Nestes últimos meses, tem ocorrido um movimento de migração dos ativos de risco para a boa e velha renda fixa. Dados da Anbima mostram que depois de quatro anos de captação líquida, os fundos de renda variável tiveram resgate de R$ 15,3 bilhões em 2021. Já os fundos de renda fixa, que vinham amargando resgates desde 2018, tiveram aplicação de R$ 224,7 bilhões no mesmo período.
O principal candidato para explicar esse fluxo é a taxa básica de juros subindo de um nível de 2% para dois dígitos. Para entendermos melhor como chegamos nesta situação, vale voltarmos um pouco no tempo e fatiar a história recente da taxa de juros no Brasil em três períodos:
• Primeiro o período entre 1996 a 2016, quando a política fiscal foi predominantemente expansionista e a política monetária, na média, restritiva, dueto conhecido como “um pé no acelerador e outro no freio”. A taxa de juros neste período rodou na média acima de 10%;
• Segundo período entre 2016 e 2020 com a política fiscal menos expansionista após a aprovação do Teto de Gastos, o que abriu espaço para a política monetária na média ficar menos restritiva. Consequentemente, a taxa de juros chegou em 4,25%;
• Terceiro período a partir de março de 2020, quando, em resposta à Covid-19, tanto países desenvolvidos como emergentes fizeram uma forte expansão fiscal e afrouxaram ainda mais suas políticas monetárias. E todo estímulo começou a cobrar a conta via inflação em 2021. Aqui no Brasil, a taxa Selic chegou ao polêmico 2,0%.
O mundo desenvolvido não via uma inflação nessa magnitude desde a década de 1980, e os bancos centrais no mundo inteiro agora se deparam com o desafio de retirar os estímulos monetários sem impactarem fatalmente suas economias. Ironicamente, muitos desses países desenvolvidos que há pouco tempo brigavam para levar a inflação do seu país para cima de suas metas, se mostram despreparados para a situação em que se encontram.
Já o Banco Central do Brasil tem o mérito de ter saído bem na frente do resto do mundo e se encontra hoje próximo do fim desse ajuste em sua política monetária. Mesmo assim, é difícil acreditar que veremos nos próximos anos o CDI ceder novamente para patamares próximos a 4%.
É neste contexto de um mundo restringindo sua política monetária que voltamos ao ponto inicial do nosso texto, com o investidor brasileiro assumindo uma instância defensiva saindo dos fundos de renda variável voltando para os de renda fixa.
Esse cenário de taxa de juros subindo restringe bastante as opções de investimento para o investidor pessoa física. O CDI de 11,65% torna menos óbvio investir em bolsa ou ter investimentos em dólar, ativos que se popularizaram no período entre 2016 e 2020. Já quem volta a brilhar de forma silenciosa são os hedge funds, que aqui no Brasil são conhecidos como fundos multimercados.
Somente neste 2022, o IHFA (Índice de Hedge Funds Anbima) está performando mais de 6%, enquanto o IRF-M (índice de títulos públicos pré-fixados) e o IMA-B (índice de títulos públicos indexados ao IPCA) orbitam o CDI, que rendeu 2,5%.
A capacidade dos fundos multimercados de comprar proteção dinamicamente em momentos de grande incerteza, como o que estamos vivendo, é um grande diferencial para o investidor proteger sua carteira. É o conceito de “alpha”, que, de forma simplista, é agregar retorno ao portfólio quando ativos passivos estão em um momento difícil.
Sem um bom assessor de investimentos, que dispõe de boas ferramentas quantitativas, o investidor pessoa física pode acabar fazendo comparações equivocadas sobre fundos multimercados. Um erro comum é comparar o retorno futuro de um ativo de renda fixa pré-fixado com o retorno passado de um fundo multimercado.
Por exemplo, compara-se uma LTN 2025 cotada hoje em, aproximadamente, 11,3% ao ano ao retorno dos multimercados nos últimos dois anos, que, como referência do IHFA, rodou a 6,3% ao ano. Olhar um retorno futuro contra um retorno passado é como comparar banana com maçã.
Os multimercados brasileiros miram entregar a rentabilidade do CDI mais um percentual extra, que em geral varia entre 2% e 10%, dependendo da volatilidade do produto. Como a classe multimercado é vasta, os assessores de investimentos são essenciais. Já que eles fazem uma longa avaliação qualitativa sobre os gestores responsáveis pelos fundos, o que exige tempo e mão de obra experiente na área. Além disso, rodam modelos quantitativos, para continuamente avaliar a performance da indústria e separar o joio do trigo para o cliente final.
Dado o “capacity” limitado da indústria de multimercados brasileiros, os distribuidores mais experientes sabem que em breve muita gente vai entrar nas plataformas e ver que os multimercados estão performando bem acima do CDI. E já estão se movimentando antes para alocar o recurso da alta renda brasileira em bons nomes enquanto ainda estão abertos.
*Jonas Doi é co-CEO e portfólio manager Brasil da Alphatree Capital