O acelerado desenvolvimento imobiliário na China criou um problema para a economia local: sobram imóveis no país. Com a oferta maior do que a demanda, economistas projetam que a bolha imobiliária poderá gerar impactos duradouros.

Em entrevista concedida à CNBC, Hao Hong, economista-chefe do GROW Investment Group, afirma que haverá uma correção prolongada no setor imobiliário da China. Para ele, os efeitos podem durar mais de uma década.

Segundo Hong, o contexto atual é diferente das crises econômicas anteriores vividas pelo país, quando o mercado imobiliário mostrou reação após dois ou três trimestres. Agora, a previsão para uma recuperação é mais lenta por conta da combinação das dívidas acumuladas pelas empresas e a queda nas vendas.

No capítulo mais recente dessa crise, a Zhongzhi Enterprise, grupo de crédito para o setor imobiliário entrou com um pedido de falência nesta sexta-feira, 5 de janeiro. Em novembro de 2023, a gestora já havia alertado o mercado sobre os riscos de grave insolvência, alegando ter um passivo de US$ 31 bilhões.

Desde 2021, esse cenário vem  sendo reforçado por outros grandes nomes do segmento no mercado chinês. Entre eles, gigantes como a Evergrande e a Country Garden.

De acordo com dados oficiais, a venda de propriedades na China caiu 16,5% em 2023 ante o ano anterior. A expectativa de Hong é de que o país levará pelo menos dois anos para liquidar todo o estoque pendente do mercado imobiliário chinês.

Essa prazo pode ser ainda mais longo, dado que a projeção não considera os imóveis que ainda estão em construção e que somam 6 milhões de metros quadrados.

"Nesse ritmo, provavelmente levará mais de 10 anos para liquidar todas as moradias em construção”, diz Hong. “Portanto, no geral, estamos falando de vários anos em termos de correção.”

Os problemas do setor imobiliário afetam diretamente a economia do país. Somente o sistema bancário poderá ver uma queda de US$ 4 trilhões com os efeitos da queda nas vendas de imóveis.

Uma análise da Bloomberg Economics estima que o PIB da China deverá encolher 4 pontos percentuais até 2026. Caso isso aconteça, a expectativa é que 5 milhões de pessoas fiquem desempregadas.

A crise imobiliária no país da Grande Muralha afeta também outras mercados. Entre eles, o Brasil, um dos principais exportadores de minério de ferro para a China.

Em 2022, o Brasil vendeu US$ 18,2 bilhões em minério de ferro para a China. Isso é o equivalente a 63% de todo o seu volume de exportação da commodity.