Não é incomum que dores nas costas, insônia e fadiga crônica sejam queixas frequentes de executivos. No Humanamente Possível, a fisioterapeuta Érika Barroso Batista alerta que, muito mais do que sintomas físicos, essas condições podem ser consequência de um estilo de liderança que cobra demais e que leva ao esgotamento mental.
Fundadora de uma clínica em São Paulo especializada no tratamento de dores crônicas, com um olhar integrado entre corpo, comportamento e desempenho humano, Érika desenvolveu um método próprio que une fisioterapia, neurociência e atenção plena para tratar não só o sintoma físico, mas a forma como se vive.
Na base de seu trabalho está um fato desconcertante: muitas vezes, os exames de imagem, como ressonâncias, não explicam a dor. “É comum ver pacientes com laudos normais em sofrimento intenso, e outros com hérnias avançadas sem dor alguma. O que interfere nesse processo não é só o físico. É o padrão de funcionamento do corpo sob pressão”, afirma Érika.
Essa visão tem implicações diretas para o mundo dos negócios. O que antes era tratado como mero “desgaste” do trabalho, já é visto atualmente como disfunção funcional. Ou seja, o corpo manifesta no físico aquilo que a mente tenta empurrar para debaixo do tapete. “A dor virou o novo burnout”, resume ela.
Em vez de focar apenas em alongamentos e fortalecimento muscular, o método neuromiofascial ensina o corpo a se reorganizar. Segundo Érika, o segredo de uma longevidade produtiva está na combinação de práticas como respiração consciente, percepção corporal e microajustes de postura, que devem ser incorporados ao cotidiano de líderes e profissionais de alta performance como ferramentas de autorregulação.
Seu método é buscado por executivos que passam a questionar o custo do próprio desempenho. Muitos, após anos operando em ritmo intenso, se veem adoecidos, medicados ou em processo de afastamento. “A questão não é fazer mais. É como se faz. E isso começa por reconhecer que o corpo é o primeiro indicador de descompasso”, afirma a fisioterapeuta.
Érika rebate a desculpa dada pelos que dizem que “não têm tempo para se cuidar”. Ela argumenta que quem lidera precisa, antes de tudo, sustentar a própria estrutura. Literalmente. “Cuidar da saúde não pode ser visto como algo secundário. É um ativo de liderança. Se um CEO adoece, a empresa sente. Se um gestor opera no automático, o time se perde. Não há cultura forte sustentada por lideranças frágeis.”
Entender que a dor não é um problema a ser combatido, mas uma mensagem a ser compreendida pode, na visão da fisioterapeuta, ser a diferença entre liderar por mais um trimestre ou por mais uma década.