Quando fez seu IPO na B3, no início de outubro de 2020, a Sequoia deixou bem claro que uma boa parcela dos R$ 348,1 milhões captados reforçaria o histórico de sete aquisições escrito pela companhia de serviços de logística B2C e B2B em seus mais de dez anos de história.
Depois de adquirir, em dezembro passado, a Prime, de transporte e logística de produtos grandes, a Sequoia acaba de anunciar a aquisição da Frenet, empresa brasileira dona de uma plataforma de softwares de transporte para o mercado B2C.
Além de inaugurar sua temporada de compras em 2021, o acordo abre uma nova via na estratégia inorgânica da Sequoia. Antes centrada apenas em ativos tradicionais, agora, a companhia começa a olhar também para as logtechs, as startups do setor orientadas por tecnologia.
“Vamos explorar as oportunidades desse ecossistema e a compra da Frenet é só o primeiro movimento”, diz Armando Marchesan, fundador e CEO da Sequoia, em entrevista exclusiva ao NeoFeed. “Temos entre R$ 120 milhões e R$ 150 milhões só para investir em logtechs neste ano.”
Marchesan não revela o valor desembolsado na compra da Frenet. Mas o empresário não hesita em destacar quais foram os fatores que levaram a Sequoia a assinar o cheque para incorporar a startup, cujos sócios seguem na operação.
“A Frenet nos dá acesso aos micro, pequenos e médios sellers, um share que hoje está, predominantemente, na mão dos Correios”, diz. “E com uma solução digital, de fácil conexão com esse mundo.”
Acostumada a atuar exclusivamente no espaço das grandes companhias, a Sequoia estima um mercado potencial de 1 milhão de micro, pequenos e médios CNPjs dedicados ao varejo e ao e-commerce. Hoje, esse perfil de empresa representa apenas 1% da receita da companhia.
Fundada em 2015, em Birigui, cidade do interior de São Paulo, a Frenet desenvolveu uma plataforma que, entre outros recursos, conecta esse perfil de cliente a mais de 300 transportadoras e a operadores como os Correios, além de mais de 80 plataformas de e-commerce e ERPs. Ao fazer essa intermediação e com a escala obtida, a startup oferece esses serviços a preços mais acessíveis.
“A plataforma descomplica todo esse processo, com um mar de opções de logística que, sozinho, esse empresário não teria acesso”, explica Christian Horst Alves Reis, CTO da Sequoia. “Hoje, cerca de 30% a 40% das receitas de logística do setor de e-commerce vêm desse segmento de companhias.”
A Frenet tem uma base de 14 mil sellers ativos. Em 2020, a empresa registrou 736 milhões de cotações de frete em sua plataforma. No ano, o faturamento da startup cresceu 82%, para R$ 4,3 milhões.
O plano é plugar a solução da startup na SFx, plataforma lançada em novembro de 2020 pela Sequoia. A ferramenta fornece serviços de coleta de produtos diretamente das lojas de varejistas. Os itens entram na malha logística da Sequoia, que realiza, então, as entregas das encomendas em todo o País.
“Nós já temos uma base de mais de 600 lojas conectadas, em mais de 120 cidades”, conta Reis, sobre a evolução da plataforma que, em 2020, realizou 136 mil entregas.
Com 11 centros de distribuição e cada vez mais focada nas encomendas do e-commerce, a Sequoia tem seis hubs, 228 bases operacionais e uma frota de mais de 4,4 mil veículos dedicada aos serviços B2C. A empresa está presente em mais de 3,3 mil cidades e tem um quadro de cerca de seis mil funcionários.
O portfólio inclui ainda serviços de transporte B2B, com uma estrutura também dedicada, responsável pelas entregas em lojas, shoppings, franquias e no varejo em geral. A oferta de serviços de fulfillment complementa esse pacote.
Com esses três modelos de atuação, a Sequoia fechou o ano passado com uma receita líquida de R$ 998,1 milhões, alta de 89% sobre 2019. Na mesma base de comparação, o lucro líquido ajustado cresceu 182%, para R$ 42,7 milhões.
Produtos financeiros
A Sequoia enxerga a possibilidade de desenvolver mais fontes de receita a partir da escala conquistada em suas operações. Hoje, por exemplo, a empresa movimenta perto de R$ 1,2 bilhão nos fretes pagos às transportadoras e motoristas terceirizados que realizam esses serviços em sua operação.
Nesse contexto, um dos próximos movimentos é a estruturação de um portfólio de produtos e serviços financeiros, como antecipação de recebíveis, para os motoristas, e, agora, com a Frenet, a oferta de crédito para os micro, pequenos e médios empresários.
A empresa já tem um projeto-piloto em andamento desde janeiro, com dois parceiros, e o plano é colocar essa oferta oficialmente no mercado ainda nesse semestre. “Ainda temos uma boa parte dos recursos do IPO e uma parcela do crédito nessas soluções virá da própria empresa”, diz Marchesan.
À parte desses testes, a empresa segue ativa mapeando novas logtechs para engrossar sua lista de aquisições. Essa estratégia envolve duas premissas. A primeira, são ferramentas voltadas às entregas no mesmo dia. E a segunda, os sistemas para reforçar o portfólio de gestão de cargas completas, dado que a empresa tem mais atuação hoje nas tecnologias relacionadas a cargas fracionadas.
As aquisições de maior fôlego, de ativos tradicionais, seguem no cardápio. “Esse mercado ainda é extremamente fragmentado, com os 30 principais players respondendo por apenas 11% das receitas”, diz Marchesan. “Estamos avaliando mais 10 empresas e perto de fechar um acordo até a próxima semana”, acrescenta, sem revelar detalhes sobre a tal negociação.
O empresário também não descarta participar de uma eventual privatização dos Correios. Ele ressalta, no entanto, que tudo depende de qual modelo será adotado nesse processo. “Mas, como player relevante, nos sentimos na obrigação de, no mínimo, avaliar essa possibilidade.”
A Sequoia fechou o ano passado com uma receita líquida de R$ 998,1 milhões, alta de 89% sobre 2019
Marchesan fala ainda sobre outra movimentação no mercado, já em andamento e cada vez mais fortalecida: os crescentes investimentos de grandes varejistas e marketplaces, como Magazine Luiza, Via Varejo e Mercado Livre, na oferta de serviços de logística a partir de suas próprias malhas. Ele não enxerga, porém, riscos nesse contexto.
“Desde o início, focamos nas entregas mais complexas, seja do ponto de vista de tamanho, perfil ou região”, afirma, ressaltando que esse modelo é complementar ao que esses varejistas estão ofertando. “Tanto que estamos no contra-fluxo, 70% do nosso volume é no interior do País.”
Enquanto segue ganhando espaço ao priorizar destinos nos quais boa parte da concorrência não chega, a Sequoia colhe bons frutos em um outro percurso. Avaliada em R$ 3,57 bilhões, a empresa acumula uma valorização em suas ações de mais de 123% desde o IPO. Em 2021, a alta é de 21,85%.
“Nós tínhamos um desafio, porque éramos uma empresa pouco conhecida e que atuava mais nos bastidores”, diz Marchesan. “Mas era importante acelerar esse acesso ao capital. E ser a primeira companhia de logística e tecnologia voltada para o e-commerce na bolsa nos dá possibilidade de liderar essa onda.”