O avanço da PEC da Transição e os sinais emitidos pelo governo eleito a respeito do futuro da política fiscal tem deixado alguns dos principais gestores do País preocupados com os rumos da economia - e da Bolsa - em 2023.
Um deles é Luis Stuhlberger, CEO e CIO da Verde Asset Management, gestora com R$ 33 bilhões de ativos sob gestão. Ele vê o terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva ganhando contornos semelhantes ao governo da ex-presidente Dilma Rousseff.
O renomado gestor se mostrou preocupado com os sinais de que Lula vai adotar um receituário heterodoxo com inspirações naquilo que ficou conhecido por Nova Matriz Econômica e que, entre suas proposições, estavam o aumento de gastos pelo Estado.
“Com um governo gastador, teremos juros mais altos, inflação mais alta e a volta ao modelo em que, de um lado o governo pisa na acelerador dos gastos, enquanto o Banco Central precisa colocar o pé no freio”, disse Stuhlberger, em sua participação no Macro Vision 2022, evento promovido pelo Itaú BBA nesta quinta-feira, 8 de dezembro.
Para ele, considerando o aumento de gastos promovidos nos últimos dois anos pelo governo de Jair Bolsonaro, mais a PEC da Transição, que prevê a ampliação do teto de gastos em R$ 145 bilhões para acomodar o Bolsa Família, os gastos extras alcançam a casa dos R$ 300 bilhões.
“Lula acredita piamente que, como ele conseguiu aumentar os gastos em seu governo e o PIB subiu 4% ao ano em média, enquanto nos anos do Teto de Gastos não houve crescimento da economia, ele conseguirá repetir essa fórmula”, afirmou. “Isso funcionou naquele momento, mas agora trata-se de um caminho extremamente perigoso de seguir.”
Sua preocupação foi reforçada por Rodrigo Azevedo, CIO da Ibiuna Investimentos. Ele destacou que o momento é favorável para o Brasil, com o mundo entrando em recessão, mas com os bancos centrais chegando ao fim do aperto monetário, o que traria alívio aos investidores e poderia resultar num fluxo de recursos aos mercados emergentes.
E o Brasil, credor líquido em dólar, com inflação demonstrando desaceleração, distante dos problemas geopolíticos e sem qualquer tipo de questões relacionadas à energia, tinha tudo para puxar os investimentos.
“Se fizéssemos o mínimo no lado fiscal, 2023 poderia ser um ano muito bom, mas tudo o que estamos vendo até agora não é nessa direção”, afirmou Azevedo.
A preocupação com o lado fiscal vem acompanhada com o que o próximo governo pode fazer pelo lado parafiscal, segundo Felipe Guerra, CIO da Legacy Capital.
Ele destacou receios com a volta do uso dos bancos públicos para injetar crédito subsidiado na economia, pressionando ainda mais as contas públicas e a inflação. Além da possibilidade da apresentação de medidas para revogar reformas importantes para a economia, caso da Previdência e da Trabalhista.
“Estou vendo ideias como a mudança na reforma da Previdência, na TLP (Taxa de Longo Prazo)", observou Guerra. "E se isso acontecer, o BC vai apanhar muito, porque vai ter que aumentar os juros e isso pode provocar um fogo amigo violento contra o BC, com o Congresso podendo mudar a questão da independência."
Diante das circunstâncias, o trio se mostrou reticente quanto às perspectivas de investimentos, em especial, com a Bolsa. Stuhlberger afirmou que a Verde permanece pessimista com o mercado de capitais de maneira geral, com o fundo mantendo uma posição de 15% em renda variável, abaixo da média de 20% a 25%.
Mesmo com empresas menos dependentes do PIB, caso de Energisa e Equatorial, que tem apresentado retornos robustos, ele demonstra receio.
“A questão é o risco regulatório, temos visto muitas conversas sobre mudanças”, afirmou, relembrando a época em que Dilma Rousseff apresentou a Medida Provisória (MP) 579, que propôs a renovação das concessões das usinas hidrelétricas e resultou em um aumento de despesas na casa dos R$ 200 bilhões no setor.