“Eu detesto a guerra, ela estraga os exércitos” (Grão-duque Constantino da Prússia).
Uma empresa não é um campo de batalha, embora ainda haja muita gente que ache que o sucesso na carreira e nos negócios vem da guerra. Temos que entender um pouco das razões históricas dessa mentalidade nas companhias.
Vamos lembrar que as primeiras corporações nasceram em função da Revolução Industrial, que trouxe no seu âmbito os conceitos de escala e produtividade. As primeiras fábricas copiaram a hierarquia dos exércitos, porque era o único modelo existente de sucesso, organizações antigas e super disciplinadas, baseadas em carreira piramidal por experiência e tempo de serviço. E, como viam os mercados como territórios finitos, uma empresa precisava destruir a outra para sobreviver.
Vem daí a mentalidade de que a competição, o subjugar, o dominar, ser mais forte, traz em si vantagens para o crescimento na carreira. Os produtos mudam, a tecnologia acelera o mundo, concepções novas nascem a toda hora, mas a mudança de mentalidade e de cultura é sempre lenta, pois, de muitas maneiras, ainda enxergamos o mundo como um gigantesco campo de batalha, onde minhas conquistas dependem do abatimento do inimigo.
Estamos ficando mais longevos e o mundo é pequeno. As chances de cruzar com as mesmas pessoas ao longo da carreira cresce exponencialmente. Aquele colega que voce não ajudou no início da carreira leva essa imagem para sempre. E pode virar seu chefe amanhã. É tempo de colaboração e de empatia.
Hoje, mais que nunca, o sucesso está nos times, os pequenos times que formam grandes organizações e que colaboram entre si. Não é à toa que até mesmo modelos de avaliação de pessoas estão mudando. Não parece haver mais sentido em desempenho versus potencial, até porque, do modo como tradicionalmente se faz o que se olha, é desempenho atual versus desempenho futuro (potencial). E o potencial já deve estar explícito na contratação para a empresa ou para um novo cargo.
Eu prefiro olhar para desempenho versus confiança, especialmente para profissionais que gerenciam pessoas. E confiança aqui não é ética, honestidade, transparência. Isso é muito básico, nem se avalia, pois se a pessoa não as têm não estará na empresa.
Confiança é capacidade de jogar junto, de desenvolver pessoas, de estabelecer alianças essenciais para os projetos, de abrir mão de ganhos imediatos para construir retornos no longo prazo. E, especialmente para os líderes, é promover o crescimento dos outros. Confiança é algo contínuo e está relacionada ao como você faz tudo nas suas relações. Uma flor preciosa, linda e rara que pode ser perdida a qualquer momento, por isso deve ser cultivada eternamente.
Somente esta confiança pode fazer um profissional estabelecer uma carreira consistente, sustentabilidade em negócios e seguidores no longo prazo. Essa confiança traz sorte na vida. Nas voltas que o mundo dá, as relações que são estabelecidas serão fundamentais para cargos, negócios e gestões futuras. Construir sorte é fundamental, quase um diferencial competitivo. A sorte existe! Alimente-a. Cuidado para não acreditar que a sorte só existe quando se fala do sucesso dos outros.
"Suas conquistas falam por si, suas entregas são públicas e estão nos números, mas o que o mercado quer é a sua capacidade de construir relações e a sua credibilidade. Por isso que ninguém contrata as pessoas sem ouvir referências passadas"
Suas conquistas falam por si, suas entregas são públicas e estão nos números, mas o que o mercado quer é a sua capacidade de construir relações e a sua credibilidade. Por isso que ninguém contrata as pessoas sem ouvir referências passadas. Estão buscando entender o seu lado colaborativo e construtivo, não as guerras que você ganhou.
Quando vejo duas pessoas brigando numa empresa duas coisas ficam claras. No curto prazo, só uma delas pode ganhar. No longo prazo, nenhuma das duas têm futuro, as duas pessoas perderão. A frase que abriu este artigo é muito sábia. Guerras realmente estragam os exércitos. E brigas só servem para estragar as pessoas.
Vamos ficar com uma sábia máxima produzida por Adoniran Barbosa: “bom de briga é aquele que cai fora”.
*Leonel Andrade é CEO da CVC Corp e foi CEO da Smiles, Credicard e Losango Financeira. Ele também é membro do Conselho de Administração da BR Distribuidora e da Lojas Marisa. Além disso, faz palestras sobre gestão de pessoas e negócios.
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