Diante do cenário incerto e caótico gerado pelo Covid-19, o Banco Central não tem escapado das críticas de alguns setores da economia, que apontam o atraso nas medidas implantadas até o momento para reduzir os impactos da pandemia.
Em live realizada nesta manhã pelo Credit Suisse, Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, rebateu essas alegações, ao comparar o prazo entre o anúncio e a implementação das medidas com o que foi feito em outros países, entre eles, os Estados Unidos. E destacou ainda que o BC está preparado para ampliar esse pacote.
“Temos mais medidas e estamos sempre olhando para ver o que precisa ser feito. A liquidez injetada até o momento é suficiente. Mas temos mais, se for preciso”, disse. Nesse contexto, ele citou uma capacidade total de R$ 1,2 trilhão para liberar liquidez no mercado. “Estamos falando em algo em torno de 16% a 17% do PIB, contra 3,5% na crise de 2008.”
Segundo Campos Neto, há um consenso entre os bancos centrais em todo o mundo. Caso a crise perdure por mais tempo, a perspectiva é de que os países caminhem para um estímulo fiscal entre 6% e 7% do Produto Interno Bruto (PIB).
Segundo Campos Neto, há um consenso entre os países de que, caso a crise perdure, os países vão caminhar para um estímulo fiscal entre 6% e 7% do PIB
A transmissão contou com a participação de Ilan Goldfajn, ex-presidente do Banco Central e atual presidente do Conselho do Credit Suisse, e de José Olympio Pereira, CEO do Banco.
Questionado pela dupla, Campos Neto ressaltou que ainda é difícil quantificar o impacto da crise, especialmente pela incerteza sobre a duração das medidas de isolamento. E observou que o mais prudente é observar o andamento desse cenário nas próximas três semanas.
Nesse contexto, ele entende que é importante o governo passar credibilidade e mostrar que está atuando e que irá socorrer os setores mais prejudicados. “O governo não vai promover vencedores, nem perdedores”, afirmou. “Alguns setores perderão, mas vamos tentar que isso aconteça da forma mais linear possível.”
Mudanças
No plano global, Campos Neto enxerga prováveis alterações. Um dos campos ressaltados por ele foi o panorama geopolítico, com reflexos mais profundos para os mercados emergentes. Segundo ele, parte do crescimento desses países nos últimos anos veio da inserção na cadeia global de valor, a partir de um modelo que permitiu a essas nações se especializarem em determinados segmentos.
Ele citou o exemplo da cadeia de produções de bens médicos, hoje muito concentrada em países asiáticos. “Vejo muitos questionamentos recentes sobre essa concentração, o que indica que sairemos diferentes dessa crise”, observou. Para ele, a crise também vai gerar um entendimento diferente sobre o papel dos bancos. “Não tem como apertar mais capital, isso é algo que não vai voltar.”
Questionado sobre a intensa depreciação do real, Campos Neto enfatizou que o câmbio é flutuante e que a política é evitar excessos nas intervenções. Ele afirmou que o Banco Central tem agido apropriadamente até o momento, mas que está preparado para atuar mais fortemente. “Nossas reservas são grandes e temos um arsenal grande à disposição se for necessário.”
A agenda de reformas foi outro ponto abordado. Ele entende que há disposição no Congresso para tocar essa pauta à medida que a crise se atenuar e o cenário começar a voltar à normalidade. “É uma excelente oportunidade para as reformas”, disse. “E essas medidas vão determinar o formato da nossa recuperação.”
"A crise é uma excelente oportunidade para as reformas. Elas vão determinar o formato da nossa recuperação"
Campos Neto ressaltou ainda a importância de o BC comunicar que as medidas adotadas nesse momento são um desvio temporário. E que a política de modernização do sistema financeiro será mantida. “Vamos entregar o PIX (sistema de pagamentos instantâneos) ainda esse ano e vamos andar com o Open Banking”, afirmou. “É uma crise diferente, que nos fez voltar alguns passos. Mas nossa agenda não será alterada.”
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