A descarbonização do setor de transportes tornou-se um imperativo inadiável. No Brasil, o segmento responde por 11% das emissões de gases de efeito estufa – ou cerca de 260 milhões de toneladas de gás carbônico equivalente por ano.
Caso nenhuma medida seja adotada, este número poderá chegar a 424 milhões de toneladas em 2050, evidenciando a urgência que se impõe a um país que precisa, ao mesmo tempo, expandir sua economia, garantir mobilidade à população e cumprir as metas da agenda climática global.
Foi para enfrentar esse desafio que nasceu a Coalizão para a Descarbonização dos Transportes, iniciativa liderada pela Motiva, maior empresa de infraestrutura de mobilidade do país, em parceria com o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), a Confederação Nacional do Transporte (CNT) e o Observatório Nacional de Mobilidade Sustentável do Insper.
A Coalizão reúne mais de 100 associações empresariais, empresas e academia ligadas ao setor de transportes em torno de uma missão ambiciosa: transformar a mobilidade em vetor de sustentabilidade e desenvolvimento.
Recentemente, durante o evento “Brasil Rumo à COP30”, em Brasília, aNeste ano, a Coalizão apresentou ao governo federal um estudo robusto com 90 medidas concretas para reduzir em até 70% as emissões do setor até 2050 e atrair mais de R$ 600 bilhões em investimentos verdes.
As projeções dão a medida do alcance da Coalizão. Se todas as ações forem adotadas, as emissões do setor poderiam despencar para 137 milhões de toneladas de gás carbônico equivalente, evitando a liberação de outras 287 milhões de toneladas. O resultado equivaleria a plantar 13,7 bilhões de árvores ou retirar de circulação 62,4 milhões de carros.
“A emergência climática exige uma atuação articulada entre poder público, iniciativa privada e sociedade civil”, diz Miguel Setas, CEO da Motiva. “A descarbonização do transporte não é apenas uma agenda de sustentabilidade, mas também de desenvolvimento econômico e social.”
A Coalizão se apoia em diversas alavancas. A primeira é a eletrificação: a meta é que metade dos carros de passeio e 300 mil ônibus sejam elétricos ou híbridos até 2050, com potencial para eliminar 145 milhões de toneladas de emissões.
Para viabilizar essa meta, o Brasil precisará instalar até 1,9 milhão de pontos de recarga, em um investimento estimado em R$ 40 bilhões.
O segundo alicerce do plano é o rebalanço da matriz logística, elevando a participação de ferrovias e hidrovias no transporte de cargas de 31% para 55% – uma mudança capaz de evitar a emissão de 65 milhões de toneladas de gás carbônico equivalente até 2050.
Ao analisar as perspectivas para o setor ferroviário, o plano aponta para o potencial de duplicar a participação desse modal na matriz de transportes dos atuais 16% para 32%.
Para isso, são necessários investimentos superiores a R$ 270 bilhões na expansão da malha e na introdução de tecnologias mais sustentáveis, como hibridização de locomotivas, o uso de diesel verde e a adoção de sistemas inteligentes de operação ferroviária.
A terceira grande contribuição virá da ampliação do uso de biocombustíveis em todos os modais da matriz de transporte. O plano prevê que a maior utilização de etanol, diesel verde, biometano, SAF (Sustainable Aviation Fuel) e combustíveis sintéticos poderá evitar a emissão de 45 milhões de toneladas de gás carbônico equivalente.
O resultado só será alcançado se a demanda por biocombustíveis quase dobrar, passando dos atuais 30 bilhões de litros para 55 bilhões em 2050. Segundo dados da Coalizão, o movimento deverá atrair R$ 225 bilhões em investimentos verdes para o país.
A mobilidade urbana, responsável por 45% das emissões nas cidades, também ocupa lugar central no plano. Foram listadas 21 ações que incluem desde incentivar o adensamento urbano e otimizar rotas até estimular o uso de bicicletas, metrôs e ônibus elétricos, além de criar zonas de baixa emissão.
O investimento estimado para tornar as cidades mais verdes é de R$ 53 bilhões, já previstos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
O alcance da Coalizão foi ampliado em agosto de 2025, quando a Motiva se uniu à World Climate Foundation (WCF) para levar o debate à cena internacional.
A parceria abriu caminho para que executivos da empresa apresentassem o modelo e os resultados da Coalizão dos Transportes em eventos relevantes da agenda climática, como a Rio Climate Action Week e a New York Climate Week. Além disso, a parceria resultará na participação da Motiva em uma série de encontros organizados pela WCF durante a COP30, em Belém.
“A colaboração estratégica com a World Climate Foundation fortalece nossas ações e reafirma nossa ambição de exercer um papel de protagonismo na agenda de sustentabilidade”, afirma Pedro Sutter, vice-presidente de Sustentabilidade, Riscos e Compliance da Motiva.