Durante o roadshow para a apresentação da Rede Mater Dei de Saúde a potenciais investidores, os controladores do grupo de origem mineira venderam ao mercado um ambicioso plano de expansão nacional. A tese era clara: consolidar o mercado de saúde. E, em pouco tempo, a rede passou a entregar o que havia prometido.
Em abril deste ano, a Mater Dei abriu seu capital na bolsa e, no início de julho, mostrou seu apetite ao finalizar a compra de 70% do Grupo Porto Dias, dono de duas unidades hospitalares e duas centrais de diagnóstico em Belém, no Pará. Não foi um negócio qualquer. O Porto Dias é a maior rede privada de hospitais da região Norte do Brasil, é o único com acreditação JCI na região e tem 29 anos de serviços prestados na área de saúde.
“A compra do Porto Dias sinaliza para o mercado que pretendemos ser protagonistas do processo de consolidação do setor hospitalar no Brasil”, diz o médico Henrique Salvador, filho do também médico José Salvador Silva, que fundou a Mater Dei há 41 anos.
Salvador está de olho em um dos mercados mais dinâmicos do Brasil. Somente no segundo trimestre, foram realizadas 32 transações de fusão e aquisição no setor de saúde, ou 78% a mais do que no primeiro trimestre, segundo levantamento da Ondina Investimentos. O número corresponde a um negócio fechado a cada três dias – um recorde.
“Nós chegamos à conclusão que, se quiséssemos perenidade, seria preciso crescer ou acabaríamos absorvidos por algumas das grandes do mercado”, diz o presidente. “De fato, não faltaram propostas para isso, mas escolhemos trilhar o nosso próprio caminho. A decisão foi acertada.”
Para selar a aquisição, a Mater Dei desembolsou R$ 800 milhões, além de emitir 27 milhões de ações da empresa em favor dos controladores do Grupo Porto Dias para a compra de 70% do negócio. A transação também estabeleceu as condições e termos para a compra futura dos 30% remanescentes nos próximos 5 anos.
A incorporação do Grupo Porto Dias abre uma avenida de possibilidades para a Rede Mater Dei. A ideia agora é criar uma espécie de hub para impulsionar novos negócios no Norte do País. No Pará, a empresa enxerga oportunidades em cidades como Marabá, Parauapebas e Santarém, mas há também boas perspectivas em Manaus, no Amazonas, e Porto Velho, em Rondônia.
E isso sem contar Belém, a cidade onde o Grupo Porto Dias está sediado. A região metropolitana tem 2,5 milhões de habitantes e nos últimos anos vem registrando taxas de crescimento superiores à média brasileira. Além disso, há muito campo para ser explorado. Em Belém, a penetração dos planos de saúde entre a população é de 28%. Para efeito de comparação, em Belo Horizonte o índice está em torno de 50%.
A estratégia da Rede Mater Dei é levar para a capital paraense as operadoras que são suas parceiras de longos anos, como SulAmérica, Bradesco e Amil. “Para essas empresas, a nossa chegada também representará uma oportunidade de expansão”, diz Henrique Salvador.
A chegada ao Norte do País não foi a primeira investida da Mater Dei além das fronteiras de Minas Gerais. A empresa está construindo em Salvador, na Bahia, um hospital com 370 leitos ao custo de R$ 500 milhões, com recursos próprios somados ao financiamento do Banco do Nordeste.
O complexo contará com um hospital geral, maternidade, pronto atendimento e centro médico instalados em uma área construída de 72 mil metros quadrados. Com previsão de inauguração em 2022, o hospital realizará atendimentos particulares e por meio de planos de saúde.
Por que Salvador? “Queremos ir para praças onde seremos relevantes”, diz o médico. Ele diz que a capital baiana tem características que tornam um projeto greenfield viável. Salvador é a porta de entrada do Nordeste e apresenta grande potencial de crescimento no setor de saúde.
Com os recursos do IPO, quando movimentou R$ 1,4 bilhão, novas aquisições serão feitas no futuro próximo. O grupo está atento principalmente em oportunidades nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. “Obviamente, existem ativos relevantes no Sul e Sudeste, mas priorizamos primeiro aquelas outras regiões”, ressalta o médico.
A abertura de capital reforçou o apetite da Mater Dei por novos negócios, mas a rede sempre foi inquieta. Seu primeiro hospital, o Mater Dei Santo Agostinho, foi inaugurado em 1980, em Belo Horizonte, e ampliado no ano 2000. Em 2014, foi a vez da estreia do Mater Dei Contorno, também em BH. Em 2019, nasceu o Mater Dei Betim-Contagem.
Ao todo, sem contar o Grupo Porto Dias, a Rede Matei Dei possui 1.081 leitos, 3 mil colaboradores e 5 mil médicos autônomos cadastrados em seu corpo clínico. Com o Porto Dias, serão somados ao quadro de pessoal 2 mil funcionários e 800 médicos.
A abertura de capital reforçou a gestão profissional do negócio. Apesar de ser uma empresa familiar, a Mater Dei sempre procurou adotar os bons preceitos corporativos. Seu conselho de administração existe há 11 anos e conta com cinco membros externos ao negócio.
A sucessão familiar é feita de maneira rigorosa. Os integrantes da terceira geração, netos do fundador, são obrigados a passar por várias etapas antes de assumir posições relevantes na empresa.
Eles precisam cursar uma faculdade compatível com o negócio, trabalhar em um hospital maior ou igual ao Mater Dei e cursar MBA nas principais escolas de negócios do mundo, como Columbia ou London Business School. “Sem isso, não há nenhuma chance de participarem da gestão”, diz o presidente
Iniciativas como essa colocam a Rede Mater Dei de Saúde não apenas como uma empresa ousada e ambiciosa, mas, acima de tudo, como uma das referências do setor hospitalar brasileiro. “Queremos fazer a diferença”, resume Henrique Salvador.