O ano de 2021 representou um marco histórico para a MRV&CO, que reúne, além da MRV, as subsidiárias AHS, Urba, Luggo e Sensia. Ao quebrar vários recordes – como o maior lucro líquido, maior receita operacional líquida e maiores vendas líquidas (em VGV) desde a sua fundação –, o grupo confirmou a força da estratégia de diversificação.

Basta olhar com cuidado o balanço de janeiro a dezembro do ano passado para entender que a criação, em 2019, de uma plataforma de soluções habitacionais com produtos variados, fontes de funding diferentes e mercados de atuação complementares foi uma decisão estratégica coerente para as ambições de crescimento do grupo.

Agora, a MRV&CO não é apenas a maior incorporadora e construtora da América Latina no segmento de empreendimentos residenciais populares, mas também a única plataforma habitacional multinacional de origem brasileira.

“Nos últimos anos, desvinculamos a nossa marca de um produto único”, afirma Ricardo Paixão, diretor-executivo de Finanças e Relações com Investidores do grupo. “Aumentamos o portfólio e os resultados vieram rapidamente.”

O desempenho das novas divisões de negócios da MRV&CO teve forte impacto nos números do grupo. Em pouco tempo, elas passaram a responder por quase a metade – a depender do critério adotado – de toda a operação.

Em 2021, as vendas líquidas fora do Programa Casa Verde e Amarela (CVA) responderam por 46% dos R$ 8,1 bilhões transacionados por todo o conglomerado.

Não é só: 49% do lucro líquido, ou praticamente a metade, foram gerados pelas novas linhas de negócios, assim como 44% dos lançamentos e 40% do land bank (banco de terrenos) já são fruto da diversificação.

No cômputo geral, e com a ajuda providencial da plataforma de habitação, a MRV&CO alcançou resultados sólidos em 2021. Seu lucro líquido de R$ 914 milhões significou um acréscimo de 66% sobre 2020, enquanto as receitas operacionais líquidas somaram R$ 7,1 bilhões, 7% acima do ano anterior.

E isso, ressalte-se, em um cenário desafiador marcado pela alta da inflação e dos juros. “Tivemos grandes avanços em 2021, o que se deve sobretudo à evolução da plataforma de soluções habitacionais”, pontua Paixão.

A estrela do balanço da MRV&CO foi a AHS Residencial, incorporadora dos Estados Unidos que foi comprada pelo grupo brasileiro no início de 2020.

Para onde quer que se olhe, os números da AHS impressionam. A empresa está presente em 19 cidades e 3 estados (Flórida, Geórgia e Texas) americanos e possui um land bank suficiente para produzir 7.402 unidades – é o equivalente a R$ 11,4 bilhões em VGV.

Em 2021, a AHS teve lucro líquido de R$ 343,5 milhões, ante R$ 17,7 milhões em 2020. Ou seja: o resultado foi multiplicado por 19 vezes. No ano passado, foram produzidas cerca de 1,3 mil unidades, mais do que o dobro do período anterior. Em 2022, diz Paixão, chegarão perto das 4 mil unidades.

O que explica desempenho tão robusto? O executivo da MRV&CO aponta várias razões. A primeira delas é o mercado americano aquecido, que beneficiou as operações do grupo brasileiro e o modelo verticalizado da compra à gestão dos apartamentos alugados, passando pelo desenvolvimento dos projetos e construção.

A empresa transferiu a tecnologia de construção já consagrada no Brasil para os Estados Unidos, o que reduziu a necessidade de contratação de mão de obra e o tempo de finalização dos empreendimentos.

É o caso do Pod, técnica de construção que consiste em levar ambientes modulares e pré-fabricados para serem instalados nos edifícios. “Nossos banheiros, por exemplo, chegam à obra praticamente prontos, basta fazer a conexão elétrica e hidráulica”, explica Paixão. O próximo passo é o Pod de cozinha, que segue a mesma lógica.

Nos Estados Unidos, o sistema é pouco utilizado, já que cada empreendimento é de um jeito. Na AHS, ele é 100% padronizado, o que traz enorme vantagem competitiva para os projetos da MRV&CO.

As outras divisões de negócios também demonstram força. A Urba, braço de loteamentos residenciais do grupo, vendeu 3.108 unidades em 2021, o que representou um aumento de 149% em relação a 2020. O VGV totalizou R$ 456 milhões, um salto de 163% sobre o ano anterior.

No caso da Urba, a eficiência operacional chama a atenção. O diretor-executivo de Finanças e Relações com Investidores lembra que a empresa encerrou 2021 com margem bruta de 43%, contra 39% em 2020.

Ótimos resultados também vieram da Luggo, startup do grupo MRV&CO voltada para o aluguel de imóveis construídos exclusivamente para essa finalidade. A Luggo conta com um pool de serviços voltados para comodidade dos moradores cujos dados de NPS (Net Promoted Score) mostram a satisfação dos clientes com as inovações implementadas nos condomínios.

Em dezembro de 2021, a empresa deu um dos passos mais importantes de sua trajetória até agora ao assinar um acordo com o fundo canadense Brookfield para a venda de 5,1 mil unidades. Somadas, elas têm um VGV estimado em R$ 1,26 bilhão nos próximos 3 anos.

O acordo de venda dos empreendimentos inclui três fases. A primeira delas, cuja largada já foi dada, engloba 1.842 unidades com valor geral de R$ 453 milhões. Na segunda fase, serão 2.550 unidades e R$ 630 milhões. Na terceira, 710 unidades e R$ 175 milhões.

Paixão lembra que a Luggo, nascida em 2018, ganhou visibilidade inédita em 2021. “Entre agosto e setembro do ano passado, fomos procurados por quatro grandes fundos estrangeiros interessados em fechar parcerias com a empresa.”

O vasto portfólio da MRV&CO é completado pela Sensia, com imóveis destinados para as faixas médias de renda e funding do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE). “Fizemos em 2021 dois lançamentos relevantes e ambos tiveram ótimo resultado de vendas”, diz Paixão.

A busca pela diversificação está por trás de todos esses movimentos. Segundo o executivo da MRV&CO, a plataforma de soluções habitacionais seguirá em permanente evolução. “Não vamos parar por aí”, garante Paixão.