Um CEO de uma grande empresa de serviços me procurou recentemente com uma questão complicada. Seu COO, um executivo experiente que conhecia os processos e sistemas da empresa como ninguém, estava dando muito trabalho.
Apesar de apresentar bons resultados, o que mais atrapalhava era seu jeito de lidar com os desafios que toda a organização tem. Sabe aquele executivo que é do contra, sempre reclama e “é o rei das justificativas”? Era ele.
A gota d’água ocorreu na negociação das metas de crescimento para o próximo trimestre. O executivo batia o pé que elas não eram viáveis, que o marketing não investia corretamente e que sua equipe de vendas estava estressada. E pior: detonou dizendo que se a meta fosse aquela muitos talentos iriam jogar a toalha e procurar novos rumos. Foi uma espécie de ameaça branca.
A grande dúvida daquele CEO era como proceder: cedia aos apelos do COO e diminuía as metas ou pisava fundo, reafirmava suas convicções, mantinha a meta e corria o risco de perder ele e parte do seu time?
Há três meses conheci o termo “vampiros de energia”. Foi na leitura do livro “You Win in the Locker Room First”, de Mike Smith, que destaca a importância de criar e cultivar uma cultura de alta performance, dando exemplos do Atlanta Falcons, time de futebol americano no qual foi treinador. Fiquei pensando em quantos “vampiros de energia” conheci ao longo da minha carreira e se aquele COO era um deles.
“Vampiro de energia”, como o nome diz, suga a energia dos outros, se alimentando dela para focar na sua agenda individual e em seus interesses. Apresenta pouca preocupação sobre impactos desse egoísmo na agenda coletiva da empresa ou do departamento. Um individualista que se disfarça de colaborativo quando conveniente.
Outra característica do “vampiro de energia” é que ele morde outros alvos, transformando-os em vampirinhos que podem ser pares ou membros do seu time. Contaminados, esse grupo começa a minar a liderança, às vezes batendo de frente, ou demonstrando um sonoro silêncio, sinônimo de baixo engajamento.
Existe ainda aquela espécie que concorda com tudo na frente, mas, por trás, faz uma costura cinza, espalhando dúvidas sobre a efetividade dessa ação.
Certa vez, presenciei um exemplo clássico da atuação de um “vampiro de energia”. Estava em uma reunião de diretoria de uma empresa superconhecida em que o CEO apresentava sua visão do plano de três anos e as premissas de crescimento. Era uma apresentação interativa, acompanhada de sinais de concordância do time.
Chegou a hora do break e, como estava apertado, segui voando para o banheiro. Dali pude presenciar ao vivo como um “vampiro de energia” minava as chances do plano, tentando convencer outro diretor que aquelas estratégias não iriam dar certo, desconhecendo que, em uma das cabines, tinha um espectador privilegiado.
Se os “vampiros de energia” não fossem relevantes na organização, seria óbvio livrar-se deles. Porém, a maioria que conheci de alguma forma ocupava posições importantes, conhecia a história da empresa como ninguém e tinha uma influência em boa parte do seu time, potencializada por uma postura paternalista e de defesa do território. Demitir seria um risco e poderia sacrificar o resultado de curto prazo e perder talentos.
Conversando com aquele CEO sobre suas opções, e tentando gerenciar sua ansiedade e angústia, chegamos a algumas conclusões:
1) um "vampiro de energia" precisa ser eliminado, mesmo entendendo os possíveis efeitos colaterais. Mas isso pode ser programado e não precisa ser abrupto;
2) é raro, porém possível, transformar um “vampiro de energia”. Vale a tentativa.
Foi assim que fizemos naquele caso. Preparamos todas as alternativas com antecedência, caso a saída do “vampiro” fosse necessária. Mas, além disso, elaboramos um roteiro para uma conversa profunda daquele CEO com o seu COO.
A conversa foi dura e o COO espantado disse que ia mudar sua postura. Observamos por três meses e isso não aconteceu e a saída foi a sua partida. Como estávamos bem estruturados, os efeitos colaterais da partida do executivo foram minimizados.
Mas outro fenômeno aconteceu. Com a saída dele, o CEO e seu time ganharam uma nova energia. Parecia outra empresa e um time completamente diferente. Todos estavam muito mais colaborativos e engajados e os resultados apareceram muito mais rápido do que imaginávamos.
O CEO me disse que parecia ter perdido 15 quilos ao resolver aquela situação. Agora, sua energia podia ser dedicada em construir, motivar e reconhecer seu “novo” time. E não em convencer o COO de algo.
Seja você o CEO, o empreendedor ou líder de um pequeno time. Reflita se nele tem um “vampiro de energa”. A minha recomendação é: ou voce ajuda ele a mudar, ou muda ele. Acredite, os benefícios de curto e médio prazo são muito superiores aos riscos dessa decisão.
*Sergio Chaia atua como coach de CEOs, empreendedores e atletas de alto rendimento. Foi chairman da Óticas Carol e CEO da Nextel. Atua como conselheiro da Daus e da Ri Happy. É também conselheiro e educador do Instituto Ser + , uma ONG voltada à recuperação de jovens em situação social de risco preparando sua inserção no mercado de trabalho. Autor do livro “Será que é possível?”