A escolha de um executivo claramente inadequado para comandar uma empresa não costuma ser a pior ameaça no futuro do negócio. O verdadeiro risco está na opção por um CEO mediano. Essa é a avaliação de Fernando Carneiro, um dos headhunters mais conhecidos do Brasil, em entrevista ao Humanamente Possível, programa do NeoFeed.
Segundo Carneiro, quando um líder se mostra totalmente inadequado, a substituição tende a ser rápida. Mas o caso muda quando a empresa opta por alguém medíocre.
“Um CEO mediano contrata pessoas medianas, perde oportunidades e não consegue aproveitar o melhor do mercado. É esse tipo de escolha que mina a competitividade no longo prazo”, afirma Carneiro, fundador da Villanova Partners e com mais de 24 anos de experiência em recrutamento de executivos.
Se antes apenas resultados eram considerados na escolha de um CEO, hoje a régua se tornou mais alta. Comunicação, ética, empatia e capacidade de relacionamento passaram a pesar tanto quanto os números. “Hoje, é preciso saber se relacionar com conselho, investidores, reguladores e sociedade. Liderança é exemplo de ética, empatia e generosidade”, diz Carneiro.
Para ele, os melhores executivos são aqueles que vibram com o sucesso dos outros, comunicam-se de forma clara e formam sucessores. Também se destacam os líderes que admitem erros rapidamente e buscam corrigi-los, fortalecendo a confiança interna. “Culturas que escondem erros corroem empresas”, diz.
A transição entre a cadeira de CEO e a de conselheiro também exige novas habilidades. Carneiro ressalta que, no conselho, não se manda, mas sim se influencia. É preciso ouvir, respeitar divergências e buscar equilíbrio entre independência e confidencialidade.
Os melhores conselhos, na visão de Carneiro, são os que valorizam diversidade de gênero, raça, trajetórias profissionais e competências específicas em áreas críticas como finanças, pessoas e tecnologia. “As melhores oportunidades não estão no consenso óbvio, mas nas discussões maduras entre pontos de vista diferentes”, afirma.
Outra lição compartilhada por Carneiro está ligada ao valor dos relacionamentos. Ele destaca que o networking não se constrói em datas estratégicas ou em gestos pontuais de interesse. Na sua visão, cultivar relações sólidas exige autenticidade.
“A única forma de desenvolver relacionamentos de longo prazo é ser generoso, estar disponível e ter uma vontade genuína de ajudar os outros”, diz. “Não é lembrar do aniversário porque você quer algo em troca, mas cultivar a amizade e a confiança ao longo da vida profissional.”
Ao fim da entrevista, o apresentador Leonel Andrade, que foi CEO da CVC, da Losango, Credicard e da Smiles, acrescentou que “liderança é para sempre”. Para ele, quem assume uma posição de comando deve ter consciência de que suas atitudes moldam carreiras muito além do presente.
Carneiro ratificou e acrescentou: “Gostar do sucesso dos outros é um sinal de liderança para sempre”. Em sua opinião, “um líder de verdade deixa marcas positivas que continuam influenciando mesmo anos depois”