Os últimos dois anos foram, sem dúvida, os mais desafiadores para os empresários e empreendedores brasileiros - que historicamente já são especialistas em resiliência. As relações humanas se transformaram de maneira significativa, e, em especial, a maneira como as empresas se relacionam com seus colaboradores, parceiros de negócios e clientes.
Muito do que era seguido e tido como padrão de sucesso há 2 anos, hoje sequer faz parte da realidade das empresas. Mesmo com o avanço da vacinação, que já imunizou quase 2/3 da população brasileira, e uma retomada gradual das atividades presenciais – sem deixar de seguir todas as medidas sanitárias ainda necessárias – seria um engano pensar que podemos voltar a atuar como antes da pandemia.
A sociedade mudou e algumas das mudanças vieram para ficar. Por isso, para mim, uma das chaves para ter um negócio bem-sucedido em 2022 é justamente entender esse cenário: identificar como essas mudanças e transformações da sociedade vão impactar as empresas nessa “nova era”, seja na maneira de trabalhar, consumir, inovar ou se promover para todos os públicos.
A partir dessa análise primária, aposto em algumas tendências que todas as companhias, independente do porte e setor, deveriam ficar de olho para se manterem relevantes e produtivas. Em primeiro lugar, as empresas precisam ter o pensamento de ESG como premissa do negócio. O conceito de Social-Ambiental-Governança deve ser o norte para todas as suas ações, produtos e serviços, desde a concepção até a entrega final.
Em 2022 não haverá mais espaço para companhias que não sigam normas rígidas de responsabilidade com a sociedade, meio ambiente e gestão. Todos os stakeholders valorizam e pesquisam as atividades do negócio antes de decidir investir, ser parceiro, cliente ou trabalhar na empresa.
Um segundo ponto importante é que as empresas também devem se atentar à união de produtividade com qualidade de vida no trabalho. A preocupação – correta – com a saúde mental foi intensificada desde o início da pandemia. E isso necessariamente se estende à vida corporativa.
"A preocupação – correta – com a saúde mental foi intensificada desde o início da pandemia. E isso necessariamente se estende à vida corporativa"
Mas como ter esse equilíbrio? Uma das possibilidades é uma gestão de tarefas mais inteligente, com mais autonomia para os colaboradores, melhor senso de priorização dos assuntos, o uso do remoto e do presencial de forma inteligente - a favor dos resultados, fugindo de mitos e exageros.
Isso significa que mais do que nunca será fundamental transmitir confiança ao time, descentralizando decisões e tratando os profissionais no cotidiano do trabalho com respeito, como pessoas adultas que são. Pode parecer simplista ou até mesmo óbvio, mas essas pequenas demonstrações podem fazer a diferença para que todos se sintam mais confiantes e satisfeitos em suas rotinas diárias.
A experiência dos últimos meses com trabalho remoto - que ainda será realidade para aqueles que adotarem o modelo híbrido - veio para ficar e nos ensinou muito sobre confiança, responsabilidade e como lidar melhor com a relação entre ser produtivo e manter uma vida mentalmente saudável.
A terceira tendência está bastante relacionada com a anterior: a adequação ao modelo híbrido. Nós aprendemos a viver digitalmente, algo que era impensável para muitas companhias no começo de 2020. Todos que puderam, levaram seus colaboradores para o home office e seus negócios para o digital.
Mesmo com a retomada gradual, não seremos mais 100% físicos - com raras exceções. Um levantamento da Great Place to Work (GPTW) com mais de duas mil empresas brasileiras mostra que 30% já possuem novas políticas de formato de trabalho. É importante as empresas estarem preparadas para uma nova rotina, seja em termos de estrutura tecnológica e física, seja no que diz respeito a relações trabalhistas.
"Há milhares de empresas produzindo soluções que podem complementar ou aprimorar o seu negócio. E, muitas vezes, trabalhar em parceria com uma startup é mais eficiente, produtivo, e tem uma relação custo-benefício melhor do que inovar dentro de casa"
Outra tendência que merece atenção das empresas é buscar – e encontrar – vias de inovação constante. Algo que acelerou de maneira exponencial nos últimos meses foi o aumento do número de startups no Brasil.
Um levantamento da plataforma Liga Ventures identificou mais de 16 mil startups no Brasil, que atuam em dezenas de setores diferentes da economia. E, de acordo com o relatório Inside Venture Capital da Distrito, o valor de aportes recebidos por startups em 2021 já é superior a U$5 bilhões.
Há milhares de empresas produzindo soluções que podem complementar ou aprimorar o seu negócio. E, muitas vezes, trabalhar em parceria com uma startup é mais eficiente, produtivo, e tem uma relação custo-benefício melhor do que inovar dentro de casa. E possibilita focar com mais afinco e inteligência no core business da sua empresa.
Por fim, destaco também a necessidade de uma estratégia multicanal. Hoje, todo mundo se acostumou a consumir e se relacionar de maneira digital. De acordo com uma pesquisa da Harvard Business Review, os clientes que utilizam mais de um canal de compras gastam 4% a mais em lojas físicas e 10% a mais em lojas online em comparação com consumidores que utilizam apenas um canal para suas compras.
Ou seja, além de as pessoas estarem mais dispostas a comprar online – um hábito irreversível –, esse cliente tende a consumir mais se a marca ou empresa estabelece uma conversa eficiente em seus diferentes canais não só de vendas, mas de contato com o cliente. Não basta ter uma estratégia focada no digital, é preciso utilizar ferramentas que auxiliem a se relacionar de maneira inteligente em todas as frentes.
Com um bom entendimento sobre como agir frente à nova realidade do país e compreender as tendências do mercado, sem dúvidas há oportunidades a serem aproveitadas. As ferramentas para colocar tudo isso em prática já existem: pessoas, tecnologia e um bom planejamento organizacional. Vamos nessa?
Dennis Herszcowicz é CEO da Totvs