Ouvir o ronco do motor de uma Ferrari é essencial para aqueles poucos consumidores afortunados com recursos para comprar um carro da marca. Talvez até mesmo por isso, a montadora italiana nunca fez muito barulho sobre os seus planos na transição da indústria automotiva para a eletrificação.
Entretanto, nesta quinta-feira, a empresa mudou de direção e deixou claro que está se rendendo a essa tendência. Entre outras novidades, a Ferrari confirmou que irá lançar seu primeiro modelo 100% elétrico até 2025 e projetou que a categoria irá representar quase a metade do seu portfólio até 2030.
A estratégia foi um dos temas abordados em um evento destinado a investidores. E uma das frases ditas durante a apresentação deixa claro que, ao entrar de vez nessa corrida, a companhia quer reforçar que irá preservar os atributos que foram o motor para que a marca se tornasse um dos ícones do setor.
“A Ferrari totalmente elétrica será uma Ferrari”, afirmou Benedetto Vigna, CEO da Ferrari, segundo o Wall Street Journal. O jornal americano destacou justamente o desafio da empresa em fazer a transição para o “mundo silencioso” dos motores elétricos.
Como parte dessa migração, a Ferrari anunciou o plano de que, até 2026, 40% dos seus modelos sejam equipados com motores tradicionais. A fatia dos veículos híbridos nessas linhas será de 55% e a dos elétricos de 5%.
Já em 2030, a previsão da companhia é de que os carros elétricos alcancem uma participação de 40% do seu portfólio, a mesma representatividade projetada para os veículos híbridos no período, com os 20% restantes reservados aos modelos a combustão.
Em mais um recado para realçar o cuidado que terá para não desapontar os aficionados pela marca, a companhia ressaltou que seus motores elétricos serão projetados, fabricados e montados manualmente em sua fábrica em Maranello.
Nesse ponto, a Ferrari também destacou em comunicado que a produção desses motores seguirá a dinâmica dos motores de combustão interna, com recursos como a transferência de tecnologias do mundo das corridas, mecânica de precisão, dinâmica de fluidos e software de desempenho.
Em paralelo, a montadora confirmou o lançamento de mais um modelo híbrido para setembro deste ano. Batizado de Purosangue, ele terá um motor de 12 cilindros e irá reforçar o portfólio da empresa nessa categoria, que já conta com outras quatro opções.
Já em relação ao modelo 100% elétrico a ser lançado até 2025, a Ferrari ressaltou no comunicado que ele irá se destacar em "potência do motor, peso, som (Ufa!) e emoções de condução".
Ao mesmo tempo, a empresa divulgou um guidance dentro do seu plano estratégico para os próximos quatro anos, que inclui o lançamento de 15 carros. Para 2026, a companhia projeta uma receita líquida de € 6,7 bilhões; um Ebitda entre € 2,5 bilhões e € 2,7 bilhões; e uma margem Ebitda entre 38% e 40%.
No primeiro trimestre de 2022, a Ferrari reportou uma receita líquida de € 1,1 bilhão, alta de 17% na comparação com o mesmo intervalo de 2021. No período, o volume de carros vendidos também subiu 17%, para 3,2 mil unidades.
A empresa está avaliada em US$ 32,8 bilhões na Bolsa de Nova York e suas ações acumulam uma desvalorização de quase 33% em 2022. Nesta quinta-feira, os papéis estavam sendo negociados com uma queda de 1,89%, por volta das 15h30 (horário local).
Ao dar mais detalhes sobre o seu plano na arena da eletrificação, a Ferrari embarca em uma corrida que já atrai os investimentos de outras marcas ícones do setor, como Porsche e Audi.
Nessa direção, um dos movimentos mais recentes foi dado pela também italiana Lamborghini. Em maio desse ano, a montadora divulgou que vai destinar € 1,5 bilhão na frente de carros elétricos nos próximos quatro anos.
“O plano de eletrificação da Lamborghini é necessário no contexto de um mundo em mudança radical, onde queremos dar nossa contribuição continuando a reduzir o impacto ambiental por meio de projetos concretos”, afirmou, Stephan Winkelmann, CEO da Lamborghini, em nota, na época.