Nos últimos meses, a Canary realizou uma pesquisa com a base de fundadores das startups que estão em seu portfólio. Entre as perguntas, a gestora quis saber quando esses empreendedores cogitavam buscar um novo aporte. A resposta foi quase unânime: entre o fim de 2023 e o começo de 2024.
Na visão dos participantes, a expectativa é a de que os ventos do mercado de venture capital mudem de direção e passem a soprar a favor das empresas. O problema, porém, é que há muitos empreendedores esperando pela mesma brisa. E nem todos devem conseguir esse refresco.
“Todo mundo quer levantar capital ao mesmo tempo. Vai ter muita demanda”, disse Marcos Toledo, cofundador e managing partner da Canary, durante sua participação em um dos painéis realizados nesta quinta-feira, 30 de janeiro, no South Summit Brazil. “Ou você levanta capital antes ou depois.”
Na prática, Toledo seguiu a linha do ditado que diz que "mais vale um pássaro na mão do que dois voando". “Para navegar nesta crise, ou você corta custos ou levanta dinheiro, mesmo que em um down round”, disse. “O importante é colocar capital para dentro.”
Nessa corrida para captar recursos, a tendência é de que empreendedores que já estejam com suas empresas em estágios mais avançados (late stage) encontrem mais dificuldades do que startups que ainda estão no early stage. “Estamos vendo atividade do seed até a série B”, disse Toledo.
A Canary já investiu em startups que estão justamente nesse estágio que, na visão de Toledo, deve enfrentar um cenário mais desafiador na captação. Entre os nomes que compõem seu portfólio e se enquadram nesse perfil estão Loft e Facily. A primeira já levantou mais de US$ 700 milhões, enquanto a segunda captou US$ 500 milhões, segundo dados do portal americano Crunchbase. Ambas já realizaram rodadas até a série D.
Para Rodrigo Baer, da Upload Ventures, “o late stage está completamente parado” e “boa parte das empresas não vai conseguir levantar dinheiro”. As companhias mais propensas a falhar nesta missão, na visão do executivo que está a frente da gestora que tem em sua carteira participações em Olist e WildLife Studios, são aquelas que apresentam problemas em seus índices financeiros, principalmente em unit economic.
Já no early stage, Baer afirma que os deals seguem acontecendo, mas que a festa acabou. “O mercado voltou à racionalidade e tem investimentos sendo realizados”, disse Baer. “Só que aquele ritmo de festa, em que empreendedores esperavam levantar capital em algumas semanas, acabou.”
Essa cautela dos investidores já havia sido compartilhada por Sergio Furio, da Creditas, também durante sua participação no South Summit Brazil. Na quarta-feira, o fundador e CEO da fintech afirmou que a barra dos investidores havia subido nos últimos meses, tanto para aportes envolvendo equity como para operações de dívida.