O governo estadual de São Paulo incluiu o projeto do Trem Intercidades Eixo Norte, uma linha de trem de passageiros que ligaria a capital paulista a Campinas, na lista de propostas indicadas pelo estado ao novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal, que será anunciado em agosto.
Velho sonho de governos paulistas anteriores à atual gestão de Tarcísio de Freitas, o projeto está orçado em R$ 12,8 bilhões no modelo de parceria público-privada (PPP).
Mas, importante destacar, esse projeto não é o mesmo do Trem de Alta Velocidade (TAV), que chegou a ser incluído no PAC do primeiro mandato do governo Dilma Rousseff, entre 2011 e 2014, para ligar inicialmente São Paulo ao Rio de Janeiro e depois com extensão para Campinas, mas que foi abandonado em razão dos elevados custos, acima de R$ 50 bilhões.
Sem a megalomania do TAV, o projeto do Trem Intercidade já estava em estágio avançado independentemente do PAC, com traçado, ligações com outros intermodais e prazo para conclusão definidos, para 2031. Até o leilão para concessão de 30 anos do serviço já foi marcado, para novembro.
De acordo com o governo paulista, já há pelo menos três grupos privados, entre nacionais e internacionais, interessados no projeto.
A gestão Tarcísio de Freitas indicou outros dois programas para serem incluídos no novo PAC, mas não deu detalhes.
“Assim como outros estados, o Governo de São Paulo participou de reuniões para indicação de possíveis projetos, entre eles o Trem Intercidades Eixo Norte, para compor a carteira do programa e agora aguarda confirmação de inclusão dos empreendimentos sugeridos”, limitou-se a dizer o governo paulista, em nota.
Antes de sugerir a inclusão do projeto no PAC, o governo paulista havia anunciado intenção de aportar metade (R$ 6,4 bi) do investimento do projeto, com o restante a cargo da empresa ganhadora.
O Trem Intercidades faz parte do Programa de Parcerias e Investimentos (PPI) do governo paulista, que tem 17 projetos disponíveis, com cerca de R$ 192 bilhões em investimentos.
São projetos de concessão, PPPs e de privatizações nas áreas de saneamento, mobilidade urbana, rodovias e energia.
Viagem rápida
O Trem Intercidades envolve três serviços diferentes. O principal, Serviço Expresso, prevê uma linha com trem de média velocidade (140 km/h) entre a Estação Barra Funda, em São Paulo, e Campinas, com parada em Jundiaí e capacidade para 800 passageiros.
Esse serviço vai compartilhar a mesma ferrovia hoje operada pela Linha 7-Rubi da CPTM, mas haverá a construção de novas linhas em parte dos trechos.
O percurso de 104 quilômetros seria feito em 1h04, com intervalos de 15 minutos entre uma partida e outra nos horários de pico.
A tarifa estipulada, de R$ 64, é um atrativo para os passageiros, pois uma passagem de ônibus entre as duas cidades custa atualmente cerca de R$ 50 e a viagem rodoviária pode levar entre 1h30 e 2h, dependendo do trânsito local na saída e chegada.
Para quem viaja de carro, o custo dos pedágios na Rodovia dos Bandeirantes entre Campinas e São Paulo é de R$ 24,60, valor que dobra na viagem de volta.
Os outros dois serviços previstos pelo projeto têm formatos diferentes em relação à linha expressa entre Campinas e São Paulo.
Um deles, chamado de Serviço TIM (Trem Intermetropolitano) vai de Jundiaí a Campinas, com paradas em Louveira, Vinhedo e Valinhos. O percurso, de 44 quilômetros -- com nove estações, velocidade de 56 km/h e tarifas mais baixas -- seria feito em 55 minutos.
O terceiro, chamado de Serviço Linha 7, seria uma extensão da Linha 7-Rubi da CPTM, entre São Paulo e Jundiaí, a partir da Estação Barra Funda. Durante o trajeto, terá paradas nos municípios de Franco da Rocha, Francisco Morato, Campo Limpo Paulista e Várzea Paulista.
Os três serviços vão compartilhar os mesmos trilhos.
Mas como no trajeto entre Jundiaí e São Paulo a Linha 7 utilizaria os trilhos dos trens de carga, será necessário construir uma linha exclusiva, em paralelo à existente, para acomodar o transporte de cargas, além de infraestrutura de apoio, como estações, para atender os passageiros.
Atrativos para investidores
Paulo Resende, coordenador do Núcleo de Infraestrutura e Logística da Fundação Dom Cabral, afirma que o projeto tem características para atrair a iniciativa privada.
Uma delas é o aproveitamento de parte do traçado atual, o que reduz o custo com desapropriações. Outro atrativo, segundo ele, é a demanda assegurada de passageiros.
“Além do PIB excepcional de Jundiaí e Campinas, cidades que abrigam grandes centros logísticos, a linha passará por regiões chamadas de cidades-dormitórios, com grande deslocamento de trabalhadores de ida e volta no mesmo dia para o hipercentro de São Paulo”, diz Resende.
Resende diz que iniciativas desse tipo contemplam conexão entre sistemas, do trem às linhas de metrô e de ônibus intermunicipais, por meio de estações de transbordo.
“A linha expressa, conectada aos trens de baixa velocidade e com capacidade de transportar muita gente, vai permitir integração com ônibus, abrindo caminho para uso de bilhete único ou uma tarifa menor, o que assegura interesse para o investidor”, observa, acrescentando a capacidade de um projeto dessa magnitude tirar veículos das Marginais Pinheiros e Tietê e das rodovias.
Mesmo que a linha expressa entre São Paulo e Campinas não seja de trens de alta velocidade (TAV), que têm velocidade acima de 300 km/h, Resende faz um alerta: “Não pode começar como o projeto do TAV entre São Paulo e Rio de Janeiro: quando as autoridades perceberam, já tinha 25 paradas, o que inviabiliza o projeto.”