Nos últimos 2 anos, as startups brasileiras têm quebrado seguidos recordes na captação de recursos, mas esse movimento não expressa um grande desafio: superar as diferentes etapas para o recebimento dos aportes. O funil para cada uma das rodadas de investimentos é estreito – só as melhores chegam lá.

Um estudo feito pelo Distrito Dataminer, braço de inteligência de dados do hub de inovação Distrito, analisou 1.066 captações feitas por startups brasileiras em uma década, de 2011 a 2020, nos estágios Pré-Seed e Seed. Destas, 26,4% atingiram a rodada da Série A. Outras 9,6% chegaram à Série B. Apenas 3,3% foram mais longe, alcançando a cobiçada Série C.

A idtech brasileira unico, especializada em soluções de proteção digital como biometria facial e assinatura eletrônica de documentos, integra o restrito time que percorreu cada uma dessas etapas.

No início de agosto, a unico recebeu um aporte Série C de R$ 625 milhões liderado pelo conglomerado japonês Softbank e pelo fundo americano de private equity General Atlantic. Também participaram o fundo brasileiro Big Bets e o investidor Micky Malta, sócio da Ribbit Capital.

A rodada de investimentos alçou a unico à condição de unicórnio, como são chamadas as startups que valem mais de US$ 1 bilhão. Mais do que isso: colocou a empresa, de fato, em um novo patamar.

Do ponto de vista prático, o que muda na companhia a partir de agora? “Com esse capital, conseguimos ganhar velocidade em diversas frentes”, diz Paulo de Alencastro Júnior, cofundador e vice-presidente de Projetos e Relação com Investidor. “Seja para construir novas tecnologias, acelerar aquisições ou até mesmo atrair talentos para a empresa.”

Parte dos recursos será destinada ao desenvolvimento de tecnologias proprietárias. Para isso, a empresa está investindo, também, na atração de talentos para tecnologia: somente neste ano, o time de engenharia da empresa cresceu cinco vezes. A empresa possui 185 vagas abertas, sendo 145 apenas para a área de tecnologia. Além disso, a unico anunciou a contratação de Ari Carmona, como diretor de tecnologia, e Marcelo Quintella, ex-Google, como VP de Produto.

“Com esse capital, conseguimos ganhar velocidade em diversas frentes”, diz Paulo de Alencastro Júnior, cofundador e vice-presidente de Projetos e Relação com Investidor

A empresa tem feito algumas contratações de lideranças seniores: Francine Graci, ex-Twitter, chegou recentemente para a posição de VP de PeopleX; Igor Ripoll, ex-SalesForce, assumiu a vice-presidência de vendas e operações; e Pâmela Vaiano, ex-99, ocupou a posição de diretora de comunicação.

As recentes rodadas de investimentos reforçaram o apetite da unico por aquisições. Nos últimos meses, a empresa se tornou uma máquina de compras. “De fato, estamos muito atentos ao mercado”, afirma Guilherme Cervieri, vice-presidente de fusões e aquisições da unico.

Os movimentos da empresa indicam disposição para incorporar novos ativos. Desde o ano passado, quando engordou o caixa com um cheque de R$ 580 milhões também assinado pelo Softbank e General Atlantic, juntaram-se ao seu portfólio promissoras startups.

Uma delas é Meerkat, que desenvolve algoritmos para reconhecimento facial. A outra é a Vianuvem, especializada em soluções para a venda de carros online. Mais recentemente, em julho passado, a unico comprou a CredDefense, que atua com soluções de validação de identidade e prevenção a fraudes por meio de biometria facial.

“Com o aporte Série C, vamos prospectar o mercado de forma mais intensiva”, revela Cervieri. A unico tem cerca de uma centena de empresas no seu radar de interesse. “De forma geral, mapeamos aquelas que possuem soluções capazes de desburocratizar a relação das pessoas com as empresas.”

As áreas de saúde e educação são vistas como celeiros de oportunidades. Startups especializadas em sistemas de controle de acesso – como aqueles existentes em academias de ginástica, por exemplo – também interessam.

Ao adquirir uma empresa, a unico encurta caminhos, mas não apenas no quesito tecnológico. De certa forma, ela está se associando aos talentos vindos de outros lugares, o que certamente é vital em tempos que exigem inovação permanente. “Às vezes, o que procuramos são times excepcionais que vêm junto com as empresas que adquirimos”, diz Alencastro.

“Com o aporte Série C, vamos prospectar o mercado de forma mais intensiva”, diz Guilherme Cervieri, vice-presidente de fusões e aquisições da unico

A Série C é também a porta de entrada para um novo e desafiador ambiente: o mercado de ações. Ao despejar centenas de milhões de reais na empresa, os investidores enxergam nela um potencial de crescimento que quase sempre resulta na ida à Bolsa de Valores.

Segundo Alencastro, está nos planos a abertura de capital no futuro. Para isso, tem melhorado a governança - recentemente, anunciou a chegada de Cinthia Battilani, ex-Nike, como diretora jurídica - e aprimorado os seus processos internos. “O IPO é mais um meio do que um fim”, afirma o fundador da empresa.

O IPO pode ser, afinal, o meio para a unico se tornar uma big tech brasileira. Esse é o sonho dos fundadores da empresa desde que foi fundada, em 2007, ainda como Acesso Digital – o novo nome foi adotado em dezembro de 2020.

A unico tem algumas características que a tornam especial. Ela cresce acima de dois dígitos em qualquer cenário econômico, com ou sem crise. “Um bom paralelo é o comércio eletrônico”, diz Cervieri. “O varejo pode andar de lado, mas o e-commerce cresce cada vez mais. Somo assim também.”

A nova era traz boas perspectivas. Cervieri lembra que, até pouco tempo atrás, as pessoas passavam décadas em uma mesma empresa. Hoje, a alta rotatividade é a norma – o que ótimo para a sua ferramenta que permite a contração de um funcionário sem que o candidato tenha que sair de casa.

Os investimentos da série C abriram novos caminhos. Como poucas empresas no Brasil, a unico está bem posicionada no presente para capturar as oportunidades que só o futuro é capaz de trazer.