Antes vista como a terra prometida para os investidores, dado o crescimento econômico de dois dígitos e a ascensão tecnológica local, a China se transformou numa dor de cabeça para os investidores de startups. Pesquisas mostram que devido a diversos fatores que vão da pandemia às condições políticas, ficou mais difícil levantar capital no país.
De acordo com a consultoria chinesa ITjuzi, a arrecadação dos fundos locais que investem em startups no país caiu 38% no primeiro semestre deste ano. Isso fez com que o número de deals realizados também diminuísse, na faixa de 19%.
Outros dados, agora da consultoria Preqin, apontam que apenas US$ 5 bilhões foram movimentados por fundos de private equity e venture capital focados na China durante o primeiro semestre desse ano. O valor é 94% menor do que o registrado no mesmo período do ano anterior. Também é a cifra mais baixa já vista desde 2009.
“Arrecadar dinheiro costumava ser difícil, mas gerenciável. Mas, desde 2021, tornou-se difícil para nós e para os investidores”, disse um empreendedor fundador de uma empresa de drones na China e que pediu para não ser identificado pela reportagem do Financial Times.
O problema é que o dinheiro está escasso na fonte. Gestores de fundos de private equity e de venture capital na China, principalmente aqueles de menor porte, afirmam que aumentaram os desafios na captação de recursos financeiros que serão investidos em períodos de cinco a dez anos ou até por mais tempo.
Um exemplo é a Genesis Capital, gestora liderada por ex-executivos da Tencent. No ano passado, a companhia abriu uma rodada de captação para seu terceiro fundo. O objetivo era arrecadar US$ 1 bilhão para investir em novas empresas. Com a falta de capital, o cronograma de captação precisou ser estendido.
Há ainda outros casos, como a Centurium Capital, que chegou a levantar US$ 1,9 bilhão para seu primeiro fundo há três anos. Neste ano, a gestora captou apenas US$ 250 milhões para seu segundo veículo de investimento. Já a Coatue Management arrecadou menos de US$ 1 bilhão como parte da meta de buscar entre US$ 1,5 bilhão e US$ 2 bilhões para seu fundo inaugural na China.
Nos Estados Unidos, fundos de pensão estão reconsiderando os investimentos na China. Há discussões em andamento no Conselho de Administração do Estado da Flórida, que administra US$ 245 bilhões em ativos, para reduzir a exposição no país asiático. Uma fatia de 2,8% da carteira está alocada na China.
A cautela de quem está por trás do dinheiro se dá pelas restrições comerciais impostas pelo governo chinês como forma de tentar reduzir os casos de contaminação por Covid-19. Políticas de lockdown podem prejudicar alguns negócios que dependem da circulação de pessoas nas ruas. Existe também o temor de que a China entre no alvo de sanções ocidentais como aquelas impostas contra a Rússia.
O que também atrapalha é a lentidão burocrática para a finalização das novas regras que ditam os termos sobre a venda de ações de empresas chinesas fora da Ásia. Sem uma regulamentação específica, há maior dificuldade para o desinvestimento. Consequentemente, isso afasta os investidores que temem ficar presos às ações.
Ainda assim, há no mercado uma expectativa de que o mau momento é passageiro. E que a crise não é exclusivamente chinesa. “Globalmente, todos os lugares têm riscos agora, seja inflação, política ou uma crise de energia”, disse Patrick Zhong, da M31 Capital para o Financial Times. “Ninguém achará fácil levantar capital com a liquidez secando, mas grandes empresas conseguirão fazer isso.”