O Grupo Armco, um dos principais fornecedores de aços relaminados do país, entrou com um pedido de recuperação extrajudicial na Justiça de São Paulo para reestruturar uma dívida de R$ 528,6 milhões. Principal credor, o Banco Fibra, da família Steinbruch, concentra cerca de R$ 350 milhões da dívida total do grupo.
O grupo, que é dono das empresas Aços da Amazônia, Intacta e StripSteel, tem ainda uma dívida extraconcursal próxima de R$ 220 milhões, que poderá ser incluída no plano, desde que os credores concordem com as condições propostas, como novos prazos de pagamento e possibilidade de conversão em participação acionária. Com isso, a dívida sobe para quase R$ 750 milhões.
O plano, já negociado com credores e submetido à homologação judicial, tem como objetivo se blindar de ações de cobrança que comprometam sua operação. Os credores elegíveis terão a opção de converter parte ou a totalidade de seus créditos em ações ordinárias de nova emissão da Armco, como forma de capitalização da empresa.
Essa conversão ocorrerá no âmbito de um aumento de capital, permitindo que os credores troquem valores devidos por participação acionária. A adesão a esse modelo não é obrigatória e dependerá do interesse de cada credor, sendo uma alternativa à quitação tradicional da dívida
O pedido foi protocolado na Vara Regional de Competência Empresarial e de Conflitos Relacionados à Arbitragem da 1ª Região Administrativa Judiciária do Estado de São Paulo. O plano prevê carência de até 24 meses, parcelamento em 120 meses e a possibilidade de deságios sobre os valores devidos.
Além do Banco Fibra, outras instituições financeiras e fornecedores, como a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), aderiram ao plano, permitindo que a reestruturação avance sem a necessidade de recuperação judicial tradicional. A CSN, assim com o Banco Fibra, pertence à família Steinbruch, uma das mais tradicionais no setor siderúrgico do país.
De origem americana, a Armco está no Brasil desde 1914 e desempenhou um papel fundamental na expansão da infraestrutura nacional, especialmente no setor rodoviário nas décadas de 1940 e 1950. A empresa passou por diferentes ciclos de crescimento e, em 1993, foi adquirida por cinco diretores da própria companhia, que assumiram seu controle operacional e estratégico.
A empresa fornece metais customizados para diversos setores, incluindo automotivo, construção civil e bens de consumo. Seu parque industrial em Jundiaí tem capacidade de produzir 22 mil toneladas por mês de aço relaminado, que serve de etapa anterior para a fabricação de produtos finais como correias, discos de freio e estiletes.
Mas a redução de demanda na última década, restrições de crédito e erros estratégicos colocaram a companhia em crise. Entre 2010 e 2016, o grupo passou por queda de faturamento de R$ 685,7 milhões para R$ 348,6 milhões, de acordo com o pedido de RE.
A queda de receita ocorreu em meio à mudança de seu parque fabril de São Bernardo do Campo para Jundiaí entre 2012 e 2018. Nesse processo, a Armco teve que custear dois parques fabris simultaneamente por mais de seis anos, o que exerceu ainda mais pressão sobre seu balanço. Entre 2019 e 2020, o faturamento caiu 26,6%, enquanto a produção sofreu retração de 4,9%. O declínio das operações, no entanto, se arrasta há muito mais tempo.
Atualmente, a Aeté Participações S.A. é a acionista majoritária da Armco, e os principais administradores do grupo são Levon Kessadjikian, Roberto Gallo e Gilberto Fedi, que atuam diretamente na condução dos negócios.
Em 2015, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) adquiriu 15% da Armco, com opção de aumentar essa fatia para até 49% por meio de um acordo com a Aeté Participações. Embora a CSN tenha vendido sua participação na Armco, ela mantém uma relação relevante como um de seus principais credores na recuperação extrajudicial, com cerca de R$ 15 milhões a receber.