A SouSmile - uma empresa que produz e vende aparelhos dentais “invisíveis”, aqueles de plástico e transparentes - é uma das companhias brasileiras que podem se dar o luxo de dizer que já estão melhores do que antes da pandemia.

Não significa, porém, que esteja tudo às mil maravilhas. Embora o faturamento seja o dobro do que havia antes da crise causada pela Covid-19, a empresa ainda não fecha a conta e opera em “modo de sobrevivência”, nas palavras do CEO e um dos fundadores, o português Michael Ruah, radicado no Brasil há oito anos.

Para acelerar e sair do "modo sobrevivência", a SouSmile acaba de receber um aporte de R$ 96 milhões, em uma rodada Series B liderada pelo fundo Kaszek, seguido por Chromo Invest, GFC, sócios da Atmos Capital, Allievo e Endeavor Scale-up Ventures.

“Estamos em um mercado muito dinâmico, que requer velocidade. Para não perdermos o timing, captamos recursos para crescer de forma rápida e virar referência no mercado”, afirma Ruah, em entrevista ao NeoFeed.

Fundada em 2018 pelo empreendedor e outros cinco sócios, a SouSmile aposta em um modelo verticalizado. A companhia produz os aparelhos e os vende em clínicas próprias. Hoje, são seis unidades, espalhadas por São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília, que contam com 60 dentistas, de 160 funcionários.

Porém, quando a pandemia chegou e trancou as pessoas em casa, o faturamento da SouSmile caiu 90% nos primeiros meses, em relação ao pico atingido em janeiro de 2020. Uma das saídas da companhia foi recorrer a parcerias com dentistas independentes, após perceber que eles também estavam carentes de clientes.

“Nas 50 mil clínicas odontológicas do Brasil, havia uma ociosidade média de 40%, então procuramos dentistas parceiros que topassem disponibilizar seus horários em nossa plataforma”, conta Ruah. “Eu levava os clientes para ele, com o nosso aparelho, e ele poderia vender outros serviços e fidelizar. Era um ganha-ganha”.

Em julho, quando o País ensaiava uma reabertura e a SouSmile contava com 25 dentistas parceiros, o negócio já havia se recuperado. A receita, que a companhia não revela em números absolutos, estava o dobro do recorde atingido em janeiro.

Michael Ruah, CEO da SouSmile

Para aumentar o ritmo e quadruplicar o faturamento em 2022, o dinheiro novo do aporte será investido em três frentes. A primeira é em marketing, para tornar a empresa mais conhecida. “Até hoje, estávamos investindo para atingir pessoas que já estão procurando ou considerando comprar os aparelhos. Agora, vamos investir mais na marca para gerar demanda”, diz o CEO.

O segundo pilar será a expansão do número de dentistas parceiros. A ideia é saltar dos atuais 25 para 200 até o fim do ano que vem. Assim, conseguirá chegar a 81 cidades e 24 estados. Hoje, a SouSmile, com rede própria e parceiros, está em 36 cidades e 21 estados. Novas clínicas também devem ser abertas, mas a empresa ainda não definiu onde e nem quantas.

Por último, a empresa quer investir mais em tecnologia, para desenvolver novos produtos. “Hoje, estamos mais focados no simples alinhamento e nivelamento dos dentes. Em janeiro, queremos atender casos mais abrangentes”, afirma o CEO da companhia, que tem uma equipe de 12 engenheiros para desenvolver as novidades.

"A forma como a SouSmile atua, trabalhando diretamente com o consumidor de seus produtos e fazendo parcerias com profissionais, é um modelo ganhador", afirma Santiago Fossatti, sócio do fundo Kaszek, que liderou o aporte.

Uma das apostas da SouSmile para crescer no mercado é o preço. A verticalização do negócio, com a empresa cuidando da produção ao atendimento, contribui, diz Ruah, para a companhia ter mais eficiência nos custos e conseguir baixar o preço em relação ao mercado. “Os preços dos aparelhos invisíveis no Brasil são proibitivos e, por isso, ficam restritos a uma elite”, afirma.

Hoje, no mercado brasileiro, a SouSmile compete com nomes como Invisalign e Smilink, que também produzem aparelhos invisíveis. Por ter clínicas próprias, também está concorrendo com as clínicas odontológicas que não produzem, mas que oferecem o tratamento por meio de seus dentistas, com produtos de terceiros.

O Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP), pelo qual a SouSmile é regulada, não permite que a companhia fale em preços, mas, a partir de um orçamento solicitado por meio do site da empresa, é possível ter acesso aos valores, que giram em torno de R$ 4,5 mil. No mercado, um aparelho invisível pode chegar a R$ 12 mil.

Nos Estados Unidos, os aparelhos invisíveis são mais populares, por terem preços mais acessíveis. De todos os tratamentos que são realizados, 40% são feitos com aparelhos invisíveis, enquanto o restante ainda é realizado com o aparelho tradicional, metálico. No Brasil, a proporção é 10 vezes menor, com 4% de adesão.

Os brasileiros, porém, procuram tratamento para corrigir a posição dos dentes, com qualquer aparelho, tanto quanto os americanos. Por aqui, são 2 milhões de casos por ano, ou 1% da população, de 212 milhões de habitantes. Nos EUA, são 3 milhões por ano, também 1% das 329 milhões de pessoas que vivem no país.