Fundada em 2019 por Antonio Brito, Daniel Shteyn e Rômulo Coutinho, a SuperSim não foi batizada com esse nome por acaso. A marca sintetizava o objetivo da fintech de microcrédito online de atender as classes C e D, acostumadas a ouvir não como resposta dos bancos e empresas tradicionais de crédito.
Agora, a startup está adicionando um novo componente a esse modelo. A companhia lançou uma oferta na qual garante o dinheiro na conta do cliente em até 30 minutos após a aprovação do crédito, em dias úteis. Caso o prazo não seja atendido, a SuperSim não cobra os juros envolvidos na proposta.
O formato já estava nos planos da empresa, mas ganhou velocidade com a Covid-19. “Nós sempre tivemos claro que, depois da aprovação, essa é a segunda dor do nosso cliente”, diz Brito, ao NeoFeed. “A pandemia fez com que os clientes tivessem ainda mais urgência e nos fez acelerar o lançamento.”
Após um período de testes realizado entre maio e junho, a oferta entrou oficialmente no ar há menos de um mês. Para viabilizar o modelo, a fintech internalizou e digitalizou algumas etapas que antes eram tocadas por parceiros, como o processo de desembolso aos clientes.
Desde o início da sua operação, em setembro de 2019, a SuperSim já trabalhava com prazos que variavam da entrega algumas horas após a aprovação ou no dia seguinte da resposta afirmativa ao cliente.
“Ainda é cedo para dizer, mas nós projetamos um incremento entre 20% e 30% na procura”, afirma Shteyn. Ele conta que, até o momento, o percentual de propostas cujo prazo não foi cumprido está em menos de 1%. “Mesmo com o processo 100% automatizado, é natural e até legal que isso aconteça.”
Dados de uma pesquisa da consultoria PwC em parceria com a Associação Brasileira de Crédito Digital (ABCD), junto a 43 fintechs brasileiras, mostram que 48% delas conseguiam concluir as análises de risco de um cliente em até uma hora, sendo que 15% delas fazem isso em no máximo 15 segundos.
Já no caso da aprovação para a liberação do crédito, 64% disseram realizar o processo em até 24 horas. O estudo não traz dados sobre os prazos para que o crédito esteja disponível, mas mostra que 79% dos clientes das fintechs participantes estão concentrados nas classes C, D e E.
“A proposta é muito ousada e inovadora”, diz Boanerges Ramos Freire, presidente da Boanerges & Cia, consultoria especializada em serviços financeiros, sobre a nova oferta da SuperSim. “Mas é preciso ter cuidado nessa equação, porque ela pode atrair muitos maus pagadores e fraudadores.”
Cautela e algoritmos
A oferta de 30 minutos incluirá as mesmas variáveis usadas pela SuperSim nas demais linhas do seu portfólio. Os empréstimos concedidos pela empresa por meio de sua plataforma online variam de R$ 500 a R$ 2,5 mil, com prazos que vão de quatro a doze meses.
A fintech também desenvolveu alguns modelos para equilibrar o desafio de ampliar a aprovação do crédito para esse perfil cliente com o risco envolvido nesses processos. Um dos recursos, por exemplo, é a adoção de taxas de juros mais elevadas no primeiro empréstimo concedido a um cliente.
“Nesses casos, o valor não ultrapassa R$ 500, o prazo é de até quatro meses e o juros variam de 10% a 18%”, explica Shteyn. “Se tudo corre bem, oferecemos um segundo empréstimo, com tíquete maior e uma taxa menor.”
No modelo, o cliente tem condições melhores à medida que constrói um histórico na plataforma. Essa abordagem é apoiada por algoritmos e por um sistema de inteligência artificial, que cruzam diversos dados, captados em fontes públicas, como birôs de crédito. Para evitar fraudes, a análise chega no detalhe de identificar, por exemplo, se o e-mail do cadastro foi criado há poucos dias.
A redução desse risco não é, porém, o único foco. “Esse perfil de cliente demanda produtos diferentes, seja em valor, taxa ou prazo”, diz Brito, que chama de “preguiça intelectual” a forma com que esse público é tratado no sistema financeiro tradicional. “É preciso ter uma plataforma flexível para identificar qual parcela cabe no bolso dele e de que maneira ela pode ser ofertada.”
Sob a ótica de oferecer diferentes formatos, a startup, em parceria com a PayJoy, também passou a oferecer recentemente empréstimos tendo como garantia o celular do cliente. No caso de inadimplência, é possível limitar o uso de recursos nos aparelhos e de seus aplicativos.
Além de acordos como a parceria firmada com a PayJoy, a SuperSim busca alcançar esses clientes por meio de ações e campanhas digitais. Com essas e outras iniciativas, a fintech mira um amplo mercado. Levando-se em conta apenas os desbancarizados, um estudo do Instituto Locomotiva estima que são 45 milhões de pessoas no País, que movimentam cerca de R$ 817 milhões por ano.
“Normalmente, de cada cem pedidos de crédito que a indústria recebe desse perfil, apenas 1% é aprovado”, afirma Shteyn. “Nossa meta é ter a taxa de aprovação até dez vezes maior do que esse índice de referência.”
A SuperSim não está sozinha nesse espaço. Startups como a Noverde e a Lendico também investem na oferta de crédito para esse público que também atraiu o interesse do Santander. O banco investe na oferta de empréstimos nesse segmento por meio das startups Superdigital e Sim.
Para encontrar sua fatia nesse mercado, a SuperSim captou recentemente R$ 30 milhões em uma operação de securitização. A empresa também planeja, em médio prazo, buscar um novo aporte. Hoje, sua relação de investidors inclui Al Goldstein, CEO e fundador da Avant, fintech americana de crédito; e o fundo Distrito Ventures.
Embora não revelem o tamanho da carteira da SuperSim, seus fundadores dizem que a operação cresceu 400% desde o início da pandemia, em março.“Não só em emissão de crédito, mas também em volume de propostas”, diz Brito. “Hoje, estamos na casa de cem mil propostas mensais.”
Shteyn acrescenta: “Desde o início da empresa, fizemos mais de dez mil empréstimos. O plano é fazer mais de cem mil até 2021 e chegar a a 1 milhão em cinco anos.”
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