Desde que deixou de estar debaixo da asa da União, a Eletrobras vem num processo de reestruturação operacional, com o UBS BB vendo boas perspectivas para a companhia em termos de ganhos financeiros.
Acontece que os resultados devem começar a aparecer mais adiante, e com menos intensidade do que o esperado inicialmente, segundo os analistas Giuliano Ajeje e Gustavo Cunha. Já para o curto prazo, eles avaliam que a empresa sentirá pressão de alguns fatores, incluindo preços de energia mais baixos e os ruídos vindo de Brasília em relação ao seu futuro como uma corporation.
Considerando que a companhia está ficando mais eficiente, ainda que um pouco abaixo do esperado, e está com um valuation atrativo, o UBS BB decidiu reiterar a recomendação de compra. Mas, como a companhia continuará prejudicada por turbulências externas, houve uma redução do preço-alvo das ações preferenciais classe B (PNB) de R$ 70 para R$ 58.
O corte é de pouco mais de 17%, mas mesmo assim ainda há um upside de quase 31% sobre os R$ 44,3 que o papel estava sendo negociado por volta do meio-dia de 16 de junho.
“Desde o processo de privatização, a Eletrobras ainda está aprendendo quais são seus poderes como uma verdadeira corporation”, diz trecho do relatório. “Com a companhia entendendo cada vez mais que é independente, ela será capaz de focar inteiramente em suas operações e destravar cada vez mais valor.”
Os analistas do UBS BB afirmam que a Eletrobras está começando a apresentar melhoras na frente de custos e despesas. Quando se anualiza os números do primeiro trimestre, o que se vê são gastos 21% menores do que em 2022 e 30% inferiores ao registrado em 2021.
Mesmo assim, eles decidiram reduzir suas estimativas para eficiência, para melhor refletir os ganhos que a companhia pode obter no médio prazo. Depois de esperar que as despesas administrativas e com pessoal pudessem cair em 80%, os analistas passaram a esperar uma queda de 50%.
“Estamos reduzindo nossas estimativas uma vez que os ganhos de eficiência estão levando mais tempo para aparecer nos resultados da Eletrobras do que imaginávamos”, diz trecho do relatório.
Agora, o tema que mais tem preocupado é o preço baixo da energia, fruto da combinação de fortes chuvas, baixas temperaturas, reservatórios nos maiores níveis desde 2011 e o aumento da eletricidade vinda de matrizes renováveis.
“Isto é preocupante para a Eletrobras, que é uma das companhias mais expostas aos preços de energia no mercado spot da nossa cobertura, com 25% da energia produzida para 2023 não contratada”, diz trecho do relatório, que diz ainda que a para o médio prazo é de retomada dos preços, o que deve ter efeitos positivos sobre as ações da empresa.
A Eletrobras e os ruídos de Brasília
O desempenho de curto prazo das ações da Eletrobras também permanecerá afetado pelas falas do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, contrário à privatização e que já sinalizou avaliar fazer com que a empresa volte a ser estatal.
Os analistas destacam que estas falas representam mais ruídos do que sinais, uma vez que a companhia possui uma série de regras que dificultariam a vida da União caso ela fosse pelo caminho da reestatização. Ainda assim, eles admitem que mais notícias nesta frente devem continuar prejudicando o desempenho das ações.
Os desafios enfrentados pela Eletrobras ao deixar de ser estatal, que passam pela reestruturação corporativa, com a intenção estatista do governo Lula e também pelas dificuldades do próprio mercado têm pesado sobre as ações. Um levantamento do TradeMap mostra que, no primeiro ano da privatização, as ações da Eletrobras apresentaram uma queda de 8,5% em rentabilidade.
O valor de mercado da Eletrobras soma R$ 92,7 bilhões.