Em meio a um cenário em que quase 80% das famílias brasileiras estão endividadas e o governo federal está estruturando um programa para ajudar a população a renegociar suas pendências financeiras, o Santander Brasil está promovendo a união de duas coligadas de negociação e recuperação de crédito.
Nesta sexta-feira, 16 de junho, o banco espanhol anuncia a fusão da plataforma digital de negociação de dívida emdia com a Liderança em uma empresa única. A companhia, que passa a se chamar emdia, nasce com cerca de 4 mil funcionários e uma base de dados acumulada de 41 milhões de pessoas.
“Nosso objetivo é ter uma plataforma de renegociação de dívida multicanal”, diz Nicolás Vergara, head de negócios de securitização do Santander, ao NeoFeed.
A emdia foi criada pelo Santander em 2019 para que os devedores renegociassem suas dívidas com o banco e com outras companhias, como Vivo, Carrefour e Riachuelo, de forma 100% digital.
Em agosto de 2021, o Santander adquiriu a Liderança, empresa que está no mercado de cobrança e recuperação de crédito desde 1988, atuando de maneira mais “tradicional”, com pessoas ligando e negociando com os clientes acordos.
No fim do ano passado, o banco tomou a decisão de fundir as duas empresas, combinando o digital e o “analógico” debaixo do mesmo teto, em um momento em que os problemas macroeconômicos levavam muitas pessoas a ficarem inadimplentes. “Começamos avaliar a potencial sinergia que esse negócio poderia gerar”, diz Vergara.
Segundo Danilo Vasconcelos, CEO da emdia, mais de 70 milhões de pessoas no País estão endividadas e a tendência é de que 34% daqueles que limparam o nome voltem a ter problemas com inadimplência.
“Quando um varejista decide encontrar um player de cobrança, ele manda o mesmo cliente para todos”, afirma. “Por isso, além da questão do desconto [sobre a dívida], nossa ideia é entregar uma melhor experiência ao devedor, para que ele se sinta incentivado a realizar a renegociação.”
Os concorrentes das empresas do Santander incluem desde grandes bancos, como o Itaú, que conta com a Recovery, até a Serasa Experian. Todos competem pelo mesmo público.
A ideia é que a emdia siga prestando serviços para outras companhias, além do Santander. O banco já era cliente por conta da Return, empresa de gestão e securitização de carteiras em prejuízo.
A Return compra carteiras com crédito em atraso e conta com serviços de escritórios de cobrança. No primeiro trimestre, alcançou um patrimônio líquido de R$ 2,3 bilhões.
Segundo Vergara, no caso do Santander, o interesse é conseguir obter algum tipo de recuperação do crédito e limpar o nome dos clientes, para que eles possam voltar a fazer negócios. Outro ponto é que o banco consegue informações para melhorar seus próprios serviços.
Este tipo de informação é relevante no momento em que o banco está sendo cauteloso na concessão de crédito, diante do cenário ainda turbulento. No final de 2021, o banco decidiu ser mais conservador na concessão de crédito.
A carteira de crédito totalizou R$ 500,3 bilhões no primeiro trimestre, aumento anual de 9,9% e avanço de 2,2% em relação ao quarto trimestre. O índice de inadimplência superior a 90 dias atingiu 3,2%, aumento de 0,24 ponto percentual na base anual e 0,09 ponto percentual na trimestral.