Por anos considerados tóxicos e perigosos, capazes de viciar e levar usuários a ficarem loucos, os psicodélicos vêm experimentando um rebranding no mundo da medicina. Cientistas têm ressuscitado pesquisas conduzidas nos anos 1940 a respeito dos potenciais terapêuticos dessas substâncias quando elas ainda não eram proibidas pelos governos.
Os primeiros resultados vêm mostrando que o LSD, a psilocibina - a principal substância ativa dos cogumelos alucinógenos - e o MDMA, uma das substâncias presentes no ecstasy, podem ajudar no tratamento de depressão, estresse pós-traumático e outras doenças psiquiátricas. E com um desempenho superior aos tradicionais medicamentos desenvolvidos pela indústria farmacêutica.
Entre os entusiasmados com esse “renascimento” dos psicodélicos está a “careta” Wall Street, que está investindo dezenas de milhões de dólares em startups que estão desenvolvendo medicamentos e tratamentos a partir dessas substâncias.
A Transcend Therapeutics, por exemplo, levantou US$ 40 milhões em janeiro deste ano para desenvolver um tratamento para estresse pós-traumático que o seu CEO, Blake Mandell, diz precisar de apenas uma fração de MDMA, segundo o jornal The Wall Street Journal.
Outros nomes, como Gilgamesh Pharmaceuticals e Lusaris Therapeutics, anunciaram que levantaram US$ 100 milhões cada, desde novembro, para desenvolverem produtos similares para o tratamento de depressão.
A questão da saúde mental tem chamado a atenção nos Estados Unidos. Segundo dados do CDC, órgão federal responsável por monitorar e orientar sobre questões de saúde no país, um em cada 25 americanos vive com alguma doença mental grave.
A expectativa é de que os psicodélicos possam ajudar no tratamento dessas pessoas. O FDA, órgão americano equivalente à Anvisa, deve aprovar o uso de MDMA e da psilocibina em tratamentos psiquiátricos nos próximos anos.
Mas superar a barreira das autoridades não representa o fim dos desafios para o uso de psicodélicos em tratamentos médicos. Isso porque, em seus formatos atuais, os tratamentos são caros e demorados. Eles precisam ser administrados por terapeutas treinados e algumas substâncias possuem efeito bastante prolongado, durando até oito horas e exigindo que o paciente realize terapia antes e após a ingestão.
As três startups afirmam que os tratamentos que estão desenvolvendo terão efeito rápido e não irão se prolongar tanto quanto o MDMA ou a psilocibina. Se conseguirem isso, elas estarão removendo um importante obstáculo na oferta de tratamentos a base de psicodélicos a um público mais amplo.
Algumas empresas estão tentando desenvolver compostos psicodélicos que não causam alucinações ou experiências eufóricas, para que os tratamentos sejam mais curtos e mais baratos.
A Transcend afirma que o seu medicamento provoca euforia no paciente, mas não causa alucinações. No momento, a empresa está conduzindo estudos clínicos de uma droga chamada Methylone, voltada para pacientes com estresse pós-traumático e com a vantagem de ser mais leve em termos de euforia do que o MDMA, segundo Ben Kelmendi, cofundador e cientista chefe da startup.
As rodadas de captação das companhias e o foco em criar terapias menos custosas coincidiu com a forte onda de vendas de ações de empresas de biotecnologia, no ano passado. A situação reduziu um pouco o entusiasmo a respeito dos psicodélicos, mas não o otimismo, já que a redução dos valuations vem incentivando a chegada de investidores.
A britânica Small Pharma, que está desenvolvendo um tratamento para depressão a partir da Dimetiltriptamina (DMT), presente em bebidas psicoativas como a ayahuasca, levantou US$ 52 milhões com uma oferta de ações no Canadá, em 2021.
Com US$ 17 milhões ainda em caixa fruto desse aporte, agora, a empresa está planejando uma nova oferta para financiar mais estudos, sem demonstrar receios com a retração dos investidores para companhias de biotecnologia, como ocorreu no ano passado.
“O mercado de capitais dos Estados Unidos é maior em termos de magnitude que do Canadá, e tem mais expertise”, disse ao WSJ o CEO da empresa, George Tziras.