O trio de empreendedores Paulo Orione, Gustavo Tremel e Daniel Smolenaars conseguiu um feito que não é tão comum no mercado brasileiro de empreendedorismo. Em 2018, eles venderam a Decora, que produzia conteúdo 3D para o varejo, por US$ 100 milhões para a Creative Drive, depois comprada pela Accenture.
O feito é raro por dois motivos. O primeiro é que saídas são um dos grandes problemas do mercado brasileiro – ainda mais em 2018, quando o venture capital era menos desenvolvido na América Latina. E, não menos importante, eles criaram a Decora fora do eixo Rio-São Paulo – o trio é de Florianópolis – e fizeram toda a jornada sem investidores.
Agora, o trio de empreendedores está de volta com a VAAS, uma startup de gestão de risco que criou uma plataforma que integra diversos birôs de informação para que as empresas possam fazer prevenção a fraudes.
Fundada em 2023, mas desde agosto do ano passado com a plataforma no ar, a VAAS acaba de receber um aporte liderado pela gestora de venture capital Headline e seguido por ABSeed e Honey Island, que participaram da rodada seed.
“Conectamos mais de 40 birôs para oferecer uma visão completa e automatizada sobre compliance e fraude”, diz Tremel, ao NeoFeed. “Somos uma plataforma que orquestra dados de múltiplas fontes para decisões em tempo real.”
O valor do aporte, de R$ 20 milhões, será usado para que a VAAS possa crescer sua área comercial, bem como desenvolver mais recursos para a plataforma. Em especial, criar agentes de IA para acessar dados que os birôs ainda não têm, como contratos, boletins de ocorrência, balanços patrimoniais, entre outros.
“Acompanho os empreendedores desde a Decora. Eles não estão em primeira viagem e fizeram uma saída formidável”, diz Romero Rodrigues, sócio da Headline. “Na hora em que percebi que ia ganhar tração, ficou óbvio fazer o investimento. Eles estão preparados para se beneficiar da IA.”
O pulo do gato da VAAS foi criar uma plataforma de gestão de risco que usa dados de terceiros, como Serasa, Boa Vista, Neoway, birôs internacionais, open banking, dados cadastrais, jurídicos e até de fontes alternativas. Mas tudo é integrado em um data hub que padroniza e transforma os dados para a tomada de decisões.
“Esse é um mercado que parece pequeno para muita gente. Mas para nós é um mercado gigantesco. E só vai aumentar de tamanho. Quanto mais fraude, mais importante vai ser a plataforma da VAAS”, afirma Rodrigues.
A plataforma da VAAS pode ser usada para onboarding de clientes PF e PJ, prevenção à fraude e lavagem de dinheiro, gestão de seguros e crédito, bem como compliance regulatório com o Banco Central e a Comissão de Valores Mobiliários, o xerife do mercado de capitais brasileiro.
Questionado se as empresas não poderiam buscar os dados diretamente nesses birôs, Tremel admite que sim. Mas a barreira de entrada, na visão do empreendedor, é a forma como a plataforma desenvolvida pela VAAS integra a informação para prevenção de fraudes.
“As empresas poderiam contratar a Neoway ou Boa Vista. Mas isso não é o core dessas empresas, ou seja, criar uma plataforma que defina regras e combine todos os dados”, diz Tremel, que acrescenta que a VAAS também funciona como revendedor desses birôs.
De acordo com Tremel, a plataforma oferece uma visão de 360 graus da exposição de risco, monitorando clientes e fornecedores, detectando mudanças de comportamento e ajustando políticas conforme novas regulamentações.”
Em pouco tempo, a VAAS conseguiu mais de 30 clientes. São nomes como como Raízen, GWM, Stellantis, Banco Mercantil, Foxbit e Reag Investimentos.
O modelo de negócios não é o tradicional SaaS (software as a service), em que a empresa paga uma mensalidade pelo uso da plataforma, mas sim um valor por transações. Os contratos são também de longo prazo – em geral, de 36 meses, o que garante uma visibilidade da receita.
Hoje, o ARR (Annual Recurring Revenue) da VAAS é de R$ 12 milhões. A intenção é atingir R$ 20 milhões até o fim deste ano. E R$ 45 milhões em 2026. A startup, que já atua em alguns países da América Latina, por conta de ter alguns clientes nessa geografia, planeta também uma expansão pelo continente.
