O novo marco regulatório do ensino superior, aprovado em maio, deve alterar profundamente a dinâmica do setor, estabelecendo exigências mais rigorosas para cursos EaD e semipresenciais. Na prática, a mudança demandará investimentos significativos em infraestrutura dos polos educacionais, que funcionam como pontos de venda e apoio para cursos a distância.

Embora possam gerar aumento de Capex no médio prazo, grandes players do setor veem as novas regras como uma oportunidade de ganhar mercado nessas modalidades de ensino, dada sua maior capacidade de financiar o redesenho de suas estruturas para atender aos novos requisitos regulatórios.

“Há instituições menores com até 100 polos, que, na verdade, são pontos comerciais. Essa turma provavelmente vai sair do mercado. Se saem, a competição reduz. São players com um menor poder de marca e que puxam o preço para baixo”, disse Roberto Valério, CEO da Cogna, no 26º Encontro Anual do Santander.

A expectativa do executivo é de que a concorrência seja especialmente menor em cursos que sofreram maiores restrições pela nova regulamentação. É o caso de Medicina, Direito, Odontologia, Enfermagem e Psicologia, que passaram a ser integralmente presenciais. Cursos de licenciatura e demais áreas da saúde poderão ser apenas semipresenciais e presenciais. Cursos de engenharia continuam podendo ser oferecidos a distância, mas com a exigência de que os polos educacionais tenham laboratório.

“Isso vai exigir que o polo tenha um espaço maior, que tenha uma secretaria melhor, espaços de convivência. E isso vai mudar a dinâmica competitiva, porque muitos não têm nada disso. Eram estruturas mais simples, menores”, afirmou Valério.

Como esses polos são formados normalmente por meio de parcerias ou franquias, o próprio gestor do polo poderá ter que arcar com o custo de expansão, assim como com o aumento dos gastos. “Para ser sustentável, o nível de receita terá que ser maior. Só que o portfólio será mais restritivo porque nem todos os cursos poderão ser oferecidos nos polos”, disse Valério.

O executivo ainda estuda como fará a reorganização de suas estruturas e não descarta a possibilidade de ajudar no financiamento da estrutura dos polos, se houver viabilidade econômica.

De todas as mudanças, a mais impactante no modelo de negócio é a exigência da presencialidade dos cursos de Enfermagem, que hoje podem ser oferecidos a distância. Rossano Marques, CEO da Yduqs, que também participou do painel com Valério, disse que essa é uma mudança “estrutural”, dada a alta demanda e empregabilidade do curso.

“O curso de Enfermagem deixará de ser oferecido nos polos. Estamos tirando cidades inteiras de uma parcela relevante da população brasileira”, afirmou Marques. Segundo o executivo, essa demanda será restrita aos campi, que estão presentes em apenas 600 cidades do país. “Vamos tirar o acesso ao curso de 2 mil cidades do Brasil. É um trade-off entre acesso e qualidade. É uma mudança que provavelmente não teríamos feito”, afirmou.

Apesar de ver um impacto negativo para a sociedade, com menor formação de enfermeiros, Marques acredita que a Yduqs conseguirá atenuar o dano ao negócio, dada a capilaridade que a companhia tem no ensino presencial.

As mudanças previstas para os cursos de Enfermagem passarão por um período de transição de dois anos. Nesse período, ainda poderão ser abertas turmas semipresenciais. Com a menor oferta prevista, Valério e Marques afirmam que vem aumentando a demanda pelos cursos de Enfermagem em suas bases.

“O curso de Enfermagem, dada a mudança da regulação, está acelerando. O curso de Enfermagem está com mais matrículas”, disse Valério.

Os dois executivos também demonstram otimismo em relação à captação mais ampla nos próximos ciclos. Segundo Rossano (Yduqs), a clareza regulatória e o bom desempenho atual são indicativos de uma captação ainda mais forte no futuro. Já Valério (Cogna) destaca que, com a nova regulação definida, os polos estão mais confiantes para investir, o que deve sustentar o crescimento.

Ambos esperam que essa combinação de fatores — estabilidade regulatória, mobilização dos canais e ambiente econômico mais favorável — impulsione o volume de matrículas a partir de 2026.