Berkshire Hathaway. E, no dia a dia, se traduzia no papel bem dividido entre os dois investidores. Buffet, a faceta mais conhecida perante o mercado, não se furtava a ouvir – e a seguir – os conselhos de Munger nos bastidores.
Foi assim, por exemplo, quando Munger o convenceu a comprar a See’s Candy Shops, em 1971, por um preço “extravagante”, segundo Buffett, e equivalente a três vezes o patrimônio líquido da loja de chocolates. Nas décadas seguintes, a rede geraria cerca de US$ 2 bilhões em lucros para a Berkshire.
“Essa aquisição pôs fim à minha busca por investimentos em empresas medíocres a preços de pechincha e me colocou na busca de negócios esplêndidos a preços razoáveis. Charlie vinha incentivando esse curso há alguns anos, mas eu aprendia devagar”, escreveu Buffett, em 2015.
Não foram poucas as oportunidades em que Buffett reconheceu a influência do amigo e parceiro. Em algumas delas, ele chegou a mencionar, inclusive, Benjamin Graham, seu mentor no mundo dos investimentos, para ressaltar a importância de Munger para a Berkshire e em sua conta bancária.
“Fui tremendamente moldado por Charlie. Se eu tivesse escutado apenas Ben (Graham), eu seria muito mais pobre”, afirmou, em 1988, o megainvestidor, dono de uma fortuna estimada, atualmente, em US$ 121 bilhões.
Em outra ocasião, Buffett ressaltou que a Berkshire havia sido construída sob as teses de Munger que, por sua vez, dono de uma fortuna de US$ 2,6 bilhões, também encontrava tempo para outras atividades além da gestora. Especialmente como filantropo, com doações que beneficiaram desde hospitais até a Universidade de Stanford.
À parte dessa atuação, Munger, mesmo aos 99 anos, não reduzia o ritmo e vinha mantendo o fôlego ao lado de Buffett no dia a dia da Berkshire. Da mesma forma, a idade não fez com que ele abandonasse seu estilo franco e direto, muitas vezes classificado, “carinhosamente”, como rabugento pelo mercado.
Não foram poucos os alvos dessa língua afiada. Das criptomoedas, das quais, era um crítico ferrenho, até figuras bastante incensadas por boa parte do mercado, como Elon Musk, o bilionário à frente da Tesla, da SpaceX e do X.
“Ele pensa que é mais capaz do que realmente é e isso o ajudou”, observou Munger, durante uma conferência na Austrália, em 2021. Na oportunidade, ele acrescentou que nunca se deve “subestimar um homem que se superestima”.
Com esse estilo inconfundível, Munger teve sua importância ressaltada, mais uma vez, durante a tradicional conferência da Berkshire Hathaway. Sediado em Omaha, nesse ano, o evento coincidiu coma cerimônia de coroação do rei Charles III, no Reino Unido.
A coincidência das datas foi alvo de um comentário de Buffett, que resume bem sua trajetória. “Temos um rei Charles bem aqui", disse o megainvestidor, ao apontar para o velho parceiro.