A Newco International Ltd, controladora da Bombril, vendeu 103.273.447 ações ordinárias da empresa em 3 de janeiro, um mês antes do pedido de recuperação judicial protocolado na segunda-feira, 10 de fevereiro, segundo documento protocolada na Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

A empresa, ligada a Ronaldo Sampaio Ferreira, um dos herdeiros da família fundadora, era a única detentora das ações ordinárias da companhia. Além de controlador, Ronaldo Sampaio Ferreira exerce o cargo de presidente do Conselho de Administração da Bombril.

De acordo com dados arquivados na CVM na terça-feira, 11 de fevereiro, a Newco, após as vendas, encerrou janeiro com 34.341.870 ações ordinárias, o equivalente a 25% do total. Como as ações ordinárias da Bombril não tem liquidez, os papéis podem ter sido negociados em balcão, o que dificulta saber o valor arrecadado com a transação.

No mesmo dia, o controlador da Bombril realizou a venda, posteriormente, e compra de 35.857.502 de ações preferenciais.

Após a publicação da reportagem, a Bombril mandou um comunicado dizendo que "houve simplesmente a transferência de ações da pessoa física para a pessoa jurídica, via aporte de capital. Uma operação sem qualquer impacto externo. Uma simplesmente organização interna em que o controlador pessoa física passou parte de suas ações para a sociedade da qual é o único sócio (veja a íntegra abaixo). Essa mudança havia sido comunicada ao mercado em 8 de janeiro.

O NeoFeed, no entanto, ouviu dois advogados para entender qual é o objetivo da transferência de participação acionária da pessoa física para a pessoa jurídica. E apurou que a tática pode ter sido usada para proteger o patrimônio da pessoa física.

“No fundo, todo mundo que vai para uma recuperação judicial morre de medo de ver a falência decretada. E aí é melhor as ações da falida estarem numa empresa do que na física, porque senão pode ter contaminação de patrimônio”, disse um especialista em recuperação de empresas e falências.

“Essa RJ é mais vinculada à iminência a problemas fiscais relevantes e dessa maneira a pessoa física fica blindada”, complementou outro advogado.

O pedido de recuperação judicial foi protocolado pela Bombril devido a uma dívida de R$ 2,3 bilhões, sendo parte significativa com vencimento em até 12 meses. A empresa ainda afirma que foram proferidas decisões de penhora sobre as plantas fabris de São Bernardo do Campo (SP), Sete Lagoas (MG) e Abreu e Lima (PE), o que comprometeria a manutenção das atividades essenciais.

“[Há uma] grande limitação de ativos desonerados que possam ser usados para garantir a captação de capital de giro, sacrifício de caixa e ressalvas quanto à continuidade operacional do Grupo Bombril”, afirma o pedido de recuperação judicial.

Segundo a companhia, não há mais espaço para a “obtenção de crédito de primeira linha, em condições minimamente favoráveis”.

As ações preferenciais da Bombril chegaram a cair 36,5% no pregão desta terça-feira, 11 de fevereiro, após o pedido de recuperação judicial, sendo negociadas a R$ 1,46. Às 16h45, o papel registrava desvalorização de 18,70%.

O pedido de recuperação também faz críticas ao período em que a empresa foi comandada pelo empresário italiano Sérgio Cragnotti, entre os anos 1990 e o início dos anos 2000. Em 2006, a empresa voltou às mãos da família fundadora devido ao não pagamento da aquisição das ações então detidas por Ronaldo Sampaio Ferreira.

Além da família fundadora do negócio, Silvio Tini possui uma participação relevante na Bombril. Até o início do mês, o investidor detinha cerca de 16,1% das ações preferenciais na pessoa física e 7,4% por meio de sua holding Bonsucex.

Confira a nota enviada pela Bombril:

Importante esclarecer que (1) não houve compra ou venda de ações, (2) não houve operação em bolsa e que (3) houve simplesmente a transferência de ações da pessoa física para a pessoa jurídica, via aporte de capital. Uma operação sem qualquer impacto externo. Uma simplesmente organização interna em que o controlador pessoa física passou parte de suas ações para a sociedade da qual é o único sócio.

(Reportagem atualizada às 21:56 com nota da Bombril e com mais informações de apuração do NeoFeed).