A edição 2023 do Vale Day, principal encontro da empresa voltado para investidores, deixou uma certeza para o público que acompanhou o evento em Londres ou viu a transmissão ao vivo pelas plataformas digitais: a Vale passou por grandes transformações desde a tragédia de Brumadinho, em 2019.
Uma questão central permeou a apresentação dos principais executivos presentes no Vale Day. “Somos agora uma empresa muito mais segura”, disse o presidente da Vale, Eduardo Bartolomeo. “Esse é o legado que quero deixar.”
Os números falam por si só. A empresa registrou em 2023 a menor Taxa Total de Frequência de Acidentes Registráveis, métrica conhecida como TRIFR, dos últimos 15 anos. Mais do que isso: o indicador foi 61% menor nos primeiros 10 meses de 2023 do que o observado em 2019, consolidando-se como o melhor da indústria.
Não se trata de uma conquista isolada. Outra métrica, conhecida como N2 (ou lesões registráveis de alto potencial de dano), também apresentou queda significativa, de 72% entre 2019 e os primeiros 10 meses de 2023.
A tecnologia tem sido forte aliada para aumentar os níveis de segurança das operações da Vale. Desde 2019, as principais barragens da empresa são monitoradas 24 horas por dia, nos sete dias da semana.
Isso só é possível com o auxílio de equipamentos autônomos, operados remotamente. Entre outras atribuições, eles coletam dados que indicam eventuais danos nas estruturas das barragens ou movimentações na superfície terrestre.
Se forem detectadas alterações não previstas, sirenes disparam automaticamente. “Queremos garantir que tragédias não ocorram novamente”, disse Bartolomeo.
O executivo citou o Programa de Descaracterização de barragens como uma das iniciativas mais importantes de sua gestão, com impacto imediato no aumento da segurança nas operações da empresa.
Desde Brumadinho, 13 estruturas – equivalentes a 43% das barragens a montante – foram descaracterizadas. Até 2035, outras 17 estruturas seguirão o mesmo caminho. Nos últimos quatro anos, o plano de descaracterização recebeu R$ 7 bilhões em investimentos.
As novas metas estabelecidas pela empresa confirmam que a segurança se tornou um dos pilares que a sustentam agora e que deverão norteá-la no futuro. Até 2025, a Vale não terá nenhuma barragem em nível 3, o maior nível de emergência..
A segurança revigorada não é a única transformação vivida pela empresa nos últimos anos. Para se tornar mais ágil e focar nas áreas prioritárias, a Vale vendeu dez negócios diferentes – de plantas de carvão em Moçambique a participações em siderúrgicas dos Estados Unidos, passando por uma empresa de bauxita.
Estima-se que, ao se desfazer desses negócios, a Vale tenha eliminado até US$ 2 bilhões em despesas por ano. Sem o peso de outras áreas de negócios para administrar, a Vale concentrou os esforços no que realmente interessa: o minério de ferro e os metais da chamada transição energética, essenciais na busca pela descarbonização da economia.
Na plataforma de minério de ferro, a Vale tem se dedicado a aumentar a qualidade do produto. Seu objetivo é elevar o teor de ferro em seu portfólio de 62,5% para 63,5% até 2026, chegando a 64% em 2030.
Registre -se que, quanto maior a qualidade do minério de ferro, menor é o consumo de energia nos processos industriais. Para além da questão de custos, menos gasto energético significa redução das emissões de carbono.
No Vale Day, a empresa destacou também a criação de “Mega Hubs” para a concentração de minério de ferro no Oriente Médio e a produção de briquete, que servirá de insumo para a produção de HBI, um produto intermediário entre o minério de ferro e o aço que pode contribuir de maneira decisiva para a descarbonização do processo siderúrgico.
A segunda plataforma de negócios da Vale, a de metais voltados para a transição energética, também ganhará impulso nos próximos anos.
No final do ano passado, a Vale criou uma nova empresa, a Vale Base Metals, responsável pela produção de cobre e níquel, metais fundamentais para a fabricação de baterias usadas nos carros elétricos.
O negócio de metais básicos chamou a atenção de players internacionais. Em julho, a Vale vendeu uma participação de 13% na empresa, por US$ 3,4 bilhões, para a saudita Manara e para o fundo americano Engine No 1.
A Vale também possui acordos comerciais estratégicos firmados com gigantes da indústria automotiva, como Tesla e General Motors. Não à toa, a ambição da mineradora é triplicar a produção de cobre e praticamente dobrar a de níquel na próxima década.
Esses números estão em linha com a aceleração das vendas de veículos elétricos nos próximos anos, o que aumentará a demanda por níquel em 55% até 2030. Em relação ao cobre, a expectativa é que a demanda suba 18%.
Em sua apresentação, Eduardo Bartolomeo resumiu o que espera da Vale para os próximos anos. “Nunca estive tão otimista”, afirmou. Não há dúvida: o processo de transformação iniciado em 2019 tornou a Vale, de fato, uma empresa muito melhor.