Dados divulgados em relatório publicado recentemente pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) mostram como os ETFs (Exchange Traded Funds), os fundos de investimentos atrelados a índices de referência, são pouco explorados no Brasil.
Segundo a Anbima, a indústria de fundos de investimentos possui um patrimônio total de R$ 8,2 trilhões. Os ETFs somam pouco mais de R$ 40 bilhões – ou seja, sua representatividade é de apenas 0,5%.
Para efeito de comparação, o saldo investido em ETFs equivale a cerca de 5% do volume aplicado por brasileiros na caderneta de poupança.
O número de investidores também é modesto: em dezembro de 2023, eram 508 mil, muito abaixo dos 2,5 milhões de brasileiros que possuem saldo em aplicações no Tesouro Direto.
Basta acompanhar os dados internacionais para confirmar que o mercado brasileiro de ETFs tem longa avenida de crescimento pela frente.
No mundo, os ETFs formam uma indústria estimada em mais de US$ 10 trilhões. Segundo estudo da consultoria PwC, esse mercado chegará a US$ 18 trilhões até 2026.
“É uma indústria ainda pequena no Brasil, mas com enorme potencial”, diz Ricardo Eleuterio, diretor da Bradesco Asset. “E o momento não poderia ser mais oportuno para os ETFs”, acrescenta Rafael Amaral, gestor de fundos indexados da Bradesco Asset.
A Bradesco Asset antecipou-se ao movimento de virada dos ETFs. A casa lançou no ano passado quatro fundos de índices. Agora, há sete ETFs em seu portfólio.
Muito antes, em 2019, a gestora criou uma mesa dedicada a ETFs, de forma a aproveitar as oportunidades que certamente surgiriam mais adiante.
De fato, a virada do ciclo monetário no Brasil e no mundo, com cortes de juros que tendem a se intensificar ao longo do ano, deverá aumentar o apetite dos investidores por ativos de risco.
É aí que os ETFs entram em cena. Com os fundos de índices, lembra Eleuterio, é possível investir em uma cesta de ativos no mercado acionário de forma rápida, simples e acessível aos investidores.
Além disso, a estratégia diminui riscos. Isso porque, ao comprar a cota de um ETF, o investidor adquire fatias de várias empresas, o que reduz os efeitos negativos de desempenhos ruins de uma única companhia.
Eleuterio cita o ETF BREW11 como exemplo de fundo que proporciona uma diversificação eficiente. Trata-se do primeiro ETF de pesos iguais no mercado de ações brasileiro.
Segundo o executivo, o índice de pesos iguais diminui o viés de concentração em setores ou empresas específicas. Além disso, a estratégia tem uma maior alocação a empresas de menor capitalização quando comparado com outros ETFs que acompanham índices amplos, o que geralmente traz melhores retornos para os investidores em ciclos de corte de juros.
O BREW11, registre-se, replica o índice Morningstar Brazil Equal Weighted Index, que acompanha a performance do mercado de ações brasileiro e é ponderado igualmente. Para simplificar: cada empresa tem o mesmo peso na composição total do índice.
Outros destaques dos portfólios da Bradesco Asset são os ETFs setoriais, BCIC e BDEF, altamente difundidos em outros mercados e que começam a ganhar tração por aqui.
O ETF BCIC11 investe em empresas mais expostas aos ciclos econômicos, principalmente nos setores de materiais básicos, serviços financeiros, imobiliário, industrial e energia, entre outros.
A gestora possui ETFs com diferentes estratégias, possibilitando os investidores expressarem suas visões de investimentos de forma simples e eficiente.
O BDEF11, por exemplo, vai na direção oposta. Ao contrário do BCIC11, ele mira empresas menos expostas aos ciclos econômicos, tais como de utilidade pública, saúde e consumo não-cíclico.
A diversificação não é a única vantagem trazida pelos ETFs. Rafael Amaral cita a liquidez imediata como um fator que deve ser considerado pelos investidores, além da facilidade para comprar e vender os ETFs.
Há outros aspectos positivos, os interessados nesses produtos têm acesso a informações completas sobre os ativos que compõem a carteira do ETF, o que assegura a transparência da estratégia de investimento.
A transparência é um grande diferencial dos ETFs. Recentes mudanças regulatórias no Brasil obrigaram o mercado a fornecer maiores informações sobre a cadeia de remuneração dos produtos.
Com as mudanças, é possível imaginar, ao longo do tempo, uma migração para uma remuneração fixa sobre as carteiras, a despeito dos produtos. A medida incentiva a criação de carteiras mais eficientes para o investidor.
Em países como Estados Unidos, demanda por maior transparência, vantagens tributárias no produto e crescimento da atividade de consultoria, impulsionaram significativamente os ETFs no país.