O governo chinês adquiriu participações minoritárias, mas com direitos especiais, de empresas das gigantes de tecnologia Alibaba e ByteDance, dona da rede social TikTok, e prepara ação semelhante em unidades da Tencent, conglomerado chinês de mídia e telecomunicações.
O movimento, revelado na sexta-feira 13, pelo jornal britânico Financial Times, teria como objetivo fortalecer o controle do governo chinês sobre o conteúdo online no país, parte de uma estratégia mais ampla que vem sendo desenvolvida nos últimos dois anos de fiscalizar a gestão das empresas de tecnologia do país – que teve justamente o Alibaba como maior alvo.
As chamadas golden shares, equivalentes a cerca de 1% de uma empresa, são compradas por fundos ou companhias ligadas ao governo chinês. Elas dão direito à representação no Conselho de Administração e veto para decisões de negócios.
A investida nas unidades do Alibaba, até então desconhecida, ocorreu em setembro do ano passado por meio de um fundo de investimento da estatal, Zhejiang Media Group. O fundo assumiu uma participação de 1% na unidade Youku Film and Television do Alibaba, com sede em Xangai.
Outro ente estatal, braço da Administração do Ciberespaço da China, adquiriu em janeiro 1% de uma subsidiária de mídia digital do Alibaba em Guangzhou.
O portfólio de mídia da empresa inclui negócios como a plataforma de streaming Youku e o navegador móvel UC Web.
Também estão em andamento discussões sobre uma entidade governamental assumir uma participação semelhante em uma subsidiária da Tencent, conglomerado com forte atuação em jogos de entretenimento e redes sociais.
Anteriormente, fundos ou empresas estatais adquiriram ações de ouro da Full Truck Alliance, bem como da Kuaishou Technology, sediada em Weibo, que é dona da plataforma de vídeos curtos Kwai, rival do Tiktok.
Fiscalização regulatória
A ofensiva estatal sobre grandes empresas de tecnologia privadas chinesas teve início no final de 2020, quando o governo do presidente Xi Jinping anunciou uma ampla investigação em 14 das maiores plataformas financeiras do país que operam na internet, que vinham tendo crescimento rápido e livre de controle.
Além de revisar procedimentos fiscais e financeiros das plataformas, o governo demonstrou preocupação com o avanço do mercado de jogos online no país.
A repressão regulatória levou a pesadas multas e eliminou mais de US$ 1 trilhão em valor de mercado das maiores empresas de tecnologia chinesa de capital aberto do país.
Na segunda-feira, 9 de janeiro, Guo Shuqing, presidente da Comissão Reguladora de Bancos e Seguros da China, disse à mídia estatal que o governo havia concluído as investigações, “com apenas pequenos problemas a serem resolvidos”.
No dia seguinte, a gigante de tecnologia financeira Ant Group anunciou que seu fundador, o bilionário chinês Jack Ma, cederia o controle da empresa.
A Ant, que opera a plataforma popular de pagamentos móveis Alipay, está reformulando suas operações desde que os reguladores chineses a forçaram a cancelar de última hora uma oferta pública inicial (IPO), em novembro de 2020.
A Ant diz que não há planos para um IPO e que está focada em “retificar e otimizar seus negócios”. O crescimento provavelmente será mais lento e sua avaliação, inferior aos mais de US$ 300 bilhões que teria obtido em 2020.
Em comparação, o Alibaba, que possui um terço da Ant, está avaliado em cerca de US$ 300 bilhões atualmente, depois de perder quase dois terços de seu valor desde o pico do final de 2020.
No final de dezembro, quando o governo começou a afrouxar o programa de tolerância zero da Covid-19, suspendendo várias restrições para retomar o crescimento econômico, algumas medidas sinalizaram o fim do cerco às gigantes tech.
As autoridades relaxaram até as regras para permitir que as empresas domésticas de jogos tragam títulos de videogame importados, indicando o início de mais um ciclo de “novo normal” entre as gigantes tech chinesas, alvo recorrente de fiscalização pelo governo.