Vamos imaginar que houve um acidente de carro com uma vítima que precisa ser levada para o hospital. Assim que chega ao local e identifica a pessoa que necessita de socorro, o atendente da ambulância acessa, digitalmente, o tipo sanguíneo dela, as possíveis alergias e outras informações que poderão assegurar o melhor atendimento médico possível.
Enquanto isso, o hospital é informado, também digitalmente e em tempo real, que uma ambulância está a caminho com aquele paciente específico. De imediato, o sistema do pronto-socorro resgata todo o histórico médico da vítima e seleciona um profissional – o que estiver melhor preparado para aquele tipo de situação –, para cuidar do indivíduo a partir das informações disponíveis.
O modelo, que tem ajudado a salvar vidas e reduzir os danos causados por todos os tipos de acidentes, não é obra da ficção científica. Ele existe e funciona perfeitamente na Estônia, o pequeno país de 1,4 milhão de habitantes no mar báltico que ganhou a merecida fama de “sociedade mais digital do mundo.”
O exemplo acima é apresentado, com evidente ânimo, por Diego Martins, um dos fundadores e CEO da unico, IDTech brasileira especializada em soluções de identidade digital, como biometria facial e assinatura eletrônica de documentos.
No final de 2021, Martins visitou a Estônia ao lado de outros 16 executivos da unico, entre vice-presidentes, heads de produtos e especialistas da área técnica. Foi a quarta vez que ele esteve no país e, mais uma vez, a experiência trouxe inúmeros aprendizados.
“A Estônia é uma grande referência para nós”, diz Martins. “Contratamos muitas pessoas novas na unico e algumas delas enxergam apenas uma pecinha do quebra-cabeça digital. A viagem representou um jeito de conhecer todas as peças do tabuleiro e mostrar para onde deveríamos ir.”
O grupo se encontrou com representantes do governo estoniano, visitou empresas privadas e dialogou com especialistas de diversas áreas. Ficou claro que não há comparativo no planeta quando o assunto é desenvolvimento digital.
A Estônia passou a investir em programas digitais após a independência da antiga União Soviética, em 1991. O país não tinha os recursos financeiros para rivalizar com vizinhos mais prósperos, como a Finlândia, e decidiu que o único caminho para melhorar a qualidade de vida da população – e, portanto, turbinar o PIB – era a completa digitalização da sociedade.
“A Estônia é uma grande referência para nós”, diz Diego Martins, cofundador e CEO da unico
Desde então, uma revolução ganhou corpo. A espinha dorsal da transformação digital da Estônia foi a criação da infraestrutura chamada X-Road, que permitiu que praticamente todos os sistemas de informação dos setores público e privado se conectassem.
A X-Road foi, digamos, a avenida por onde começaram a trafegar todos os dados e informações dos indivíduos. A partir daí, criou-se o sistema de identidade digital, que atualmente é adotado por 98% da população. Identidade digital, lembre-se, é o foco de negócio da unico.
A identidade digital trouxe avanços extraordinários para a Estônia. Atualmente, 99% dos serviços públicos do país, como registros de empresas, certidões de recém-nascidos e pagamento de taxas, são acessados de maneira online.
A população tem acesso a mais de 2.500 serviços digitais. Quase tudo pode ser feito no ambiente online. Apenas casar e divorciar ainda exige a presença física da pessoa. Ainda.
Martins lembra também que vota-se em casa, por meio do sistema digital. “A pessoa tem um período de 15 dias para tomar a decisão”, diz ele. “Se for o caso, ela pode mudar o voto dentro desse período, o que torna a escolha ainda mais assertiva.”
O sistema de saúde é um exemplo para o mundo. Além do caso relatado na abertura deste texto, o paciente conta com inúmeras facilidades.
Na Estônia, não existem receitas médicas físicas. Elas são 100% digitais. Após a consulta, o médico prescreve o medicamento no sistema online e as farmácias imediatamente são informadas. Basta o paciente ir ao estabelecimento para retirar o remédio.
O sistema financeiro também deixou para trás a era analógica. Em 2021, 99,8% das transações bancárias ocorreram no ambiente online, índice mais alto do mundo.
O CEO da unico destaca que, apesar do elevado nível de digitalização da sociedade, nenhum dado é duplicado. “Se você muda de endereço, basta atualizar a nova informação em um único lugar”, diz. “Alterar conta de água, luz e internet pode ser um caos em um país como o Brasil. Na Estônia, o ecossistema digital é totalmente integrado.”
Ou seja, uma vez transmitida a informação, jamais a pessoa terá de repassá-la novamente. Parece algo banal, mas tem imenso valor. A não-duplicação de dados torna a informação ainda mais confiável e garante que uma pessoa, em especial, é ela mesma, seja qual for a situação.
Outro aspecto que chamou a atenção de Martins e sua comitiva é a segurança dos dados privados. Eles são gravados em blockchain, a mesma tecnologia que registra moedas virtuais como bitcoin. O cidadão sempre é avisado quando alguém tenta acessar os seus dados. Acessos indevidos são passíveis de prisão.
Quais são as vantagens de ser tão digital? Martins aponta diversos benefícios. Apenas com a assinatura eletrônica de documentos – tecnologia que a unico domina no Brasil –, estima-se que a Estônia economize o equivalente a 2% do PIB por ano.
Apenas com a assinatura eletrônica de documentos – tecnologia que a unico domina no Brasil –, estima-se que a Estônia economize o equivalente a 2% do PIB por ano
“O segundo benefício visível é que as pessoas têm mais tempo, já que não perdem energia com questões burocráticas”, diz Martins. “Além disso, a economia digital gera um ambiente de confiança e torna a vida das pessoas mais simples.”
Nesse contexto, o que a unico planeja para o futuro? “Queremos ser o grande hub de identidade digital do Brasil”, diz Martins. “As pessoas terão os seus documentos, a sua biometria, os seus dados em um mesmo lugar, de forma segura e com respeito à privacidade. Isso abre as portas para o futuro.” Na Estônia, o futuro já chegou.