A campanha do presidente americano Donald Trump contra a agenda climática e a favor dos combustíveis fósseis dá mostras de ter sido incorporada pelo mundo corporativo dos Estados Unidos.
Pela primeira vez em seis anos, nenhuma proposta ambiental de peso foi aprovada durante a temporada de reuniões anuais de acionistas nos EUA em 2025 - que geralmente ocorrem no final do primeiro semestre -, em mais um sinal da diminuição do apoio dos investidores à agenda climática.
As resoluções verdes falharam em todos os grupos do amplo índice Russell 3000 de ações dos EUA, de acordo com um relatório do Conference Board/Esgauge divulgado na segunda-feira, 1º de setembro, pelo jornal britânico Financial Times.
O número de propostas ambientais bem-sucedidas havia atingido o pico de 14 em 2022, no auge do movimento ambiental, social e de governança corporativa (ESG), e desde então caiu drasticamente para apenas 2 em 2024 e zero em 2025.
Há duas explicações para essa queda, que - diferentemente do meio corporativo europeu - já vinha ocorrendo nos últimos dois anos nos EUA. Uma delas é política e reflete a pressão do governo Trump contra os esforços das empresas para lidar com o risco climático, o que levou investidores a desestimularem o apoio à pauta ESG.
Grandes gestoras de ativos, como State Street, BlackRock e Vanguard, têm sido pressionadas a abandonar as metas ESG. Elas chegaram a ser processadas pelo governo do Texas e outros 10 estados liderados pelos republicanos por suas metas de emissão líquida zero de carbono.
A BlackRock e a Vanguard saíram da Net Zero Asset Managers, um grupo global voluntário que se descreve como comprometido com a meta de zero emissões líquidas de gases de efeito estufa até 2050 ou antes.
No ano passado, a ExxonMobil processou dois grupos de acionistas, Follow This e Arjuna Capital, para impedir que uma resolução climática fosse submetida a votação em sua reunião anual de investidores. Como resultado, o grupo de investidores ativistas sediado em Amsterdã e o consultor de investimentos não apresentaram uma única proposta ambiental este ano, de acordo com dados fornecidos pelo Conference Board.
A outra explicação para o recuo da pauta ESG no meio corporativo americano é técnica - a melhoria da divulgação corporativa de métricas relacionadas ao clima amenizou algumas preocupações dos investidores sobre se as empresas estão lidando adequadamente com o risco financeiro.
“O apoio está menor este ano porque as pessoas não querem divulgar seu apoio e atrair qualquer tipo de atenção para si mesmas ou para as empresas”, disse Nimrit Kang, diretor de investimentos da Northstar Asset Management. “As pessoas têm medo de se arriscar.”
Outro indicador reforça o temor do meio corporativo americano de enfrentar a agenda conservadora de Trump, incluindo sua oposição contra as medidas de diversidade, equidade e inclusão (DEI, na sigla em inglês) - utilizadas para o conjunto de práticas e políticas que buscam criar ambientes de trabalho mais justos e acolhedores para todos os indivíduos.
Como resultado, o apoio às propostas de gestão de capital humano, que abrangem as iniciativas sociais das empresas, caiu para 9% este ano, ante 15% no ano anterior.
“As propostas dos acionistas e o nível de apoio estão sempre alinhados com esses sentimentos sociopolíticos gerais”, disse Douglas Chia, presidente da consultoria Soundboard Governance, implicitamente reconhecendo que, em tempos de governo Trump, é melhor não atrair a ira do presidente americano.