Uma empresa de Liechtenstein quer provar que qualquer coisa pode ser negociada em bolsa de valores, até uma obra de arte raríssima. Chamada Artex, a companhia que opera uma bolsa de valores de arte está lançando uma oferta pública inicial (IPO) de US$ 55 milhões de um quadro.
A obra em questão, “Três estudos para um retrato de George Dyer”, foi pintada pelo irlandês Francis Bacon ainda em 1963 e será exposta em um museu - ainda não definido. Cada ação vai começar a ser negociada por US$ 100 e, caso alguém queira levar a obra para casa, precisará pagar um prêmio de 20% em relação ao preço médio da obra considerando os 20 pregões anteriores.
A ideia da Artex é criar um mecanismo para que as ações da obra de arte sejam negociadas diariamente como qualquer outro ativo listado publicamente em bolsa de valores. A previsão é de que a comercialização das ações do retrato pintado por Bacon comece em julho.
No longo prazo e após a estreia de seu negócio com essa obra, a Artex espera lançar mais de US$ 1 bilhão em ofertas de ações de pinturas.
A expectativa é conquistar colecionadores particulares que buscam uma alternativa mais barata para comercializar suas obras do que em casas de leilão que podem cobrar até 20% de comissão. A Artex, por sua vez, cobra uma taxa de 3% do sucesso do IPO, além de um valor que também é retido caso a obra seja adquirida com o pagamento do prêmio.
Do lado de quem está vendendo a obra de Bacon, cujo nome do colecionador é mantido em sigilo, sabe-se que o valor pago pela obra em 2017 em um leilão foi de US$ 52 milhões.
Obra de arte fracionada
A Artex não é a primeira empresa a tentar fracionar obras de arte. A Masterworks, por exemplo, já faz este trabalho. A diferença, no entanto, é que agora essas fatias serão listadas em um mercado aberto e não em um fundo de arte - o que também implica em regulações mais rígidas de órgãos controladores.
Para os investidores, essa é a possibilidade de entrar em um mercado que se mostra mais lucrativo do que a S&P e do que títulos corporativos nos Estados Unidos. Enquanto o índice S&P obteve alta média de 9% ao ano entre 1995 e 2022 e os títulos subiram 4,9% no intervalo, as obras de arte pós-1945 tiveram uma valorização de 12,6% no mesmo período, segundo o The Wall Street Journal.
O investimento em obras de arte também é visto como um escudo para a inflação. Um exemplo foi o caso do fundo de pensão British Rail, que entre 1974 e 1980 comprou uma série de coleção de pinturas e obteve um retorno real de quase 6% ao ano, mesmo com uma espiral de aumento de preços no Reino Unido.
Trazendo para o presente, o mercado de obras de arte se mostra aquecido. Segundo o relatório Art Basel & UBS Art Market 2023, o valor de obras de arte vendidas em leilão por US$ 10 milhões ou mais aumentou mais de 700% entre 2009 e 2022.