Poucas áreas têm passado por transformações tão intensas nos últimos anos quanto a saúde. O uso de robôs em cirurgias, a adoção de sistemas de Inteligência Artificial para tratamentos e diagnósticos, o emprego irrestrito do Big Data em todas as frentes, as inéditas soluções trazidas pelas healthtechs e a digitalização de produtos e serviços são alguns dos fatores que fizeram a medicina experimentar uma verdadeira revolução.
Nesse contexto, hospitais, clínicas, laboratórios e empresas que integram o ecossistema da saúde foram obrigados a reorganizar as suas operações, ajustando-as à nova era. Médicos e pacientes também tiveram de se adaptar às mudanças, que ganharam ainda mais velocidade com a pandemia da COVID-19.
“A pandemia trouxe ensinamentos e a possibilidade de convertê-los em aceleradores de transformações na área da saúde no Brasil e no mundo”, destaca Rodrigo Demarch, diretor-executivo de Inovação e Gestão do Conhecimento do Einstein.
Atento à nova realidade, o Einstein promoveu, entre os dias 17 e 20 de novembro, o evento “Einstein Frontiers”, que teve como premissa debater as fronteiras tecnológicas e do conhecimento no setor da saúde – tão intensamente estimulados pelo Eretz.bio, o ecossistema de inovação do Einstein. O Frontiers, porém, não abordou apenas as mudanças em curso, mas trouxe também, conforme destaca Demarch, um olhar para o futuro.
Para isso, os mais de 50 painéis contaram com a participação de convidados internacionais, especialistas do Einstein e de grandes empresas brasileiras. Acompanhe a seguir os principais temas debatidos no Einstein Frontiers e os impactos que eles geram no setor da saúde.
Inteligência Artificial e Big Data
É consenso entre especialistas que a Inteligência Artificial se tornou aliada indispensável da medicina. Segundo Mengling Feng, professor da Universidade de Singapura, as ferramentas de IA melhoram os diagnósticos, tornam os tratamentos mais precisos e ampliam de maneira expressiva o fluxo de informações disponíveis para os médicos.
Feng falou sobre como a colaboração estreita entre cientistas da computação e equipes da saúde podem refinar diagnósticos. Em exames de mamografia, a Inteligência Artificial já é capaz de, a partir da análise de imagens, chegar aos mesmos diagnósticos feitos por radiologistas com décadas de experiência.
Referência em estudos sobre como o Big Data pode revolucionar a área da saúde, o médico Leo Anthony Celi, do MIT explicou como a pandemia acelerou ferramentas de análise preditiva de dados.
Segundo ele, jamais um volume tão grande de informações foi compartilhado de forma tão rápida entre pesquisadores, institutos acadêmicos e especialistas da indústria da saúde. Graças à análise de dados quase em tempo real, foi possível definir estratégias de combate à pandemia e até protocolos de atendimento aos pacientes.
O Einstein Frontiers também contou com a participação de Akshay Chaudhari, professor do departamento de radiologia da Universidade Stanford, e Nick Guldelmond, pesquisador-sênior da Leiden University Medical Center.
Em ambas as palestras, ficou evidente que os sistemas de Inteligência Artificial e Data Analytics não foram projetados para substituir médicos, mas, acima de tudo, municiá-los com mais elementos para as tomadas de decisão. A IA, ressalte-se, jamais tomará o lugar da relação médico-paciente.
O uso de Inteligência Artificial e Big Data em sistemas públicos de saúde também estiveram no foco dos debates. Os palestrantes abordaram a chamada “Estratégia de Saúde Digital para o Brasil 2020-2028”, um conjunto de ações definido pelo governo federal para potencializar a saúde digital no país.
A conclusão é que a sociedade pode – e deve – contribuir para a melhoria dos sistemas de saúde, sejam entes públicos ou privados. Com o 5G, tecnologia recém-chegada ao país, a digitalização tende a avançar, o que será vital para a consolidação do ecossistema de interconectividade no Brasil – e portanto, para aplicação de IA e Big Data em todas as frentes da medicina.
Cirurgia robótica
O Einstein Frontiers trouxe uma novidade. Em um dos painéis, Sidney Klajner, presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, anunciou que a unidade de Goiânia receberá, em dezembro, seu primeiro robô para a realização de cirurgias.
Klajner lembrou também que o hospital possui inúmeras parcerias na área de cirurgia robótica. Uma delas foi formalizada em abril passado com o City of Hope, centro de saúde americano que é uma das referências mundiais em pesquisa de câncer e diabetes.
Presidente do departamento de cirurgia do City of Hope, o médido Yuman Fong fez questão de ressaltar que, sozinha, a tecnologia de nada adianta: “Só podemos chamar de inovação na medicina quando uma solução traz cura sendo menos invasiva e com custo acessível. Isso é o futuro.”
Fong lembrou os avanços trazidos pelas cirurgias laparoscópicas – aquelas menos invasivas –, mas disse que há muito por evoluir. Alguns pontos trazidos pelo especialista parecem triviais, mas podem tornar as cirurgias mais simples e eficazes.
Ele questionou por que os equipamentos ainda precisam estar ligados à tomada ou sugeriu que é preciso melhorar o campo de visão das câmeras, o que tornará o trabalho dos cirurgiões ainda mais eficaz.
Um aspecto fundamental diz respeito ao monitoramento dos pacientes após as cirurgias feitas por robôs. Como eles vão para casa muito cedo – afinal, os procedimentos são menos invasivos –, a comunidade médica deveria focar no desenvolvimento de dispositivos que permitam acompanhar o paciente a distância.
Fong traz o exemplo do marcador de passos. “Se descobrirmos, por exemplo, que a pessoa operada deu 5 mil passos em um curto espaço de tempo, saberemos que ele está se recuperando bem”, disse.
Como outros palestrantes, o especialista frisou a importância dos aspectos humanos. “Os robôs permitem precisão e detalhes impossíveis para o olho humano, mas compaixão, amor e respeito aos desejos do paciente ainda são exclusividade dos médicos”, disse.
O segundo palestrante do painel de cirurgia robótica foi o Dr. Moisés Cohen, ortopedista no Hospital Israelita Albert Einstein, diretor do Instituto Cohen de Ortopedia, Reabilitação e Medicina do Esporte e Professor titular de Ortopedia e Medicina do Esporte da Unifesp. Ele trouxe dados sobre o envelhecimento da população, o que certamente aumentará o uso de próteses.
Segundo ele a cirurgia robótica para a aplicação de próteses já é mais eficaz do que aquela feita apenas por humanos, reduzindo sangramentos e o tempo de internação dos pacientes.
Medicina de precisão
O médico americano John Halamka se dedica diariamente a uma tarefa desafiadora: fazer com que algoritmos sejam capazes de realizar diagnósticos precisos de doenças. Chefe da Mayo Clinic Platform, a área de negócios digitais da Mayo Clinic, uma rede de clínicas médicas dos Estados Unidos, ele falou sobre os notáveis avanços em sua área de atuação.
Segundo Halamka, os algoritmos já possuem habilidades suficientes para prever doenças a partir da análise apurada do estilo de vida da pessoa e de suas características genéticas.
Não apenas isso. Eles podem analisar, em questão de segundos, o histórico de exames de um determinado paciente e descobrir se ele tem chance de desenvolver algum tipo de câncer.
Os avanços são mesmo extraordinários. Halamka explicou no Einstein Frontiers como a assistente virtual Siri detecta sinais de hipertensão pulmonar a partir do tom de voz da pessoa e como os algoritmos capturam mudanças de padrões de fala que revelam exaustão mental ou ansiedade.
Ele citou também os algoritmos que analisam a frequência e os tipos de postagens em redes sociais. A partir desses dados, é possível detectar mudanças de comportamento e, assim, apontar futuros problemas de saúde.
Halamka tocou num ponto sensível: podemos, de fato, confiar nos algoritmos? Ele afirmou no evento que é preciso ter parâmetros para que se saiba com 100% de certeza que eles são confiáveis e podem ser usados com segurança. As novas tecnologias, afinal, serão cada vez mais usadas por todos os entes da área da saúde. Na medicina, o futuro já chegou.
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