País mais rico do mundo, os Estados Unidos estão cada vez mais polarizados. A ponto de o embate entre republicamos e democratas chegar à dívida pública.
O motivo? O governo do presidente democrata Joe Biden atingiu em janeiro o limite da dívida pública estabelecido por lei — que atualmente é de quase US$ 31,4 trilhões — para a tomada de empréstimos.
Suspender ou alterar o limite da dívida depende de aprovação do Congresso, de maioria republicana. Na quarta-feira, 19 de abril, a oposição republicana apresentou um projeto de lei para aumentar o teto da dívida e cortar gastos que desagradou a minoria governista.
Como as negociações políticas não têm avançado, o mercado financeiro está começando a avaliar a possibilidade, remota, de um calote da dívida americana, com base nos rendimentos atuais dos títulos do Tesouro de curto prazo.
O alerta foi reforçado pela LPL Research, empresa de pesquisa de investimentos do setor financeiro, citando a variação dos títulos do Tesouro de curto prazo que estão sendo negociados no mercado financeiro.
“Os títulos do Tesouro que vencem em maio estão rendendo cerca de 1,2% menos do que os títulos que vencem um mês depois (por volta de junho) e um recorde de 1,49% a menos do que os títulos que vencem em julho”, advertiu Lawrence Gillum, estrategista-chefe de renda fixa da LPL.
A Letra do Tesouro de um mês atualmente rende cerca de 3,71%, em comparação com 5,14% para o mesmo papel de 3 meses atrás. O mercado estima que o Tesouro terá dinheiro suficiente para pagar suas obrigações até maio. Sem aumento do limite da dívida, a partir de agosto o calote seria inevitável.
A diferença nos rendimentos entre os títulos do Tesouro que vencem em maio e julho atingiu níveis que superam o que foi visto durante o último confronto sério da dívida, em 2011, quando a S&P rebaixou a classificação da dívida do país de AAA para AA+.
Outra agência de rating, a Fitch, ameaçou rebaixar a classificação da dívida se o Congresso não agir logo – o que seguramente teria impacto nos mercados financeiros, num momento em que a economia dos EUA passa por um período de inflação longe da meta, juros altos e baixa valorização do mercado de ações.
Faca no peito
Desde 1960, o Congresso aumentou, estendeu ou revisou a definição do limite da dívida em 78 ocasiões — incluindo três apenas nos últimos seis meses —, mas jamais aprovou um calote intencional.
Embora a oposição republicana admita nos bastidores que um calote da dívida não seja uma opção, a pressão sobre os democratas cresceu ainda mais após a apresentação do projeto de lei republicano, de autoria do deputado Kevin McCarthy, presidente da Câmara.
A proposta para aumentar o teto da dívida e cortar gastos reverteria algumas das iniciativas políticas do presidente Biden. O projeto de lei estabelece os níveis de gastos discricionários para o próximo ano nos níveis fiscais de 2022 e limita o crescimento dos gastos a não mais de 1% ao ano.
Mas é no detalhe que a proposta representa uma faca no peito do presidente americano, pois interromperia o plano do governo de perdoar alguns empréstimos estudantis, acabaria com os subsídios de energia limpa incluídos na Lei de Redução da Inflação do ano passado e cortaria vários gastos sociais.
O plano aumentaria o teto da dívida para US$ 32,9 trilhões (US$ 1,5 tri a mais do atual limite) ou até 31 de março de 2024, o que ocorrer primeiro.
Biden reagiu com irritação à proposta republicana, dizendo que destruiria programas críticos e prejudicaria a população mais vulnerável, indicando que um acordo ainda está longe de um desfecho.