Em março passado, imagens de satélite soaram o alarme. O acúmulo de algas marinhas, conhecido como a Grande Concentração de Saragassum do Atlântico, atingira proporções jamais vistas.
Com quase 9 mil quilômetros e 13 milhões de toneladas, a mancha amarronzada se estende da costa da África Ocidental ao Golfo do México.
Desde meados da década de 2000, cientistas de todo o mundo e empreendedores do ecossistema de inovação tentam domar o avanço da Saragassum. Deu conta do trabalho uma startup porto-riquenha.
Fundada em janeiro de 2020, a Carbonwave é a única empresa do mundo a produzir uma vasta gama de biomateriais à base de Saragassum como cosméticos, têxteis, plásticos e insumos agrícolas em substituição a produtos provenientes de combustíveis fósseis.
Recentemente, a startup captou US$ 5 milhões, em uma rodada de investimentos de série A, liderada francesa Mirova e participação da australiana Viridios Capital. Ambas as empresas de venture capital têm foco os negócios de impacto social e ambiental. Com o novo aporte, o financiamento total chega a US$ 12 milhões.
A Saragassum é consequência direta do aumento da temperatura do oceano, do desmatamento e do escoamento de fertilizantes químicos em direção ao mar. Desde meados da década de 2000, a proliferação descontrolada de algas desequilibra os ecossistemas marinhos, prejudica a pesca e compromete o turismo.
Arrastada pelas maré para as praias, quando morrem, além do mau cheiro, as plantas exalam metano, um dos gases do efeito estufa mais nocivos ao planeta.
Do desequilíbrio marinho para o equilíbrio da pele
A captação da Carbonwave será usada para ampliação das duas operações da startup, uma em Porto Rico e outra no México. Além disso, financiará ainda a construção das instalações de uma fábrica de emulsificantes cosméticos.
Usado para dar homogeneidade às fórmulas hidratantes e antirrugas, por exemplo, o SeaBalance2000 é o primeiro produto à base de Saragassum do mundo. Desde seu lançamento, a empresa já vendeu cerca de meia tonelada do emulsificante. Além do ingrediente para a indústria da beleza, Carbonwave usa a alga para produzir couro e fertilizante agrícola.
“O processamento de Saragassum da Carbonwave em produtos de alto valor é um excelente exemplo das potencialidades da economia azul”, diz Simon Dent, chefe de investimentos da Mirova, em comunicado.
Ao que, Eddie Listorti, CEO da Viridios completa: “Pegar a alga que apodreceria nas praias e liberaria metano e transformá-la em uma gama de produtos sustentáveis é o tipo de inovação que o mudo precisa para enfrentar a crise climática”.