Santa Clara (CA) - Ninguém questiona que 2022 foi o ano do inverno das startups. A queda de 35% nos investimentos no período - ou US$ 12,1 bilhões - indica que o dinheiro deixou de ser farto. Mas isso não significa que o capital acabou.
No Brazil at Silicon Valley (BSV), conferência sobre inovação e tecnologia criada por alunos de Stanford e Berkeley, que acontece nesta semana, na Califórnia, uma palavra mostra que o sentimento entre os investidores não é o de terra arrasada.
Em apresentações ou rodas de conversas, o termo bullish apareceu para acalmar quem estava pessimista com o futuro. Isso não significa, porém, que o curto prazo será fácil ou que o dinheiro voltará a jorrar.
“Certamente o ambiente ficou mais difícil. Havia muito mais dinheiro disponível e preços muito maiores”, diz Alex Clavel, CEO do Softbank Group. “Acho que o mais importante é que ainda estamos na América Latina. Temos nossas equipes em campo no México e em São Paulo. Estamos trabalhando em follow ons com nossas equipes. E estamos bullish em nosso portfólio para o longo prazo.”
Em conversa com o NeoFeed, um investidor disse que, até 2021, os gestores de venture capital compravam mercado sem se preocupar com o preço pago. Era o risco próprio do investimento, mas que, agora, a seleção acontecerá como um ciclo natural e igual aos mercados mais maduros.
O próprio Softbank, que é o maior investidor de startups do Brasil e da América Latina e liderou rodadas que muitas vezes ultrapassavam US$ 100 milhões, inflou valuations e fez diligências apressadas.
Embora pague um preço caro por esse movimento, com startups que não vêm entregando resultados satisfatórios, ainda há US$ 400 milhões disponíveis no fundo do Softbank para serem investidos na região, de um total de US$ 7,6 bilhões em aportes já realizados.
Entusiasta das startups nacionais, Angela Strange, general partner da Andreessen Horowitz (a16z), uma das gestoras de venture capital mais influentes do Vale do Silício, segue a mesma linha de Clavel.
“Uma das razões pelas quais estou tão bullish com o Brasil, em particular, é por ser o melhor país do mundo para incorporar serviços financeiros”, diz ela.
Mas o próprio BSV é um espelho desse momento do venture capital no Brasil. Se na primeira edição, em 2019, havia a presença predominante de startups em late stage, com forte presença no mercado, como o Nubank, nesse ano, são os empreendedores em early stage que estão circulando pelo evento.
“Parece o fim de um ciclo. Tem muito dinheiro parado”, diz Fernando Gomes, sócio do escritório Pinheiro Neto Advogados.