A trama envolvendo a Binance e a FTX chegou ao episódio final com uma reviravolta. Nesta terça-feira, 8 de novembro, as duas empresas anunciaram que chegaram a um acordo de M&A que fará com que a Binance, uma das gigantes no mercado de criptomoedas, passe a controlar a operação da rival.
O negócio, cujos detalhes são mantidos em sigilo, foi anunciado pelo bilionário Sam Bankman-Fried, fundador da FTX. Em uma postagem no Twitter, o ele disse que concordou com uma “transação estratégica”.
“O círculo ficou completo e o primeiro e último investidor da FTX será o mesmo. Chegamos a um acordo para uma transação estratégica entre Binance e FTX”, escreveu Bankman-Fried ao relembrar que a concorrente havia investido na exchance, no início da sua operação.
Com sede em Bahamas e fundada em 2019, a FTX é uma das principais empresas de criptoativos do mercado. Ao todo, já levantou mais de US$ 1,8 bilhão em aportes de investidores como Softbank, Tiger Global, Temasek Holding, Lightspeed Venture Partners e Insight Partners.
O último aporte - de valor não revelado - foi feito em março deste ano, pela investidora-anjo e jogadora profissional de tênis Naomi Osaka. Em setembro de 2021, a rede americana CNBC noticiou que a FTX poderia realizar mais uma rodada de captação em busca de um round superior a US$ 1 bilhão e que avaliaria a companhia em US$ 32 bilhões.
O acordo desta terça-feira foi selado após um script envolvendo as duas empresas e seus fundadores. No domingo, 6 de novembro, Changpeng Zhao, fundador da Binance, despertou questionamentos sobre o token FTT, criado pela FTX, ao afirmar, também via Twitter, que iria liquidar as posições que mantinha no ativo.
A postagem gerou uma onda de pedidos de saques da FTX e acendeu o alerta a respeito de uma possível crise de liquidez na operação. Na segunda-feira, 7 de novembro, Bankman-Fried foi a público afirmar que a FTX tinha "o suficiente para cobrir todas as participações dos clientes” e mais de US$ 1 bilhão em caixa.
Por volta das 15h desta terça-feira, o token registrava queda de 27% nas últimas 24 horas. Isso representa uma queda de quase US$ 600 milhões no valor total do ativo, fazendo com o que token tenha um valor de mercado atual inferior a US$ 2,2 bilhões.
“Eu sei que houve rumores na mídia de conflito entre nossas duas exchanges”, escreveu Bankman-Fried. “No entanto, a Binance mostrou repetidamente que está comprometida com uma economia global mais descentralizada, enquanto trabalha para melhorar as relações da indústria com os reguladores. Estamos nas melhores mãos.”
Segundo documentos revelados em uma reportagem publicada pela rede americana CNBC, em agosto, a receita da FTX cresceu mais de 1.000% em 2021, superando a casa de US$ 1 bilhão. No período, a empresa apurou um lucro de US$ 388 milhões. Para esse ano, a projeção era de que a receita alcançasse o patamar de US$ 1,1 bilhão.
Não é fácil estimar o tamanho de uma exchange sem ter acesso a dados financeiros da operação. Em termos de visitas semanais, a FTX foi a terceira exchange que mais recebeu acessos, com 2,3 milhões de conexões na última semana. Ficou atrás somente da Bybit com 4 milhões e líder Binance, com 16,3 milhões de acessos.
A união de forças entre as duas exchanges pode acirrar a disputa contra a Coinbase, empresa avaliada em US$ 14,3 bilhões e que reportou um desempenho ruim no último trimestre.
Entre julho e setembro, a receita da Coinbase caiu mais de 50%, para US$ 590 milhões, abaixo da expectativa do mercado, que estava na faixa de US$ 654 milhões. A companhia registrou prejuízo de US$ 545 milhões no período, contra um lucro de US$ 400 milhões, um ano antes.
Ainda que o acordo tenha sido celebrado por Bankman-Fried, não há certeza de que a operação realmente vai sair do papel. Para Gracy Chen, diretora administrativa da Bitget, uma das concorrentes da Binance, “é altamente improvável que a Binance consiga adquirir a FTX” e que não faz sentido do ponto de vista lógico para um negócio.
Para a executiva, há um mistério sobre as razões pelas quais a Binance gastaria dinheiro para a aquisição, já que a FTX enfrenta problemas financeiros, seus usuários também são usuários da Binance e não possui uma licença própria para operar nos Estados Unidos – a operação em solo americano se dá por outra empresa do grupo.
Chen ainda afirma que o movimento de M&A realizado pelas duas gigantes do mercado de criptoativos “é um dano para a indústria e uma humilhação para a descentralização” e que, apesar de parecer uma vitória para a Binance, a transação pode trazer efeitos negativos no longo prazo.