Desde que chegou à Bolsa de Nova York, em maio do ano passado, a Uber acumulou prejuízos de US$ 14,2 bilhões. Esse buraco bilionário foi mais do que suficiente para acender o sinal de alerta dos investidores, que passaram a pressionar por um modelo de negócio sustentável.
Para atingir esse objetivo, o CEO da Uber, Dara Khosrowshahi, decidiu que menos é mais. Ao longo de 2020, a companhia começou a se desfazer de uma série de negócios. Como o próprio Khosrowshahi tem dito, a decisão de vender diversas iniciativas eliminam as "distrações" para que a empresa possa focar no seu real ponto forte: o transporte de passageiros e as entregas.
A mais recente "distração" a deixar os tentáculos da Uber, na terça-feira, 8 de dezembro, foi a iniciativa Elevate, sua divisão de táxis aéreos, vendida à startup Joby Aviation, que desenvolve "uma nova geração de veículos pessoais aéreos".
Os detalhes do acordo não foram divulgados, mas se sabe que um dos termos da negociação prevê o investimento de US$ 75 milhões da Uber na Joby. As duas companhias concordaram ainda em integrar seus respectivos serviços aos aplicativos uma da outra. A Joby Aviation aceitou também a ousada meta de colocar no ar os primeiros modelos de táxis aéreos já em 2023.
“A mobilidade aérea tem o potencial de ser exponencialmente positiva para o meio ambiente e às gerações futuras”, disse Khosrowshahi, em um comunicado. “Este acordo nos permite aprofundar nossa parceria com a Joby, para acelerar o caminho desse mercado.”
Desde sua criação, a Joby levantou US$ 796 milhões em recursos. Investiram na empresa Toyota e JetBlue, além da Uber, que já havia destinado US$ 50 milhões à companhia antes desse novo acordo.
Nessa semana, o Uber também passou adiante outra "distração" cara. Na segunda-feira, 7 de dezembro, a gigante californiana vendeu a sua divisão de veículos autônomos ATG, em um negócio avaliado em US$ 4 bilhões, para a Aurora Innovation, uma startup especializada em veículos autônomos cujos alguns dos investidores são Sequoia Capital e Amazon.
Pelo acordo, ficou estabelecido ainda que a Uber vai investir US$ 400 milhões na Aurora, sob uma avaliação de US$ 10 bilhões. Em troca, a Uber assume uma fatia de 26% da Aurora.
Esse movimento para eliminar as "distrações" foi colocado em prática no começo da pandemia, quando as ações da Uber caíram 52,2% do início de janeiro até 18 março, quando atingiram seu menor valor, vendidas a US$ 14,82 cada.
Em maio deste ano, a Uber também vendeu sua divisão de patinetes elétricos Jump para a concorrente Lime. A transação serviu de parâmetro para as demais, com a Uber investindo US$ 85 milhões na Lime em troca de uma participação acionária e de outras parcerias.
Esse modelo de negócio, de venda por ações, permite à Uber se desligar da operação diária e da longa e custosa fase de desenvolvimento e maturação do negócio, mas ainda assim participar desses mercados. É como se a Uber liberasse seus tentáculos, mas mantivesse um dedo em cada uma das divisões vendidas.
Desde que foi criada, em março de 2009, a Uber se tornou símbolo de tecnologia conectando passageiros e motoristas em todo o mundo. O serviço de ride share respondeu por mais de 80% de toda receita da Uber no ano passado.
Este ano, o braço de entregas da companhia, o Uber Eats passou a ganhar tração por conta das pandemia e se converteu no "ganha pão" da empresa durante a crise sanitária e econômica do novo coronavírus.
Por esse motivo, ao mesmo tempo que deixou alguns negócios, a Uber investiu em outros. Esse foi o caso da compra do app de delivery Postmates, por US$ 2,6 bilhões, em julho. Juntos os aplicativos abocanham 37% do mercado de entregas de comida nos EUA, segundo dados da consultoria Edison Trends.
Essa movimentação comandada por Khosrowshahi não foi capaz de fazer a Uber lucrar. Mas, pelo menos, agradou os investidores. Desde 18 de março, as ações da Uber acumulam uma alta de 262,9%.
(Correção: a primeira versão da reportagem informava incorretamente a queda das ações da Uber de janeiro a março)
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