De que forma os biocombustíveis poderão acelerar a transição energética global? Quais são os desafios para a ampliação de seu uso? Como o Brasil está posicionado nesse segmento?

Para responder essas e outras perguntas cada vez mais relevantes na nova era ambiental, a Tivio Capital, gestora independente do Bradesco e do Banco BV, lançou em setembro uma série de relatórios chamada de “Deep Dive”, com foco no setor de Biocombustíveis.

O mergulho no universo dos biocombustíveis foi dividido em três capítulos. O primeiro foi publicado em setembro e o segundo chegou ao mercado agora em outubro. E o terceiro e último, será publicado até o final do ano.

“Queremos que a Tivio seja vista como um think tank de grandes teses”, afirma Rodrigo Freire, gestor de Energia & Infra da gestora. “Notamos que há pouco conhecimento sobre biocombustíveis no mercado, apesar do crescente interesse pelo tema. Isso nos motivou a produzir o conteúdo”, acrescenta Enrico Trotta, head de Research da casa.

Entre outros atributos, a série de relatórios traz os conceitos fundamentais do setor, além dos principais tipos de biocombustíveis, as matérias-primas fundamentais para a sua fabricação, como são produzidos, as vantagens e riscos, e as políticas vigentes no Brasil e no mundo.

Cada um dos seis principais tipos de biocombustíveis atuais (etanol, biodiesel, diesel verde, biogás, biometano e SAF, o combustível de aviação sustentável) é analisado em diversos âmbitos, passando pela forma de produção, aplicações e potencial de consumo.

Recheado de números e argumentos que sustentam a relevância da tese de biocombustíveis, os documentos esclarecem muitas dúvidas que persistem sobre o tema.

Afinal, qual será o impacto das fontes renováveis de energia para a redução das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE)? A série de relatórios da Tivio Capital traz uma simples comparação que revela o impacto dos biocombustíveis para a saúde do planeta.

No Brasil, um veículo flex movido a etanol classificado como ICE (Internal Combustion Engine) emite 58g de CO2 equivalente por quilômetro rodado – ou 60% menos dos que os 145g gerados por um veículo ICE movido a gasolina.

Os relatórios também abordam um tema que suscita muitas dúvidas no mercado, como a competição direta dos biocombustíveis com a produção de alimentos.

Os números mostram que, nesse campo, não há razões para preocupação. No Brasil, apenas 16% da terra arável total é cultivada. Para efeito de comparação, nos Estados Unidos o índice é de 70%. Na China, de 100%.

A cana-de-açúcar, por exemplo, ocupa menos de 3% da terra destinada ao cultivo de alimentos. Ou seja, uma cultura diretamente atrelada à produção de biocombustíveis tem ainda muito espaço para crescer, sem competir com o espaço destino às lavouras para alimentos.

“Um aspecto importante a ser destacado nas três edições do relatório diz respeito ao protagonismo do Brasil no setor”, diz Rodrigo Freire.

O pioneirismo brasileiro no desenvolvimento de alternativas energéticas começou com o Proálcool na década de 1970 e, desde então, nos tornamos uma das referências globais no tema.

No Brasil, existem quatro grandes políticas governamentais que estimularam, em maior ou menor medida, o desenvolvimento de biocombustíveis.

Uma delas foi a criação, em 1977, da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), que define os mandatos obrigatórios para etanol e biodiesel, como os níveis de mistura dos biocombustíveis na gasolina.

Em 2005, surgiu o Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB), criado para promover o uso desse combustível no país.

Mais tarde, em 2017, foi lançada a Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio) com o objetivo de promover o uso de biocombustíveis na matriz energética brasileira.

A investida mais recente foi a criação, em 2021, do Programa Combustível do Futuro, que pretende fomentar pesquisas em novas tecnologias no setor.

Poucos países no mundo, portanto, tem se dedicado tanto à temática dos biocombustíveis. Não à toa, o Brasil é atualmente o segundo maior produtor de etanol e o terceiro de biodiesel.

“O Brasil tem uma posição única nesse mercado”, diz Enrico Trotta. “Nós possuímos todas as matérias-primas e uma experiência de décadas, o que nos coloca na posição de liderar a transição energética global.”

Os dois executivos afirmam que os relatórios ajudarão a disseminar conhecimento sobre o peso do Brasil no ramo de biocombustíveis.

Nas conferências de clima e palestras internacionais sobre sustentabilidade, eles notaram que os investidores estrangeiros se surpreendem com o histórico do Brasil e os projetos em andamento.

Por isso mesmo, os relatórios também possuem uma versão em inglês distribuída para órgãos de fomento multilaterais, além de analistas e investidores estrangeiros.

“É preciso um senso de urgência global para reverter os níveis de emissões”, diz Rodrigo Freire. “E os biocombustíveis são fundamentais para os objetivos globais de atingir o Net Zero até 2050”, conclui Enrico Trotta.