Ao longo de seus 65 anos de história, a Valid se reinventou diversas vezes. Em 1957, quando chegou ao País, chamava-se Thomas de La Rue e seu objetivo era imprimir papel moeda.

Mas o governo brasileiro desistiu da ideia de contratar uma empresa privada e o projeto precisou ser revisto. Ágil, a Thomas de La Rue adaptou a operação para imprimir certificados de ações, talões de cheques e outros materiais que precisavam de impressão segura.

Em 1993, a razão social da Thomas de La Rue foi alterada para American Banknote Company (ou ABNote), período que coincidiu com a sua entrada no segmento de cartões de plástico e sistemas de identificação.

A empresa seria renomeada para Valid, em 2012, e focaria os negócios em diferentes soluções ligadas a impressão segura e na expansão internacional. Agora, a Valid vive uma nova fase de sua história. “Somos hoje uma provedora de tecnologia para operações complexas de alta volumetria e que lidam com dados sensíveis”, resume Ivan Murias, CEO da Valid.

Murias liderou um plano de reestruturação iniciado no segundo semestre de 2020 que resultou em mais uma mudança de rota. A ideia central da estratégia foi focar no “core” do negócio e não perder tempo com outras distrações. Assim, a companhia ancorou a sua atuação em três unidades de negócios.

A primeiro delas é a Valid ID, responsável por fazer a emissão de documentos físicos e digitais e todas as jornadas do cadastro biométrico. Em 2022, a Valid ID já emitiu mais de 24 milhões de documentos oficiais, como RGs e CNHs. Sua presença nessa área é marcante: muitos brasileiros não sabem, mas 60% dos RGs e 80% das CNHs em circulação no país receberam a tecnologia da empresa.

A divisão está prestes a trazer para o mercado brasileiro uma grande inovação. Em outubro, a Valid implementará nas salas de aula das escolas estaduais do Paraná o sistema de biometria facial para identificação de estudantes.

Depois, a ideia é levar o projeto para outras regiões do país. A tecnologia eliminará a necessidade de chamadas e tornará o ambiente escolar mais seguro, em um exemplo claro do que a empresa chama de TaaS (Trust as a Service).

Atualmente, a Valid ID responde por aproximadamente um terço das receitas da empresa e 40% do Ebitda, números que por si só traduzem a relevância da área.

A segunda frente de negócios foi chamada de Valid Pay, que engloba várias atividades. Entre elas, até a confecção de cheques – apesar dos avanços digitais, a Valid emite algo como 5 milhões de talões por ano.

“Somos hoje uma provedora de tecnologia para operações complexas de alta volumetria e que lidam com dados sensíveis”, resume Ivan Murias, CEO da Valid

O principal segmento da Valid Pay, contudo, é a fabricação de cartões. Todos os anos, a divisão emite cerca de 100 milhões de cartões de crédito. A área atua também no que é conhecido como “desmaterialização”.

“Quando você pede ao seu banco ou operadora de telecom para não receber mais boletos pelo correio, aquela fatura digital é gerada por nós”, diz Ilson Bressan, diretor de ID e Marketing da Valid.

O segmento é rico em produtos. Na Colômbia, a empresa desenvolveu o meio de pagamento que permite acessar o metrô de Medellín via aplicativo. É lá também que a Valid criou uma solução que permite aos clientes do Banco Davivienda, o segundo maior do país, movimentar suas contas pelo smartphone.

A exemplo da Valid ID, a Valid Pay gera um terço das receitas do grupo, mas sua rentabilidade é um pouco menor, respondendo por 25% do Ebitda.

O terceiro braço de negócios é a Valid Mobile, a operação mais global da empresa que atende as principais empresas de telecomunicações do planeta.

A cada dez celulares em uso no mundo, um deles possui alguma tecnologia desenvolvida pela Valid. No geral, a empresa é uma das cinco maiores produtoras de chip para celular do planeta – são distribuídos pela companhia mais de 320 milhões de SIM Cards por ano. A área tem clientes de peso como Telefónica, Deutsche Telekom, AT&T, America Movil e Vodafone, entre outros.

Assim como a Valid ID e a Valid Pay, a Valid Movile responde por um terço das receitas, com margem Ebitda de 35%.

A reestruturação iniciada há dois anos levou também à otimização de processos e redução de custos. A Valid desativou duas fábricas, uma no Rio de Janeiro e outra em São Bernardo do Campo (SP), para concentrar a operação na unidade de Sorocaba (SP).

A empresa ainda se desfez de suas participações em duas startups, uma do ramo financeiro e outra ligada ao agronegócio, que não faziam sentido dentro do “core” definido na nova arquitetura da organização. “Passamos a ser uma empresa muito mais eficiente ao definir três verticais claras de negócios e simplificar a operação”, diz o CEO Murias.

A restruturação também passou uma mudança cultural. A empresa criou squads de trabalho e eliminou barreiras hierárquicas. As equipes agora trabalham em um prédio do WeWork em São Paulo. “Não há sala para diretor e ninguém tem secretária exclusiva”, reforça Murias. “A comunicação ficou mais ágil e a empresa se tornou mais colaborativa.”

Nada disso faria sentido se os resultados financeiros não viessem. Nesse aspecto, a Valid tem números positivos para apresentar. No segundo trimestre, o Ebitda totalizou R$ 138 milhões, um crescimento de 88% em relação ao mesmo período de 2021. O número representou o quarto recorde consecutivo do indicador.

Além disso, a maior geração de caixa equilibrou as contas da empresa. No último trimestre de 2020, sua relação dívida/Ebitda era de 3,6 vezes. Agora, o número está em 1,2.

Novos negócios deverão surgir nos próximos anos. Em junho, a Valid criou o seu próprio corporate venture capital (CVC) para fisgar oportunidades no mercado. Chamado de Valid Ventures, o fundo planeja injetar até R$ 300 milhões nas áreas de governo, identificação e inteligência artificial.

A ideia é se aproximar de empresas inovadores e, mais tarde, trazê-las para dentro de casa. Como companhia em permanente reinvenção, é o primeiro passo para a Valid se reinventar mais uma vez.