Até agora era dado como certo que um salário de US$ 75 mil seria suficiente para uma pessoa ser feliz. Valores maiores teriam pouca influência no bem-estar emocional proporcionado pelo dinheiro.
Mas uma nova pesquisa está colocando por terra esse consenso. Um estudo publicado na última edição da revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences, indica que é preciso muito mais dinheiro para ser feliz: US$ 500 mil.
O trabalho foi conduzido por dois dos mais importantes pesquisadores do assunto, os americanos Daniel Kahneman e Matthew Killingsworth. Psicólogo, professor da Universidade Princeton e ganhador do Prêmio Nobel de Economia, de 2002, Kahneman foi um dos primeiros estudiosos a colocar um preço para a felicidade. É de sua autoria a tese dos US$ 75 mil.
Em 2021, porém, Killingsworth publicou um artigo, no qual defendia a tese de que o contentamento com a vida continua a aumentar para além dos US$ 75 mil. Em uma espécie de tira-teima científico, ele e Kahneman resolveram se juntar em uma terceira pesquisa.
Os pesquisadores acompanharam 33,4 mil americanos, entre 18 e 65 anos. Os voluntários foram convidados a dar notas para seu estado de espírito, em momentos aleatórios do dia, por meio do aplicativo “Track Your Happiness”, desenvolvido pelo professor da Pensilvânia, especialmente para o estudo.
Assim, eles chegaram à conclusão de que a nossa felicidade é maior quanto maiores são nossos rendimentos, pelo menos, até o teto do meio milhão de dólares.
A pesquisa de Kahneman e Killingsworth descobriu, porém, um grupo de infelizes, para os quais, o dinheiro faz alguma diferença, mas apenas até bater na casa dos US$ 100 mil anuais. Entre os 20% dos voluntários, estão os enlutados e os depressivos, por exemplo.
Curiosamente, essas pessoas, segundo o pesquisador da Pensilvania, tendem a “ganhar mais com o aumento da renda do que os mais felizes”. “O dinheiro não é o segredo da felicidade, mas pode ajudar”, afirma Killingsworth, em comunicado.
Divulgado no início de fevereiro passado, outro trabalho, esse da Universidade de Oxford, na Inglaterra, revela uma relação logarítmica entre ter rendimentos maiores e bem-estar emocional.
Suponhamos que você ganhe R$ 30 mil por mês e seu salário salte para R$ 60 mil. Que alegria! Se os R$ 60 mil sobem para R$ 90 mil, você provavelmente ficará contente, mas não com a mesma intensidade experimentada dos R$ 30 mil para os R$ 60 mil.
Para a mesma recompensa emocional, seus rendimentos deveriam dobrar novamente, para R$ 120 mil, e assim, sucessivamente, mostra a pesquisa liderada pelo belga Jan-Emmanuel De Neve, professor de Economia e Ciências Comportamentais, da universidade inglesa.
Em seu trabalho, como nas pesquisas de Kahneman e Killingsworth, De Neve também encontrou um patamar semelhante ao anotado pelos americanos, a partir do qual ter mais dinheiro faz menos diferença em termos de retorno emocional.
Coautor do relatório da ONU sobre felicidade no mundo, De Neve lembra que, a partir desse teto, depois de garantidas as necessidades básicas, outros fatores influenciam a matemática da felicidade. Tais como viver em um país igualitário, ter amigos e ser independente – financeira e emocionalmente.
Nossa relação com dinheiro e o conforto psicológico proporcionado por ele está entre as mais complexas do ser humano. Passa longe das planilhas e fórmulas matemáticas e, como defende o americano Morgan Housel, sócio da empresa de capital de risco Collaborative Fund e autor do best-seller A psicologia financeira – Lições atemporais sobre fortuna, ganância e felicidade, se pauta pela subjetividade das emoções.