A Modularis, uma construtech especializada na construção de estruturas fora do canteiro de obras por módulos (produção off-site), traçou uma meta arrojada para este ano: a de aumentar o faturamento em dez vezes.
Embora não revele o que significa decuplicar as receitas até dezembro - o mercado estima que chegará em R$ 100 milhões -, a simples menção a um aumento de vendas desse tamanho chama a atenção do setor, sobretudo em um momento de aperto econômico.
Cabe a pergunta: qual é a mágica? “Não tem mágica. Existem dados, estudos e tendências que mostram as vantagens da construção modular e nos levam a crer no imenso potencial desse mercado”, diz Paulo Salvador, o CEO da Modularis, ao NeoFeed.
As vantagens a que ele se refere são a aceleração, a redução de desperdício e a otimização da gestão do ativo. “A construção modular não é mais barata do que a tradicional. Vendemos uma estrutura de preços semelhante, mas entregamos velocidade, antecipamos renda.”
Foi justamente para trazer os números e estudar as oportunidades que o francês Eric Lesbre, sócio majoritário da Modularis, convenceu Paulo Salvador, um ex-diretor da rede de hotéis Accor, a trocar Paris por Itupeva, no interior de São Paulo, sede da empresa.
A prioridade de Salvador para este ano é levar a Modularis ao segmento residencial e hoteleiro, tido como o grande propulsor do sonhado crescimento.
Até aqui, a companhia atuava basicamente com projetos industriais. Montava, por exemplo, uma sala modular de treinamento para a Ambev ou uma guarita para a Scania ou uma estação de testes para a Maxion. Também havia colocado um pé no varejo, com a construção de pequenas lojas em condomínios.
No ano passado, entrou com os dois pés no segmento ao assinar um contrato para entregar 200 lojas aos franqueados da rede Cacau Show. “Temos, por semana, 12 lojas sendo fabricadas nas nossas instalações”, conta Salvador.
Elas saem da fábrica, entram no caminhão e chegam ao ponto de venda já com ar-condicionado, instalação hidráulica e elétrica pré-montados. O proprietário recebe um manual para conectar as instalações.
“Concomitantemente chega o estoque da Cacau Show. O franqueado recebe a loja numa segunda-feira e na quinta está vendendo o chocolate”, diz Salvador.
O projeto deu tão certo que a Cacau Show já contratou mais 500 lojas para este ano. Novos acordos devem ser firmados com outras redes nos próximos meses.
Nada que se compare, no entanto, às expectativas com a estreia na área de apartamentos. É um segmento em expansão no mundo todo. A consultoria McKinsey estima um mercado global de US$ 108 bilhões até 2025. “Por aqui, teremos algo como R$ 8 bilhões em três anos, dada a curva de crescimento de 7% ao ano”, diz Salvador.
Por isso, a decisão de trazer dois novos sócios. São eles Frederico Azevedo, com grande experiência na área imobiliária, e Marcelo Doria, especialista em M&A e egresso de instituições como Santander e J.P. Morgan.
Outra decisão foi construir uma nova fábrica em Itupeva com o triplo de capacidade da atual – o que implica em aumentar em três vezes o número de funcionários – e montar um “cluster” com 14 parceiros especialistas para colocar de pé o projeto MGuestHouse.
Trata-se de um protótipo de construção off-site de prédios e hotéis, uma espécie de “laboratório” ou “módulo padrão” para a arrancada residencial da Modularis.
O projeto nasceu da parceria da Modularis com a siderúrgica ArcelorMittal, a Michaelis Arquitetos (que já assinou mais de uma centena de projetos em hotéis no Brasil), as redes de hotéis BNB e Actrio (o maior franqueado da Accor no Brasil), com fornecedores de materiais de construção, entre outras empresas.
“É um produto mais complexo, que exige um nível de cálculo e de densidade da matéria-prima que usamos, o aço, diferente. Também exige uma dinâmica industrial e de insumos muito mais sofisticada”, conta Salvador. “Seria impossível criar o MGuestHouse sem esse cluster.”
O módulo atende demandas verticais e horizontais. Pode ser utilizado como chalé, habitações pequenas de dois andares ou “empilhados um no outro” – como diz Salvador – para se transformar em um prédio.
A Modularis já entrou como investidora em um projeto de 14 andares a ser construído no bairro de Moema, em São Paulo, que o executivo diz ser o primeiro edifício residencial modular da América Latina. A fabricação começa ainda em 2022.
Salvador diz que a empresa tem, hoje, um pipeline residencial de R$ 240 milhões de MOUs (memorando de entendimentos) assinados, em fase de estudo de viabilidade.
“A construção off-site abriu os olhos de muita gente, não só das startups, mas também de construtoras já consolidadas e de empresas que orbitam o setor, como fabricantes de materiais e siderúrgicas”, afirma Alex Ferraz, analista de construção do Itaú BBA.
Ele cita como exemplo a Tenda, com grandes planos para a área. Ou a Gerdau, que investiu R$ 60 milhões naquela que é considerada por Salvador a maior rival da Modularis: a Brasil ao Cubo, ou BR3, captada pelos holofotes ao construir hospitais em tempo recorde durante a pandemia. A BR3 também recebeu um aporte de R$ 74 milhões da Dexco (ex-Duratex) em janeiro.
“Há e sempre haverá mercado para todo mundo. A construção civil passou séculos sem apresentar qualquer inovação operacional”, diz Salvador. “O sistema off-site entra justamente neste vácuo do mercado”.