Vivendo um dos momentos mais críticos em seus 166 anos de história, a ponto de ter a sua solvência questionada no mercado, o Credit Suisse anunciou nesta quinta-feira, dia 27 de outubro, uma série de medidas para tentar restaurar sua credibilidade, visando tornar a entidade mais leve e eficiente, além de corrigir os erros do passado. 

“Nós decepcionamos nossos stakeholders por muito tempo e estamos determinados a lidar com as questões de uma vez por todas”, disse Ulrich Körner, CEO do Credit Suisse, em entrevista coletiva. “Queremos um banco mais simples, estável, com as diferentes linhas de negócios mais focadas, atendendo às necessidades dos clientes.”

Um dos pontos do banco suíço envolve adequar suas obrigações regulatórias em termos de capital, levantando cerca de 4 bilhões de francos suíços (US$ 4,05 bilhões) via emissão de novas ações. 

O Banco Nacional da Arábia Saudita é uma das instituições que pretende participar da operação, tendo se comprometido a investir em torno de 1,5 bilhão de francos suíços (US$ 1,52 bilhão). 

Caso a operação seja aprovada pelos acionistas do Credit Suisse, em assembleia marcada para o dia 23 de novembro, a instituição saudita passará a ter uma participação de 9,9% no capital social do Credit Suisse. 

Junto com o fortalecimento financeiro, o Credit Suisse anunciou medidas estruturais, que incluem o desmembramento de seu banco de investimentos e redução de custos, que resultará na saída de 9 mil pessoas em três anos. 

No caso da redução do quadro de funcionários, atualmente em 52 mil, o banco pretende cortar 2,7 mil pessoas pelo mundo até o fim deste ano. Körner não revelou como os cortes serão distribuídos entre as áreas e os 50 países em que o Credit Suisse atua. 

A respeito das regiões, não houve menção sobre a possibilidade de fechamento de unidades, com o presidente do conselho de administração, Axel Lehmann, afirmando que os mercados asiáticos, do Oriente Médio e da América Latina são “extremamente importantes” para o futuro do banco. 

Na parte do banco de investimentos, o Credit Suisse afirmou que a reestruturação tem como objetivo principal a redução de sua exposição a ativos de risco, um dos fatores que levaram o banco a ficar numa posição delicada. A ideia é reduzir o chamado RWA (em português, ativos ponderados pelo risco) em cerca de 40% até 2025. 

Para isso, o plano prevê que os negócios de consultoria e mercado de capitais sejam transferidos para uma nova empresa, chamada CS First Boston, com a possibilidade de incluir novos investidores. 

O Credit Suisse também informou que venderá uma fatia relevante da área de produtos securitizados para duas das maiores gestoras do mundo, a Apollo Global Management e a Pimco. 

O banco de investimentos é um dos epicentros do atual momento do Credit Suisse, contabilizando perdas bilionárias na esteira dos colapsos financeiros do familiy office Archegos Capital Management e da gestora de ativos britânica Greensil Capital, que vieram à tona em 2021. “Por muito tempo, o banco de investimentos não criou valor para os nossos acionistas”, afirmou Körner.

Os problemas se refletiram nos resultados do terceiro trimestre, divulgados em paralelo ao plano de reestruturação. No período, o Credit Suisse registrou um prejuízo de 4 bilhões de francos suíços (US$ 4,1 bilhões), revertendo o lucro apurado no mesmo período de 2021.

Este foi o quarto trimestre consecutivo que o banco registra perdas, registrando queda de receita com o banco de investimento e a área de wealth management. 

E a expectativa é de que a reestruturação pese sobre os resultados do Credit Suisse por mais um tempo. A expectativa é de um impacto contábil de 2,9 bilhões de francos suíços (US$ 2,94 bilhões) entre o quarto trimestre deste ano e o fim de 2024. 

Por volta das 11h38, na Bolsa de Zurique, as ações do Credit Suisse caíam 16,21%, a 3,99 francos suíços. No ano, elas acumulam queda de 55%, levando o valor de mercado a 10,4 bilhões de francos suíços (US$ 10,5 bilhões)